Tutty Vasquez conta No Mínimo como foram as férias dele: Eu amo Santa Catarina
[via Coisas Bobas]
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003
Daqui a 25 anos
Perguntaram-me uma vez se eu saberia calcular o Brasil daqui a vinte e cinco anos. Nem daqui a vinte e cinco minutos, quanto mais vinte e cinco anos. Mas a impressão-desejo é a de que num futuro não muito remoto talvez compreendamos que os movimentos caóticos atuais já eram ao primeiros passos afinando-se e orquestrando-se para uma situação econômica mais digna de um homem, uma mulher, de uma criança. E isso porque o povo já tem dado mostras de ter maior maturidade política do que a grande maioria dos políticos, e é quem um dia terminará liderando os líderes. Daqui a vinte e cinco anos o povo terá falado muito mais.
Mas se não sei prever, posso pelo menos desejar. Posso intensamente desejar que o problema mais urgente se resolva: o da fome. Muitíssimo mais depressa, porém, do que em vinte e cinco anos, porque não há mais tempo de esperar: milhares de homens, mulheres e crianças são verdadeiros moribundos ambulantes que tecnicamente deviam estar internados em hospitais para subnutridos. Tal é a miséria, que se justificaria ser decretado estado de prontidão, como diante de calamidade pública. Só que é pior: a fome é nossa endemia, já está fazendo parte orgânica do corpo e da alma. E, na maioria das vezes, quando se descrevem as características físicas, morais e mentais de um brasileiro, não se nota que na verdade se estão descrevendo os sintomas físicos, morais e mentais da fome. Os líderes que tiverem como meta a solução econômica do problema da comida serão tão abençoados por nós como, em comparação, o mundo abençoará os que descobrirem a cura do câncer.
(Clarice Lispector, em 1967, no Jornal do Brasil)
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003
Carta do pai
Trecho de carta que recebi hoje do velho Camillo:
Gosto muito de viajar e espero exercer esse desejo, enquanto as forças físicas, mentais e econômicas assim o permitirem. No mais, continuarei em minhas grandes farras: receber aqui os filhos, netos, bisnetos, consangüíneos ou afins.
Papai tem 77 anos. Ele tá morando (eu ia escrever "mora", mas o gerúndio se aplica melhor a quem gosta tanto de estar em movimento) em Russas, no Vale do Jaguaribe, Ceará. Sou suspeito pra dizer, mas é uma das pessoas mais fascinantes que conheço. Generoso, humanista, com um aguçado senso de humor e um vasto repertório de histórias de vida, é daquelas figuras com quem você conversa por horas sem cansar. Ou até que ele se canse do papo, peça licença e vá dar um cochilo na rede.
Guerra e estatística
Do Verissimo, leitura indispensável:
A revista americana “Business Week” acaba de publicar uma entrevista com uma demógrafa que fez uma estimativa, a pedido do Departamento do Comércio americano, dos civis mortos na Guerra do Golfo de 91. Segundo ela, morreram 13 mil civis iraquianos durante a guerra e mais 70 mil dos efeitos da guerra na infra-estrutura do país, não incluindo as milhares de vítimas do boicote econômico que viria depois. Na época, Dick Cheney, então secretário de Defesa, dizia que era impossível avaliar o número de civis mortos. A demógrafa foi dispensada e o seu estudo desautorizado, apesar de ser apoiado pela Associação Americana de Estatística. Está no “Salon”, um bom saite para se medir o que vem por aí.
Tolerância
Um toque da Beth Costa, presidente da Fenaj: termina nesta sexta-feira, 28 de fevereiro, o prazo de inscrições para o Prêmio da FIJ - Federação Internacional dos Jornalistas, de Jornalismo para a Tolerância, com o apoio da União Européia, que vai premiar os melhores trabalhos jornalísticos que fomentem a tolerância, o combate ao racismo e a discriminação, divulgados em 2002, na imprensa escrita, rádio e TV. As comissões julgadoras estão divididas por regiões e os trabalhos da América Latina estão concentrados em Caracas, na Venezuela.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2003
Fonte de pesquisa
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) acaba de lançar um estudo sobre as desigualdades raciais no Brasil.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003
Criminalizando a rede
Quem conta - e protesta - é Cora Rónai em sua coluna no Globo: na última terça foi apresentado à Câmara dos Deputados o primeiro projeto de lei relativo à internet da nova legislatura. A deputada Iara Bernardi (PT-SP) pretende acabar com o anonimato na internet brasileira, obrigando provedores e hospedeiros a manter registros públicos com completa identificação de responsáveis por páginas e endereços eletrônicos, sob pena de multa. "Quer dizer: seremos todos culpados até prova em contrário, obrigados, todos, a ter nossas 'digitais' virtuais registradas junto às autoridades", diz Cora. "Se conseguisse realizar esta proeza — felizmente impossível ou, no mínimo, contornável — a deputada estaria realizando o sonho de todos os governos totalitários do planeta, dos EUA à China."
Assino embaixo contra esse projeto. Xô repressão!
domingo, 23 de fevereiro de 2003
TV trash
O Conselho de Acompanhamento da Mídia da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados divulgou um documento que relaciona os cinco programas televisivos considerados de mais baixo nível:
- Eu vi na TV (João Kleber - Rede TV)
- Programa do Ratinho (Carlos Massa - SBT)
- Sérgio Malandro (Sérgio Malandro - TV Gazeta)
- Domingão do Faustão (Fausto Silva - TV Globo) e
- Domingo Legal (Gugu Liberato SBT).
As razões para a escolha desses programas foram discriminação por opção sexual, banalização da violência, exploração da miséria humana, incentivos a conflitos pessoais e apelo sexual, entre outras. A divulgação do documento faz parte da campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”.
[via Hugo Manso]
Impressões de viagem (2)
Agradecimento especial 'a querida Méa, que foi uma anfitriã nota 100 em Salvador. Gostei especialmente de ter participado com ela da aula do doutorado em educação sobre técnica de etnopesquisa. Foi num terreiro de candomblé. Lá tive a oportunidade de acompanhar um debate de altíssimo nível e de conhecer mais de perto essa religião fascinante.
Impressões de viagem
De volta a Floripa depois de cinco dias em Salvador. Pela segunda vez, dei um curso de roteiro multimídia para uma turma de pós-graduação em design instrucional no Senai. O prof. Marco Silva, autor do livro Sala de Aula Interativa, dividiu a disciplina comigo. Foi uma experiência enriquecedora. Pena que o tempo disponível era tão curto, pois tínhamos assunto pra passar um semestre inteiro debatendo. A turma é maravilhosa: gente afetuosa, curiosa, interessada no tema, fazendo pontes freqüentes entre o que discutíamos e seus conhecimentos prévios. Aprendi bastante. E o melhor é que continuamos em contato via lista de discussão. Muito obrigado, galera! Foi um privilégio conhecer vocês.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003
Com a palavra o mestre García Márquez
"É preciso aprender a jogar fora. A gente conhece um grande escritor não tanto pelo que ele publica, mas pelo que joga no lixo. Os outros não ficam sabendo, mas o escritor sim: ele sabe o que joga fora, o que vai deixando de lado e o que vai aproveitando. Se o escritor se desfaz do que está escrevendo, está no bom caminho. Para escrever, o escritor tem de estar convencido de que é melhor que Cervantes; senão acaba sendo pior do que na verdade é. É preciso apontar para o alto e tentar chegar longe. E é preciso ter critério, e coragem, é claro, para riscar o que deve ser riscado e para ouvir opiniões e refletir seriamente sobre elas. Um passo a mais, e já estaremos em condição de pôr em dúvida e submeter à prova até mesmo aquelas coisas que nos parecem boas.
"E tem mais: mesmo que todo mundo ache que essas coisas são realmente boas, o escritor precisa ser capaz de colocá-las em dúvida. Não é fácil. A primeira reação que tenho, quando começo a suspeitar que devo rasgar uma página, é uma reação defensiva: 'Como é que vou rasgar isso, se é o que mais gosto?' Mas é preciso examinar bem e se a gente chegar à conclusão de que, realmente, não funciona dentro da história, está desajustando a estrutura, contradizendo o caráter do personagem, indo por outro caminho... bem, aí não tem jeito, é preciso rasgar mesmo. Isso dói na alma da gente... no primeiro dia. No dia seguinte, dói menos; dois dias depois, um pouco menos; três dias, menos ainda; e no quarto dia, a gente nem se lembra mais..."
(García Márquez, Gabriel. Como contar um conto. Niterói-RJ : Casa Jorge Editorial, 3a. edição, 1997. Págs. 23 e 24.)
domingo, 16 de fevereiro de 2003
sábado, 15 de fevereiro de 2003
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2003
Crescendo rápido
Hoje Miguel completa três meses. Já firma a cabeça, dá pequenas gargalhadas, tenta agarrar objetos, acompanha o movimento das folhas das árvores. Tá a cada dia mais lindo o nosso menino. Li aqui que, a partir desta idade, é legal ler pra ele. Ajuda a desenvolver a fala e o vocabulário.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2003
Comunicação e universidade
Belo texto da Raquel Wandelli sobre a maior cobertura multimídia do Fórum Social Mundial, feita por uma equipe de 40 alunos de jornalismo da Unisul de Palhoça (SC). Trabalhei sentado do lado deles algumas vezes na sala de imprensa e pude sentir a energia da galera, que muito me lembrou os tempos do Zero, jornal-laboratório da UFSC. Deram um banho! O resultado tá no jornal Fato & Versão.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003
Prazeres de verão
Finalmente um refresco no calor amazônico que tá fazendo aqui no Sul. Hoje de tarde, desci pra levar o lixo bem na hora em que começou a tempestade. Tomei um banho de chuva delicioso, como os da minha infância. Voltei pra casa pingando água no elevador, tomei um banho demorado e um mate gelado com limão. Depois fiquei na sacada, sentindo o cheiro de mato e terra molhada.
Meia palavra
Essa é do Sérgio Farias, do hilário Catarro Verde:
Schin é uma bos
O Fome Zero tem dois sites na internet: o do governo - www.fomezero.gov.br - e o das empresas envolvidas na causa - www.fomezero.org.br - organizado pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social. Ambos trazem detalhes das políticas e projetos do programa de combate à fome e à miséria.
domingo, 9 de fevereiro de 2003
Manhattan e Embratel pisam na bola
Semana passada, precisei exigir meus direitos de consumidor em duas situações diferentes. Primeiro foi no mercadinho Manhattan, aqui perto de casa. Os pêssegos e maçãs que comprei tavam com gosto de sabão. Reclamei, devolvi as frutas, pedi o dinheiro de volta e alertei o gerente pro risco que eles corriam - sem falar no risco de quem comesse as frutas. Ele pediu desculpas e disse que compra de dezenas de fornecedores. No mesmo dia, abri uma conta de telefone da Embratel e vi que havia a cobrança indevida de quase R$ 47 em "juros". Depois de várias ligações pro 0800 deles, finalmente consegui que me enviassem uma nova fatura, sem os juros. No fim das contas, o resultado foi positivo, mas fico pensando: e as pessoas que nunca reclamam? Comem sabão e pagam o que não devem.
Povos indígenas pedem respeito
Neste documento, divulgado no site da Revista do Terceiro Setor, diversos povos indígenas manifestam-se contra o desrespeito e as arbitrariedades que sofrem - como os assassinatos de índios que permanecem impunes, as invasões às suas terras e a educação escolar indígena nos estados e municípios, que muitas vezes não contempla a realidade de cada povo. Eles também apresentam propostas.
Filmes
Esta semana, finalmente vi O Escorpião de Jade, de Woody Allen. É uma deliciosa e engraçada aventura que se passa em 1940, centrada no conflito entre um investigador duma companhia de seguros e uma colega de trabalho. Diálogos afiadíssimos (algumas piadas se perdem na tradução) e um roteiro bem amarrado. Nota dez! Vi também Bellini e a Esfinge, uma história de detetive baseada no livro de Tony Belloto e dirigida por Roberto Santucci Filho. Tão ruim quanto o livro. Curioso é que foi escolhido o melhor filme pelo público no Festival de Cinema do Rio em 2001.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2003
Nueve reinas
O excelente filme argentino Nove Rainhas vai ser refilmado por Hollywood, com direção de Steven Soderbergh e participação do ator George Clooney. La película conta um dia na vida de dois trambiqueiros de Buenos Aires e teve o roteiro premiado. O resultado ficou tão bom que se mexer, estraga.
Intuição
Uma vez consegui alugar um apartamento na Trindade de uma maneira inusitada. Tava procurando o dia todo e nada. No fim da tarde, vi um velhinho sair da padaria com um saco de pão na mão e resolvi seguir o cara. Ele entrou num prédio, eu fui atrás. Caminhou até o último bloco e subiu quatro andares, eu subi. Entrou num ap e, quando a porta se fechou, eu toquei a campainha. Atendeu a mulher dele. Perguntei se ela sabia de algum ap pra alugar. Ela disse: "Que coincidência! Quero alugar o meu e ainda não anunciei em lugar nenhum. Entre!" Fechamos negócio.
domingo, 2 de fevereiro de 2003
Serra catarina
Ontem fomos conhecer Rancho Queimado e Angelina, cidadezinhas na serra, a menos de 100 km de Floripa. O caminho é pela BR-282, rodovia que leva a Lages. Subimos do nível do mar a 600 metros em pouco menos de uma hora e meia, apreciando a paisagem com calma. A estrada de acesso a Angelina é uma graça. Toda asfaltada, tem 13 quilômetros de curvas graciosas, com flores do campo em suas margens e um visual de morros, mata atlântica, riachos. Na volta, trouxemos mel de abelha, pão caseiro, geléia de morango e pamonha.
Pochete
Debate acalorado no blog do Zamorim sobre o uso da pochete. Uns acham brega. Ele acha elegante e prática. Também sou fã da pochete, especialmente quando tou viajando ou fotografando. Ok, reconheço que nem todas têm um design atraente, nem são indicadas pra certas ocasiões, mas em praticidade elas dão um banho. Acho que a evolução natural dessa peça é ganhar em ergonomia e aerodinâmica - se tornar mais ajustável ao corpo, tipo um "cinto de utilidades" cheio de bolsos, que não faça tanto volume. Alguém se propõe a desenhar protótipos?
Reminiscências de viagem
Quando eu tinha quatro anos, em 1970, escapei de um desastre de avião. Meus pais estavam se mudando de Recife pra Manaus com a família. Decidiram cancelar as reservas e viajar de navio, assim teriam mais tempo pra fazer festa com os amigos. O vôo da Paraense Transportes Aéreos caiu na Baía de Belém durante uma tempestade, pouco antes do pouso, matando 38 dos 40 passageiros e tripulantes. A viagem de navio foi ótima e tudo o que veio depois é lucro. Este incidente não me deixou qualquer trauma. Depois disso já voei milhares de quilômetros e dei a volta ao mundo de avião. Ficaram algumas lições, claro: aproveite o dia ("carpe diem"); e nunca perca uma oportunidade de fazer festa.
Inédito de Manoel de Barros
Dou importância às miudezas.
Sou um apanhador de desperdícios
que nem as boas moscas.
Extraído de "13 versos, frases ou que coisa", livrinho do Manoel de Barros feito para a Coleção 5 Minutinhos (eraOdito editOra, 2002)
sábado, 1 de fevereiro de 2003
Columbia
A tragédia de hoje com os sete tripulantes do ônibus espacial, entre tantas tragédias cotidianas deste mundo, me tocou demais. Quando eu era criança, sonhava em ser astronauta - ou bombeiro. Sempre que algum desses profissionais idealistas morre em serviço, é como se um pedaço de meus sonhos também partisse. Que voem em paz.
Cenas do FSM 2003
Tirei mais de 200 fotos do Fórum Social Mundial. Uma seleção delas está no site do Observatório Social, em duas galerias. Você pode acessá-las clicando no link no lado direito da página.