A idéia era dar um tempo no blog e só voltar quando tivesse boas notícias. Pois a pausa foi mais rápida do que pensei, fico feliz de voltar agora. Augusto e Nilza tiveram boa melhora hoje, se levarmos em conta o estado em que chegaram ao hospital. Ele continua em coma, mas já move as pernas e não está mais tomando medicamento pra controlar a pressão. O ultrassom constatou que não houve fratura de bacia nem lesões em outros órgãos além do pulmão. O sangramento na bexiga parou e a urina é normal. Hoje de manhã, quando a Ana falou com ele, os batimentos cardíacos se aceleraram. Os pulmões estão praticamente sem secreção e os drenos devem ser retirados amanhã. Agora é esperar que o organismo continue reagindo e ele saia do coma. O japonês é muito forte, tenho certeza que vai vencer essa, porque é daquelas pessoas raras que sabem o valor da vida.
Sonia, Neto e as crianças chegaram hoje de São Paulo - pegaram um avião até Cuiabá e um táxi pra cá. Nilza está numa enfermaria, consciente e em recuperação. Ainda sente dores do pós-operatório e tem movimentos limitados na cama - se alguma leitora já fez cesária, pode imaginar ligeiramente o que é uma cirurgia no intestino. Passa boa parte do tempo descansando, mas já troca umas palavras com a gente. Eu a visitei agora à tarde, junto com os outros dois genros, Luimar e Neto. Contamos umas piadas e ela achou graça com os olhos, disse que não podia rir. Laura e Ana estão se alternando como acompanhantes, sempre tem alguma delas por perto.
O negócio é o seguinte: viver um dia de cada vez. A gente só se dá conta disso em situações extremas. O dia de hoje está ganho. Essas pequenas vitórias vão consolidar as de amanhã e depois. Enquanto aguardamos e damos apoio a eles, vamos distraindo as crianças e nos distraindo pelas ruas e praças de Cáceres, pra levar energia boa a eles dois no hospital. Ontem Miguel brincou na cama elástica da praça do cais, Bruno ganhou uma bola inflável com um guizo dentro e jantamos iscas de jacaré (tem gosto de peixe e textura de galinha; não é ruim, mas nada especial). Hoje almoçamos pintado e pacu à brasileira no restaurante flutuante do rio Paraguai, apreciando a lindeza do Pantanal.
O clima em Cáceres é quente e bem úmido, lembra muito a minha infância em Manaus. Ontem passou o dia chovendo, mas sempre com intervalos de sol fortíssimo, que fazia secar toda a água. A gente tem a impressão que tá evaporando também. Hoje fez sol com nuvens - cúmulos enormes, flocudos, se amontoando no céu até o próximo pé d'água. O rio Paraguai tá começando e encher, dizem que fica lindo agora na estação das chuvas.
Prefiro não entrar em detalhes sobre o acidente agora, nem sobre o pesadelo que passei acompanhando a remoção deles em duas ambulâncias - uma quebrou no caminho - por 250 km até Cáceres. Digo só o seguinte: meu sogro é macaco velho de estrada há décadas; tem mais histórias pra contar de suas andanças amazônicas que as de todos os aventureiros que conheço. Eles dois estavam viajando por terra porque amam fazer isso. Quem ama o que faz às vezes paga o preço, pois não se pode evitar o que era pra ser. Mas nunca eles vão passar pela frustração de terem sonhado sem fazer.
Em nome da família, agradeço de coração as dezenas de telefonemas e mensagens de solidariedade que estão chegando de vários lugares do Brasil e de outros países. Um recado especial às sobrinhas Camila e Amanda, de Rondônia: enxuguem as lágrimas que agora é hora de ficar alegre com as pequenas conquistas de cada dia. Digam aos pequenos que o vô e a vó estão vencendo a batalha aqui. Se quiserem mandar algum recadinho, digam que eu transmito assim que puder. A vó já pode responder. O coração do vô certamente vai bater mais forte de novo. Daqui a pouco ele vai tar contando piadas pra gente. Beijos. Mais informações no próximo boletim.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Boas notícias de Cáceres
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