Augusto foi submetido nesta sexta-feira a uma traqueostomia para facilitar sua respiração e não prejudicar as cordas vocais. Continua assistido por um ventilador mecânico, mas esse pequeno procedimento cirúrgico - a abertura de um buraquinho na traquéia - lhe dá mais conforto. Ainda não há condições de prever quando vai ser o despertar. Estamos preparando o espírito pra uma espera que pode ser demorada e vai demandar da família o revezamento das atenções no hospital. É cedo para prever se houve sequelas e que tipo de reabilitação vai ser necessária. Tudo isso é lucro diante do estado em que ele chegou à emergência há duas semanas e meia.
Embora a angústia e a incerteza nos apertem o peito em vários momentos, temos apoiado uns aos outros pra manter o astral elevado. Cultivar tristeza não ajuda ninguém, muito menos meu sogro, homem espirituoso, de bem com a vida e que nunca perdeu tempo sentindo pena de si mesmo. O exemplo dele nos guia no enfrentamento desta crise. É preciso se fortalecer para ajudá-lo a ficar forte outra vez. Enquanto escrevo, leio aqui na mesa da casa dos cunhados Ana e Luimar uma frase desenhada num enfeite de margarida sorridente: Na nossa família somos todos loucos: uns pelos outros!
Vamos levando a vida com a leveza possível diante das circunstâncias - aquela serenidade que brota do prazer das pequenas coisas, como ver as crianças se divertindo, brincar com os animais, preparar uma boa comida e fazer piada com coisas do cotidiano. Essa serenidade surge também da descoberta de que é preciso aceitar o que não se pode mudar. Assim enfrentamos o tempo e driblamos o sofrimento, cada um à sua maneira - com um IPod, uma partida de sinuca, um livro, um vídeo, trabalhos manuais ou intelectuais, sonhos alvissareiros, correntes de oração... A mim, blogueiro de plantão e "testemunha ocular da história", coube informalmente fazer a crônica desses dias. A idéia é informar a família e os amigos e também fazer um registro pra que meu sogro, ao despertar, recupere mais rápido esses dias de coma.
Ontem foi feriado em Rondônia, aniversário de 26 anos de criação do estado. Levamos a criançada - ao todo nove primos, uma escadinha entre 15 anos e 1 ano e 9 meses - ao Cacoal Selva Park Hotel, ou "Sítio do Nério" para o pessoal daqui. É uma reserva privada do patrimônio natural. Lugar muito agradável com chalés, trilhas pela mata, piscinas de água corrente, lagos com pedalinhos e um incrível percurso de arvorismo. Entre pancadas de chuva equatorial e umas brechas de sol entre as nuvens, curtimos uma tarde bonita. Termino hoje com a lembrança de um cumprimento recorrente que o pessoal da família Tuyama e agregados têm com o marido-pai-sogro-avô-amigo:
- E então, seu Augusto? Tudo bem?
Ele abre aquele sorriso e responde, preparando a tainha pra assar no quintal:
- Nota sete. Que vida sacrificada essa aqui... :)
sábado, 5 de janeiro de 2008
Nota sete
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