segunda-feira, 17 de março de 2003

Primeira leitura
"Quando entrei na sala de jogo (pela primeira vez na vida), fiquei algum tempo sem me decidir a jogar. Havia uma multidão acotovelando-se. Mas, mesmo que estivesse sozinho, creio que teria saído imediatamente, em vez de começar a jogar. Confesso que o coração me batia forte e eu estava fora do meu natural; tinha certeza, e há muito o resolvera, de que não sairia de Roletemburgo tal como chegara; de que algo radical e decisivo aconteceria em meu destino. Assim tinha de ser, assim seria. Por mais ridículo que fosse o esperar eu tanto da roleta, mais ridícula ainda me parece a opinião de rotina, por todos aceita, segundo a qual é estúpido e absurdo esperar alguma coisa do jogo. Por que seria o jogo pior do que qualquer outro meio, como por exemplo o comércio? É certo que uma pessoa em cem sai ganhando. Mas... que me importa tudo isso?
Dostoievski - "O Jogador (do diário de um jovem)", em tradução de Moacir Werneck de Castro direto do russo. Bertrand Brasil, 4a. edição, 1998.