quinta-feira, 31 de julho de 2008

Rede banda larga é isso aí

DVeras em Rede não poderia deixar passar em branco o recorde mundial conquistado por valorosos cearenses no município de Maracanaú: construíram uma rede gigante com 30 metros de comprimento por 12,5m de largura, capaz de acomodar 300 pessoas. É tecnologia pra ménage-à-trois multiplicado por cem!

Miguelices: do pergaminho à invenção de Deus

A conversa era sobre pergaminho, que foi substituído pelo papel.

Ele: - Quem inventou o papel?
Eu: - Os chineses.
Ele: - E quem inventou os chineses?
Eu: - Os pais e mães deles.
Ele: - E quem inventou os pais e mães deles?
Eu: - Os avós deles.
Ele: - E quem inventou os avós deles?
Eu: - Deus.
Ele: - E quem inventou Deus?
Eu: - Os chineses?
Ele: - E quem...?

Censura

Com a chegada da campanha política, retornam as ações de censura à liberdade de expressão por parte do judiciário em primeira instância. Detalhes no blog De Olho na Capital.

Os epitáfios duram mais

Meu amigo Norberto Well, paranaense radicado em Joinville, está lançando hoje o primeiro livro de ficção: Os epitáfios duram mais, em que reúne contos e poemas escritos nos últimos vinte anos. O caderno Anexo, da Notícia, traz matéria hoje. Depois leio e comento.

4 carnaúbas


Carnaúbas e chaminé de olaria nos arredores de Russas, CE. Dia quente, céu de Buñuel.

Tenha modos ou...


A singela advertência tava dentro de um banheiro em um posto de gasolina perto de Mossoró, RN. Repare a cara sorridente do sacana. Pelo tempo que deve ter levado pra desenharem a figura, parece mais um incentivo. O que leva à pergunta visceral: que decepção pode surpreender alguém que caga no chão? Se distrair e pisar?

The bridge


Esta ponte, na rodovia CE-105, tem história. Ela foi construída anos antes da estrada e ficou parada um tempão como elefante branco. Depois fizeram a estrada, mas tiveram que ajustar o trajeto porque não encaixava na ponte...

Curitiba, 7 horas


Janela de ônibus ao amanhecer, a caminho de Floripa.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Erramos?

Da coluna Erramos da Folha de S. Paulo, 21 de dezembro de 1995:

“Na nota ‘Balão’, da coluna Joyce Pascowitch, publicada à pág. 5-2 (Ilustrada) de 18/12, onde se lê ‘bando Opportunity’, leia-se ‘banco Opportunity’;”

Reblogando: 16 de janeiro de 2004

De criança
Dia desses apartei uma briguinha boba de dois sobrinhos de cinco e sete anos.
- Agora apertem as mãos.
Mas eles, nada de se cumprimentarem. Ficaram olhando um pro outro com cara de brabos.
- Vamo lá, apertem as mãos!
- Já tamo apertando, tio.
Aí que percebi: eles tavam fazendo o que mandei, mas apertavam suas próprias mãos, os punhos fechados com força.
- É pra apertar as mãos um do outro!
- Ah, sim...

A relatividade do caro e do barato

A soberba é uma merda. Há poucos dias me gabei aqui de ter comprado no caminhão, direto do fornecedor, uma manta por R$ 40 quando nas lojas de artesanato de Natal custava R$ 55. Pois cheguei em Fortaleza e encontrei por R$ 18!

Ciclista na boca da noite 2

Russas, CE. Foto original colorida e desfocada. Sem o menor constrangimento usei o fotoxopi pra descartar a cor e dar ligeira granulação, o que cria um ar onírico e salva o clique. Hora mágica, em que os animais diurnos estão se recolhendo e os da noite ainda não saíram das tocas. Desde criança o fim de tarde me enche de melancolia. Até hoje tento capturar em imagens a síntese disso. Essa coisa do retorno pra casa, do filho que espera o pai e a mãe olhando o movimento da esquina. Da metáfora da morte, implícita no sol que se vai. Aí escurece e o sentimento se evapora diante da mesa de jantar ou de sinuca, o que seja. Até a imagem do próximo ocaso ser filtrada pelo olhar.

Brisa na praia p&b


Coqueiro em Pirangi, Natal. Fotos de praia em p&b, taí um experimento que quero levar adiante.

Carnaubal


Paisagem do sertão cearense. Dá vontade de morder essas nuvens.

Caatinga verde


No ônibus de Russas a Fortaleza. Auto-retrato.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Outra vez em Outubro

Uma foto que tirei na Guarda do Embaú ilustra o texto de hoje do Nei Duclós no blog Outubro. É a segunda vez que recebo a honraria. O homem escreve muito bem.

Vai-e-vem de livros

Na viagem, li Dias e noites de amor e de guerra, de Eduardo Galeano. Textos curtos com recordações agridoces dos tempos da ditadura no Uruguai, Argentina e Brasil. Estou lendo Contos de crime - clássicos escolhidos, uma coletânea organizada por Flávio Moreira da Costa. Entre os selecionados, contos de Machado de Assis, Maupassant, Poe, Dostoievski, O. Henry, Robert Louis Stevenson, Conan Doyle... Só filé.

O racha no Sindicato dos Jornalistas de SC (2)

Saiu novo manifesto com o outro lado. Em resumo, os integrantes da chapa 1 dizem que o processo eleitoral tem sido democrático e transparente. Convidam a categoria ao diálogo aberto e à união. A íntegra está no blog do César Valente.
~
Lamentável não haver uma chapa 2. Essas diferenças seriam resolvidas no voto, com a saudável alternância de poder se assim os eleitores decidissem.

Ciclista na boca da noite


O local desta foto, no centro de Russas, tem história. Imagine-se caminhando até o fim da rua e dobrando a esquina à direita. Bem ali defronte à igreja, neste mesmo horário, na década de 30 - meu pai era menino quando ocorreu o fato - um juiz de direito natural de Alagoas estava sentado na cadeira de balanço em frente à sua casa, esta que aparece à direita da imagem. Dois homens saltaram o muro dos fundos e avançaram por dentro da casa até a porta. Um deles passou um pano pelo pescoço do juiz, puxando-o para trás, e outro o matou com um punhal. Pouco depois, suspeitou-se de um sujeito que apareceu com o pé ferido - havia farpas afiadas de metal no muro que os assassinos saltaram. Quando a polícia o procurou, ele já havia desaparecido da cidade. Dizem que passou anos no Norte do país, até que o homicídio prescreveu e ele voltou. O crime nunca foi solucionado.

Mulher e menino


Minha cunhada Andréia e o filho dela, Arthur, em Russas

Passeio noturno


Meu pai na praça de Russas, Ceará.

O racha no Sindicato dos Jornalistas de SC

Fiquei de cara com o racha pré-eleitoral no Sindicato dos Jornalistas de SC, explicitado neste manifesto no blog do Rogério Christofoletti. Que o Sindicato está distante de parte significativa da base e defasado quanto a várias questões de nosso tempo, eu já sabia (digo isso com a tranqüilidade de sindicalizado há duas décadas e, portanto, com direito de dar pitaco). Mas não imaginava que a coisa chegasse ao que está descrito no documento.

A grande novidade desta eleição, marcada pra 6 de agosto, é que pela primeira vez em muitos anos a chapa única não resulta de consenso. Em resumo, os colegas insatisfeitos alertam que o processo eleitoral está sendo conduzido de forma autoritária e com interesses político-partidários, o que inviabilizou a construção de uma chapa que representasse a diversidade de pensamento dos profissionais (e já esgotou o prazo pra criação de uma chapa 2).

Prefiro não subscrever o manifesto porque estou afastado do dia-a-dia da entidade e não acompanhei o caso desde o início. Mas os nomes dos que assinam são gente de credibilidade. Ex-dirigentes sindicais com um histórico de lutas importantes pro fortalecimento da profissão, como Ayrton Kanitz, Celso Vicenzi, Francisco Karam, Gastão Cassel, Luis Fernando Assunção, Maria José Baldessar, Samuel Pantoja Lima, Valdir Cachoeira e outros.

Conheço alguns integrantes da chapa 1 e são gente boa. Mas se o povo todo que assinou o manifesto adverte pro risco da transformação do sindicato em braço de partido político, então fico com os dois pés atrás. Cá de minha rede no quintal, aguardo os desdobramentos, concordando com o que diz o Cesar Valente: eleição com chapa única é uma chatice. Ao que parece, é o que teremos no dia 6. Espero que a crise sirva pra sacudir os ânimos e recolocar o SJSC no papel que lhe cabe.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

De volta à Ilha

Depois de 12 dias zanzando entre São Paulo, Ceará e Rio Grande do Norte, hoje às 11h15 cruzei a ponte de acesso a Floripa e tive aquela gostosa sensação de voltar pra casa. É um privilégio ser ao mesmo tempo nordestino e me sentir catarina.

De sexta até hoje peguei dez transportes pra chegar: ônibus de Natal pra Mossoró > táxi alternativo pra Baraúna > mototáxi pra divisa RN/CE > carona de caminhão até Russas > ônibus pra Fortaleza > avião pra Guarulhos > ônibus pro Terminal Tietê, SP > ônibus pra Curitiba > ônibus pra Floripa > carro pra casa.

Ah, Norberto, arrumadinho é uma comida típica nordestina. Não confundir com escondidinho, outra comida típica de lá. Não faço idéia de como se prepara, mas os dois são bons. Podem ser de carne de sol, de camarão, de queijo...

Falando em comida, trouxe duas delícias: doce de buriti (uma palmeira do Maranhão, Piauí e Ceará) e geléia de cupuaçu, um néctar dos deuses. Em Natal procurei sequilho, mas só encontrei num lugar e não tava muito bom. É um biscoito branquinho, delicioso, tradicional do Vale do Seridó, no RN.

Adorei as mini-férias. Eu precisava ir, não só como um refresco pra cabeça, como pra lidar com algumas questões famíliares. Tive a chance de rever amigos com quem não tinha contato havia mais de vinte anos, saborear os sotaques de minha infância e adolescência, conhecer gente nova.

Dez dias são pouco pra descansar. Por outro lado, são uma eternidade pra quem tá longe dos amados. Cá estou. E nem dei pra vocês leitores as férias prometidas... Não tenho culpa se até o sertão já tá conectado.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

De ônibus, táxi alternativo, mototáxi e carona

Saí de Natal às 7 horas, debaixo de chuva fina. Foi só o ônibus pegar a estrada e ferrei no sono. Quatro horas depois, chegamos à rodoviária de Mossoró. Segunda cidade do Rio Grande do Norte e arqui-rival da capital potiguar (o que rende um monte de piadas entre os natalenses), a cidade é rica em petróleo e está perto do belo litoral norte do estado, embora fique no interior e tenha clima de sertão. Um dos marcos da história mossoroense é ter repelido à bala o bando de Lampião no tempo do cangaço. Sol de fritar ovo em calçada. Fui me informar sobre as opções de transporte até Russas passando pela nova estrada asfaltada que vai por Baraúna, o que poupa uns 80 km de percurso. Pesado como um jumento de carga - uma mochila nas costas, uma mochilinha de ataque na frente e uma bolsa de pano nos ombros -, andei até o trevo pra Baraúna.

Num boteco da beira da estrada, dois papudinhos mamavam suas doses diárias da branquinha. Me abriguei sob o puxadinho (compreendendo até o fundo da alma o dito popular que se fala aqui quando alguém se despede: "Vá pela sombra"). Um velho simpático com fratura exposta mal curada numa perna me informou que a última van do dia já tinha passado e deu a dica dos carros de aluguel. Então peguei um "táxi alternativo", a gás. Primeiro o lotação deixou duas "moças" no centro de Mossoró. Depois pegamos a estrada: no banco da frente, uma mulher com um bebê; atrás eu e uma senhora, todos sem cinto de segurança e ouvindo um CD de forró. Trinta quilômetros e cinco reais depois, eu estava no mercado público de Baraúna, cidadezinha modorrenta que nem parecia fazer jus à fama de terra de pistolagem. Não havia mais transporte pra Russas.

Depois de assuntar um pouco e tomar um suco de macarujá ultra-açucarado, paguei cinco pilas a um mototáxi pra me levar por 7 km até o posto fiscal na divisa entre Rio Grande do Norte e o Ceará, onde, segundo ele, as chances de uma carona eram maiores. Fomos ambos sem capacete - ele me explicou que a polícia local é altamente desconfiada com motoqueiros que não mostram o rosto. Perguntei sobre os episódios mais recentes de violência em sua simpática cidade. Ele disse que ultimamente estava tudo tranquilo. O último caso tinha ocorrido há três meses, quando a polícia matou quatro assaltantes que fugiam do Ceará num carro roubado. A emboscada fora armada a 200 metros do posto fiscal pra onde estávamos indo. Hmm, lugarzinho animado. Cabelos grisalhos ao vento, com a bagagem precariamente equilibrada na moto, seguimos pelo retão pelo meio da caatinga verde (sim, no tempo das chuvas a caatinga fica linda).

O posto fiscal, no meio do nada, tinha dois pequenos restaurantes ao lado. Num deles comi um prato feito de galinha frita e tomei uma skol gelada enquanto uma senhora e uma mulher se dividiam entre o atendimento à mesa - eu era o único cliente - e um programa de tevê em volume bem alto, em que um cara tentava bater o recorde de segurar motocicletas com cordas, duas motos de cada lado, acelerando pra valer. Moscas, mormaço. Dois gatos magros ficaram me rondando e miando até ganharem restos da galinha. Peguei as mochilas e fui pra beira da estrada pedir carona. Sol assassino, uns 38 graus. Minhas chances de caminhar 45 km com aquele peso e chegar ao destino sem desidratar eram remotas, pensei.

Com os lábios já meio ressecados, continuei estendendo o dedo por uns 20 minutos, até que um caminhoneiro que tinha estacionado pra carimbar os papéis no posto fiscal resolveu me levar. Ele ia no rumo noroeste pra depois pegar a BR-116 rumo sul. Falamos de filhos, lugares, fretes. Do asfalto fino e ruim daquela estrada. Contamos causos, ficamos em silêncio olhando a paisagem e as nuvens enormes em forma de flocos. Me disse que era separado e seus dois meninos moravam com a mãe no Rio de Janeiro. Tentou pegar frete pro Rio e assim visitá-los, mas só tinha pra São Paulo, pra onde estava indo. Contou sobre a pressão dos prazos: tinha vindo de São Paulo a Natal com uma carga de verduras e deram a ele 48 horas pra chegar. Fez em 46, sem dormir. Nos despedimos e desci em frente à pracinha de Russas. Na casa do meu pai, depois de muitos copos de água gelada e um banho gostoso pra tirar a poeira, caí na rede e apaguei por horas.

Tchau, Natal

Daqui a poucas horas encerro minhas mini-férias em Natal. Dias maravilhosos, que de antemão resolvei encarar sem grandes expectativas, e por isso foram tão bons. Não pude ver nem um décimo dos amigos que gostaria de ter encontrado - e os que encontrei foi rapidamente. Mesmo assim, valeu cada segundo. Ficou um forte gosto de quero-mais, com toda a família e tempo suficiente pra degustar essa cidade incrível com sossego. Zarpo pra Russas, interior do Ceará, onde fico mais um dia com meu pai; e depois pra Fortaleza, de onde pego um vôo pra São Paulo. Novo relato de viagem em data indeterminada.

Pérolas do passado

Nesta quinta, abri uma caixa de slides que meu irmão André guarda em sua biblioteca. São mais de 500 fotos de família, a maior parte do tempo em que vivemos no Amazonas - finalmente vou poder provar com imagens aquela minha história de que criamos um bicho-preguiça em casa. Há também muitos momentos cotidianos da minha infância e da dos irmãos: escola, casa, viagens de barco, festas juninas na nossa rua em Natal, Copa de 1982... Uma preciosidade, mergulho em cores na história familiar das últimas quatro décadas. Selecionei umas cem fotos pra primeira fase do esforço de digitalização.

À noite saí pra jantar com dois grandes amigos do tempo de colégio Marista, Henio e Jodrian. O tempo voou enquanto secávamos duas garrafas de vinho tinto e degustávamos pastéis de camarão com arrumadinho. Muitas lembranças comuns de fatos triviais e importantes, umas complementando as lacunas das outras. Em certo momento, Jodrian me surpreendeu com um envelope. Lá de dentro, tirou um conto datilografado por mim em 1981 ("O caso Ernesto") e dedicado a ele, com um agradecimento pelas sugestões de mudanças no enredo. Fiquei surpreso, eu não me lembrava mais de ter escrito aquilo. Pelas linhas que li rapidamente, na época eu estava influenciado por Allan Poe. Em breve vou publicar o conto aqui na íntegra.

Turismo, sexo e intercâmbios culturais

Na quarta-feira fui conferir os botecos descolados da "rua do Salsa", no conjunto Alagamar (em Ponta Negra), também conhecida como "rua das putas". Nunca tinha visto tanta garota de programa por metro quadrado. De nosso privilegiado posto de observação na mesa de plástico duma calçada de estacionamento (cerva mais barata), víamos os táxis parando pra desembarcar mulheres dos mais variados matizes: das vestidas de vadia, com maquiagem berrante e metade da bunda de fora, às discretas e elegantes, com ar recatado e fivelinha no cabelo. Música dançante e público variado: natalenses, turistas europeus, turistas brasileiros - pra cada perfil, um valor diferente na tabela informal.

No dia anterior, um amigo comentava como seria interessante se uma ong qualquer oferecesse cursos de gestão financeira pras putas. Muitas gastam até R$ 150 por dia com táxi. Se investissem esse dinheiro na compra de um carro em prestações, teriam condição de contratar um motorista pra levá-las pra cima e pra baixo. E ainda sobraria dinheiro pra poupar e ajudar a família. Algumas têm mais tino. A filha de uma ex-empregada nossa, por exemplo, virou garota de programa. Ultimamente passou a manter relação estável com um italiano (agosto é o mês deles aqui). Já viajou à Itália e está estudando o idioma pra se virar melhor por lá. Assim como ela, diversas garotas natalenses que trabalham na noite estão estudando italiano, inglês ou espanhol. Nem sempre o motivo é pecuniário. Também há casos de paixão mútua, choro em despedida e casamentos.

Nesses dias todos que passei em Natal, não percebi um único caso de exploração sexual de crianças e adolescentes. Não digo que não exista, mas o fato é que as campanhas de advertência em hotéis, bares e no aeroporto, somadas à repressão policial, ajudaram a pôr limite na esbórnia. No pico do movimento turístico de estrangeiros, com 20 e tantos vôos semanais vindos da Europa, ocorriam situações constrangedoras. Um homem não podia mais ir ao banheiro e deixar a namorada sozinha na mesa do bar, especialmente se ela tivesse pele escura. Um xopin center precisou tomar medidas duras contra os europeus que assediavam garotas adolescentes na fila do cinema e na praça de alimentação.

A pressão social, o encarecimento do turismo externo e as operações policiais contra quadrilhas estrangeiras que lavavam dinheiro contribuíram pra limitar o turismo sexual a espaços tolerados pela comunidade. Houve também alguns efeitos positivos nesse intercâmbio cultural com os europeus, observou meu amigo durante o passeio pelo calçadão de Ponta Negra. A sociedade natalense largou muitos hábitos conservadores, como o preconceito contra homossexuais. Hoje, dois homens se beijando dentro de um ônibus são encarados com naturalidade pelos natalenses, o que não ocorria até há pouco tempo. Em certo sentido, é o que ocorreu quando as tropas americanas se instalaram aqui durante a segunda guerra: Natal foi uma das primeiras cidades brasileiras onde as mulheres passaram a mascar chicletes, fumar e usar calças compridas.

Uma conclusão inevitável: a profissionalização e a globalização do turismo deveriam ser acompanhadas pelo reconhecimento dos direitos dos profissionais do sexo. Medidas como a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, os programas de apoio socioeducativo, o combate rigoroso à exploração infanto-juvenil, ao lenocínio e à violência contra as mulheres precisam se tornar rotina no planejamento de qualquer cidade turística que leve a atividade a sério. É a atitude mais inteligente a ser tomada pelos gestores de políticas públicas, já que combater a prostituição é como querer agarrar a chuva com os dedos.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Natal em Natal

Laura me conta que teve uma discussão com Miguel:

- Ele disse que em Natal é Natal todo dia. Que o Natal tá acontecendo em Natal. Aí eu falei que a cidade se chama Natal porque foi fundada no dia de Natal. Ele disse que não. É porque todo dia é Natal. Ficou bravo!

Paris, Natal

Terça à noite saí com quatro amigos dos tempos do jornalismo da URFN: André Alves, Luís Benício, Geider e Solino. Tomamos cerveja de trigo e comemos arrumadinho num bar de Petrópolis, perto da Cultura Inglesa, meu primeiro emprego. Muito legal rever essa turma.

Benício foi com a mulher, Joelma. Ele trabalha no TRT e edita um programa de gastronomia na tevê. O casal tem dois filhos. O mais velho, de 19, mora em Floripa e estuda na UFSC. Isso quer dizer que vamos nos encontrar mais vezes. Fazia mais de dez anos que a gente não se via.

André, poeta e contista de humor peculiar, também é funcionário público. Contou histórias engraçadas sobre o nepotismo e a vagabundagem nas repartições. Desde que saí de Natal a gente tem mantido contato esporádico por correio e e-mail. Foi com a mulher e a sogra (acho).

Geider viveu anos na França, casou com uma francesa e separou, tem dois filhos e mora num sítio na zona sul de Natal. Ele é editor e apresentador do telejornal do almoço na TV Cabugi, afiliada da Globo. Combinamos de um dia desses invadir seu sítio pra fazer festa.

Solino era da chapa de oposição do C.A. quando fazíamos política estudantil. Mas sempre tivemos um relacionamento civilizado, lembra. Chargista talentoso, largou o traço pra se dedicar à publicidade. Ah, o homem estuda japonês e tem dois blogs.

Falamos de muita gente, do rumo que tomaram nossas vidas ali e cá, de carecas e cabelos grisalhos, de ex-professores, de academia e mercado, dos espigões à beira-mar e o dilema natalense "desenvolvimento sustentável versus especulação", semelhante ao de Floripa...

Eles lembraram de um pacto que tínhamos combinado na faculdade em 84, de nos encontrarmos no ano 2000 ao pé da torre Eiffel em Paris (eu já tinha esquecido essa, mas não importa o lugar, sempre é tempo de se encontrar). Noite agradável embalada pela brisa. Preciso vir mais a Natal.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O coco nosso de cada dia (2)

Manta no xopin de artesanato: 55 reais. Manta negociada direto com o fornecedor que traz a mercadoria de Pernambuco: 40 reais. Sobram 15 pra tomar de água de coco. Do ambulante na praia.

O coco nosso de cada dia

Água de coco de vendedor ambulante na praia: cinquenta centavos. No quiosque: dois reais. Descobrir isso depois de tomar água de coco no quiosque tem preço sim: três cocos não tomados.

O aprendiz de criminoso

Aconteceu faz anos, num tempo em que até a criminalidade era mais ingênua. Conheci o personagem, mas nomes, lugares e datas não importam. No início o negócio parecia bom. Venda de comida congelada no varejo. Começou a ganhar dinheiro e o olho cresceu. Pegou empréstimo em banco, investiu pesado, ampliou o estoque. Mas logo passou a sofrer com a concorrência numerosa e hábil. Quebrou. Endividado, teve a idéia de aplicar sozinho um golpe que viria a ser conhecido como o seqüestro mais burro da crônica policial do estado.

A primeira etapa correu bem. Arrumou uma arma, rendeu um ricaço local e o levou para o cativeiro numa casa dos arredores. A partir daí as trapalhadas se sucederam. Ele escrevia bilhetes de próprio punho nas negociações. Ligava para a família do refém sempre do mesmo telefone público e ficava um tempão conversando - era um sujeito vaidoso e loquaz, não gostava que o interrompessem quando estava falando. Detalhe: o orelhão ficava pertinho do lugar do cativeiro. E mais: estacionou o carro do sequestrado no pátio da frente da casa, com a placa visível a quem passasse pela rua e desse uma olhada pelo portão gradeado.

Chegou o momento decisivo, o pagamento do resgate. Por comodidade, combinou um lugar prático para a entrega do dinheiro: um latão de lixo na calçada da casa da mãe dele. O resultado foi previsível. A polícia o pegou em flagrante. Preso, teve a sorte de não ir direto para a penitenciária, que estava lotada até a tampa. Ficou aguardando julgamento numa casa de detenção provisória, até que um dia conseguiu fugir pela porta da frente - possivelmente depois de generosa doação de sua família aos carcereiros, pois é improvável que um plano de fuga de sua lavra tivesse qualquer chance de êxito.

Livre, num raro lampejo de inteligência, intuiu que sua carreira criminosa não teria futuro. Zarpou para o exterior, onde vive até hoje, casado e com filhos. Se colocar de novo os pés no Brasil, imagino que será condenado a ver filmes policiais e ler romances de Agatha Christie por dez anos até deixar de ser burro. Woody Allen adoraria filmar a vida desse cara.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Aventura indoors em Natal

Acabo de escapar de uma armadilha no apê do meu irmão. Eu tinha entrado na área de serviço pra lavar roupa quando o vento bateu a porta, que não tem trinco por dentro. Fiquei 40 minutos trancado junto com a cachorrinha salsicha deles. Ninguém em casa, celular inacessível, não havia como chamar ajuda. Tive que arrombar a janela basculante do banheiro da sala que dá pra área, usando um pedaço de madeira como alavanca. Depois sustentei aberta a armação de alumínio com um pequeno quadro negro, subi num cercadinho de criança apoiado por vassouras (o quarto de brinquedos foi bem útil), consegui enfiar uma perna e fui descendo devagar, de costas, até passar o corpo todo. Fora alguns arranhões na armação da janela, saí intacto. Agradeço às aulas de yoga (preciso voltar) e ao seriado McGyver pela minha fuga perfeita.

Gallo no Cerrado


A partir de hoje, a amiga fotógrafa Cristina Gallo publica a série de fotos Cerrado, com flores do Planalto Central. Três novas imagens por dia ao longo da semana.

Encontro feliz no calçadão de Ponta Negra

Dia feliz! Eu caminhava com Flávio e João Augusto pelo calçadão de Ponta Negra. De repente ela se materializou na minha frente com um sorriso lindo. Nem sabia que eu estava em Natal e a procurava, com pouca esperança de encontrar seu rastro. Foi uma emoção forte, depois de tanto tempo sem contato - a última vez que falamos tinha sido há um ano e nove meses, por telefone, uma conversa áspera e triste. Pedi pra meus amigos continuarem a caminhada. Descemos pra areia, tomamos água de coco e botamos as pendências em dia - assuntos complicados de família que não interessam aos leitores. Minha irmã me pareceu bem. Mais amadurecida e confiante. Liberta. Combinamos de amanhã ou depois nos encontrarmos de novo, ela vai levar os três meninos à praia. Segui a caminhada com meus amigos, me sentindo leve. Pensando em como é inútil julgar os outros ou pretender que se pode viver a vida pelos outros. Pensando nas voltas que a vida dá pra que as pessoas encontrem seu lugar no mundo.

p.s.: Hoje fiz as pazes com o calçadão de Ponta Negra :)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Amigos

Tou há 35 horas em Natal e três amigos já me convidaram pra caminhar no calçadão da praia de Ponta Negra. Ok, adoro caminhar, mas não deixa de ser engraçada essa preocupação dos quarentões com a saúde: nos velhos tempos, me chamavam era pra tomar cana :)

Pensando bem, a gente suava. Dançando forró (no meu caso, tentando, pelo menos), correndo pra pegar ônibus, fazendo trilhas pra chegar em praias desertas e acampar... As histórias de empurrar carro quebrado dariam um capítulo inteiro da minha fase natalense.

Ontem andei no calçadão com Flávio, amigo-irmão, um dos caras mais zenerosos e desapegados que conheço. Tomamos açaí e falamos de tudo um pouco. Nem parecia que nosso último encontro tinha sido há cinco anos. Com Marcello, no domingo à noite, o mesmo.

Voltar a Natal é um reencontro com minha juventude, com tempos risonhos em que a gente se sentia imortal, em que as amizades eram absolutamente desinteressadas. Tanto é que alguns amigos daquele tempo são os grandes Amigos com letra maiúscula.

A gente olha uns pros outros, se sacaneia ("E aí, gordo? Fala, careca!" "Digaí, tiozinho!"), comenta do colesterol e triglicerídeos, se congratula por sobreviver. E pela alegria do reencontro, sem a ilusão de que vai ser a mesma coisa. Tudo muda o tempo todo.

Hoje mais um queridão, João Augusto, passa aqui. Ontem ao telefone foi engraçado, ele me confundiu com outra pessoa e queria me vender mel. Depois me ligou de volta e rimos. João tá criando abelha no sítio dele, o CDB (Cu de Burro).

Esses são da turma do bairro. Compas de festas e velórios, viagens e carnavais. Os três cruzaram o Brasil pra me visitar em Floripa. Nos próximos dias vou encontrar a turma da escola e da universidade. Alguns não vejo há 23 anos. Mas vamos dar um tempo de calçadão, tá?

8 coisas para se fazer antes de bater com as 10

Rogério Christofoletti me convidou pra este meme. Vou descumprir as instruções 2 e 4 por pura pirraça, mas se você também quiser fazer sua lista, não espere convite, vá em frente. Aliás, estou fazendo uma relação de fôlego, com 100 coisas... Essas 8 são parte do listão, escolhidas de forma semi-aleatória.

As regras:

  1. Escrever uma lista com 8 coisas que sonhamos fazer antes de morrer;
  2. Convidar 8 parceiros(as) de blogs amigos para responder também;
  3. Comentar no blog de quem nos convidou;
  4. Comentar no blog dos nossos(as) convidados(as), para que saibam da “intimação”;
  5. Mencionar as regras.

Minha lista:

  1. Caminhar na praia com meus bisnetos.
  2. Ter uma casa numa árvore do quintal, cheia de livros, jogos e brinquedos.
  3. Passar um tempo zanzando de barco pela Amazônia.
  4. Dirigir num país de mão inglesa - e me sentir um canhoto normal.
  5. Tirar um ano de folga pra visitar os amigos pelo mundo.
  6. Passar longas temporadas pelado ou descalço.
  7. Experimentar ayahuasca.
  8. Aos 97 anos, me oferecer como voluntário pras pesquisas com o implante cerebral de viagra.

De futebol e modos de falar

Quem não conhece a região Nordeste muitas vezes pensa que o sotaque daqui é uniforme (algumas imitações em novelas são até constrangedoras de tão caricatas). É engano tão grande quanto achar que os catarinenses do litoral falam como os da serra, do oeste ou como os gaúchos de Porto Alegre. Muda a entonação, mudam as palavras e o ritmo. Meu irmão André cita um exemplo de futebol:
Atrito em campo numa pelada no CE: - Fi duma égua, baitola!
Numa pelada no RN: - Vou te rear, seu galado, fi de rapariga!

Crônicas natalenses: Ponta Negra

Em Natal desde domingo à tarde. Emoções contraditórias ao rever, depois de cinco anos de ausência e 23 anos de mudança, a cidade onde passei a adolescência. Estou no apê do meu irmão André, perto da praia de Ponta Negra. Nesse lugar tive alegrias imensas e algumas tristezas gigantes. Minha mãe está enterrada no pequeno cemitério da vila. Lembranças agridoces me acompanham a cada passo.

Ontem dei uma longa caminhada pelo calçadão até quase o morro do Careca. Desapareceram aquelas barracas charmosas e anti-higiênicas da beira-mar. Agora há uma fieira de restaurantes, bares, pousadas, casas noturnas, imobiliárias anunciando terrenos em inglês e espanhol, carros da "tourist police" circulando devagar, gringos caçando putas. A parte baixa de Ponta Negra anda decadente, me conta mais tarde o amigo Marcello, entre um uísque e outro. Os natalenses não vão mais lá, preferem outros points. Há uma rua no conjunto Alagamar que hoje concentra os botecos legais.

A antiga Bodega da Praça, na Vila, onde tomávamos cachaça com laranja ao som de violão, hoje é um mercadinho. A casa do saudoso centro cultural Babilônia, onde viveram meus amigos Ayres e Gigliola - hoje na Itália - está abandonada e depredada (passei momentos muito bons ali, a cena me impactou). A Vila dos pescadores, que já foi bucólico refúgio de bichos-grilos, viveu um período de violência ligada ao tráfico. Hoje, pelo que relata a cunhada Andréia, está mais tranquila - os bandidos foram se matando uns aos outros e os estrangeiros continuam comprando terrenos num dos lugares mais bonitos de Natal. Enfim, tudo mudando o tempo todo, como manda a lei da vida.

Em duas décadas a ingenuidade provinciana deu lugar ao turismo internacional, ultra-profissional ("faça sua reserva e entregamos sua encomenda no hotel", anuncia cartaz na loja de cachaças finas). Já foi bem maior o movimento. O turismo estrangeiro em Natal caiu 75% por causa do real forte, diz um jornal local. No alto de Ponta Negra, prédios de vinte e tantos andares rasgam a paisagem. Dezenas de pousadas, hotéis, locadoras de carros. Um xopin com sete cinemas. Um xopin só com "artesanato potiguar" - boa parte trazida do Ceará, que eu sei. Pra onde vai toda essa merda de tanta gente? Pelo que me contaram, há uma estação de tratamento de esgoto no bairro, mas em dias de chuva forte, a bostarada toda escoa pro mar.

Ah, o mar de Ponta Negra... Continua lindo, verde claro em dias de sol, cor de esmeralda em dias nublados de "inverno" como ontem. A brisa que sopra do oceano continua presente, deliciosa, perene. Os barquinhos de pesca continuam ali, ancorados perto da enorme duna de areia, cartão postal que resiste ao tempo. Já são mais de 10h30 e o dia está claro desde as cinco da manhã. Vou andar mais por aí.

Drops cearenses 2

Sábado: banho no rio Jaguaribe, perenizado pelo açude Castanhão. Tava rasinho rasinho no lugar onde fomos. Ficamos tomando cerveja no meio do rio enquanto a criançada chapinhava na água. Depois, tilápia frita e cozida, galinha, arroz e feijão. Todo ano, quando chove muito, o rio enche e destrói os restaurantes da margem, que depois são reconstruídos. E o ciclo recomeça.
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Sentar em cadeiras na calçada quando cai a noite é hábito tradicional dos cearenses. Mesmo em Fortaleza, em muitos bairros de periferia as pessoas ainda mantêm o costume. No interior, mais ainda. No balançar das cadeiras feitas com fios de plástico trançado, as conversas fluem sem pressa, arejadas pelo vento Aracati. Esse vento soprado do mar é uma coisa inusitada, ele tem hora pra chegar em Russas: vem a partir das três da tarde pra aliviar o calorão do semi-árido.
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Dezoito de julho, meu pai completando 83 anos. Na cadeira da calçada, ele recorda um episódio de sua juventude, quando não havia a praça de Russas (praça lindinha na frente da igreja, ponto de encontro de famílias com crianças, casais de namorados, paqueras; em torno dela há lanchonetes com mesas ao ar livre, quiosques e duas lan houses).

- No lugar onde hoje é a praça havia um casarão da bailes. Um dia cheguei atrasado, a festa já tinha terminado. Os amigos se reuniram, mandaram chamar o sanfoneiro e a festa recomeçou - lembra o velho Camillo, voltando mais de meio século no tempo.
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Nossa família tem figuras singulares. Meus primos gêmeos Cosme e Damião, por exemplo. Idênticos. Vivem em São Paulo há anos e sempre visitam o Ceará. Na festa de 80 anos do meu pai, há três anos, Damião, ou melhor, Cosme passou a noite inteira dançando de tudo, de forró a rock. Vitalidade enorme pra um sexagenário. Eles têm mania de dar presente. Um dia o Cosme, ou seria o Damião?, recebeu a visita do meu irmão em São Paulo. Olhou em torno pra ver o que daria, aí foi lá dentro e trouxe um facão pra presentear. Outro dia o Damião (ou Cosme?) estava com outro irmão meu e fez questão de lhe dar uma camisa sua. Abriu a mala e o fez provar várias até achar uma que servisse.
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Outro primo nasceu com duas vocações: fazer dinheiro rápido no comércio de carros e motos, perdendo mais rápido ainda; e espalhar sua carga genética pelo mundo. Festeiro, dono de coração generoso, ele tem três dezenas de filhos. Seu charme com as mulheres é um mistério incompreensível. Namorador contumaz, ele tem duas mulheres fixas, que aceitam a situação numa boa. Elas até já moraram e viajaram juntas. O problema é que agora surgiu uma terceira companheira e elas não estão muito dispostas a aceitar a situação. Fico curioso pra saber como essa história vai se encaminhar. Na santa paz, imagino.
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Os primos rendem muitas histórias. Há outro ainda que tem pavor de andar de avião. Como mora no extremo oeste do país, só se locomove pra visitar o Ceará em viagens de ônibus ou caminhão. Mas tem o hábito de telefonar pras pessoas da família inesperadamente: - Primo! Tudo bem? Saudade. Amanhã eu chego aí. - A gente espera, espera e ele não vem. Acho que desiste no portão de embarque.
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Fotografei muitas carnaúbas, essas palmeiras lindas que são a cara do interior do Ceará. A carnaúba é uma árvore fantástica, que na primeira metade do século passado teve grande valor econômico. Dela se aproveita tudo: o tronco pra construção civil (há casas centenárias com o madeiramento feito de canaúba), a cera (que era usada pra fabricar discos, antes que passassem a usar o vinil), as palhas pra artesanato... Na estrada entre Fortaleza e Russas, num trecho da margem esquerda, há um carnaubal que foi plantado pelo meu avô João Camillo, pai do meu pai. Na época ele levava mais de um dia pra ir até a capital, a cavalo. Hoje a viagem é feita em duas horas e meia, boa parte em estrada duplicada.

sábado, 19 de julho de 2008

Drops cearenses

Depois de um pit stop pra rever os amigos em São Paulo, estou no Ceará há dois dias. Em Russas, no Vale do Jaguaribe, onde mora meu pai. Durmo numa rede no alpendre e acordo cedo com o galo cantando. Tempo de rever os irmãos e sobrinhos, conhecer sobrinhos novos, comer tapioca, tomar suco de cajá, passear na pracinha à noite, reencontrar o sotaque e o finíssimo humor cearense.
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Fiquei algumas horas em Fortaleza. A cidade onde passei tantas férias da minha infância na casa dos avós maternos é hoje uma metrópole inchada, com uma pequena parte lindíssima pra receber os turistas e o restante, um amontoado de favelas. Uma das mais visíveis formas de transferência de renda entre as duas partes é prostituição focada no turismo. Me chamou a atenção a quantidade de casas e prédios protegidos por cercas eletrificadas. Mas claro que também tem muita coisa boa.
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Conheci uma creche pública mantida pelo município, onde trabalha minha cunhada Aline. Limpa, organizada, gerida por professoras que sabem o que fazem. As crianças se alimentam bem, fazem atividades lúdicas, dormem depois do almoço ouvindo música instrumental, tomam dois banhos por dia, enfim, são tratadas com amor e respeito. Há dezenas delas na cidade - não recordo o número agora, acho que 70. Segundo meu irmão Camillo, a prefeita Luizianne fez pouco asfalto, mas investiu pesado em obras sociais como as creches e 15 mil moradias populares.
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Falar em Fortaleza, acabo de ver mais uma grande charge do Frank, contando do rapaz cearense que tentou furtar o cordão do ministro do Supremo, Gilmar Mendes, e continua na cadeia apesar de seu réu primário. É de lascar.
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Hoje vamos almoçar peixe num lugar chamado Ilhota, na margem do rio Jaguaribe.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Leitores amados, leitoras queridas,

Pausa de dez dias pra mergulhar nas origens nordestinas. Jornada de reencontrar pai, irmãos, primos de infância, amigos de adolescência. Até mais. Fiquem bem. Paz e amor, alegria e prosperidade, água, vinho, sol e música. Até a volta. Ou em flashes extraordinários do Ceará e Rio Grande do Norte. Fui.

Cinzamarrom

Um blog lindo de uma amiga querida, Clarissa.

domingo, 13 de julho de 2008

Palavra Cantada encerra mostra de cinema

E hoje chega ao fim a 7a. Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Foram 17 dias intensos, 106 filmes exibidos para 25 mil crianças, pré-estréias nacionais, debates instigantes, muita pipoca e emoção. Fiz a assessoria de comunicação junto com as amigas e colegas Kátia Klock, Adriane Canan e Cleide de Oliveira, com apoio do Vinicius Muniz no making of. Foi cansativo, mas um privilégio e um grande aprendizado. Tivemos ampla cobertura da mídia e foi nítido o salto de qualidade da Mostra, que acompanho há alguns anos como pai-espectador. É uma alegria imensa ver que o trabalho da Luiza Lins, mãe do evento, ganhou dimensão tão importante pra cultura local e nacional. A onda de beleza gerada em Floripa vai chegar até a Suécia, que em março de 2009 recebe, no Festival de Financiamento de Malmö, um projeto de filme brasileiro selecionado aqui.

Vou guardar muitas lembranças boas desses dias. Do Centro Integrado de Cultura ao Hotel Majestic, de Palhoça aos bairros de periferia, a Mostra irradiou magia pra muitos meninos e meninas que tiveram o primeiro contato com o cinema. Vi lágrimas no rosto de professoras e a alegria com que o pessoal da produção trabalhou pra que o evento tivesse a melhor qualidade possível. Acompanhei a pintura da tela gigante "Eu no mundo" pelas crianças da comunidade Chico Mendes, na oficina Palavra Pintada. A maneira bonita como elas foram desarmando suas couraças em meio a atividades de massagem, dança e canto. O sorriso orgulhoso da meninada que fez a oficina de dublagem ao ver exibido o seu trabalho pro público. O insight dos participantes da oficina de flipbook ao se darem conta, nos bloquinhos de papel, de como funciona a ilusão de ótica do cinema. É um evento em que os sonhos e esperanças ganham posição de destaque. Uma delas, a de que as crianças brasileiras possam ver cada vez mais sua própria cultura nas telas de cinema e tevê. "É uma questão de segurança nacional", disse alguém num dos debates. A gente chega lá.

Três momentos especialmente marcantes pra mim: o comentário da querida amiga Gilka Girardello, professora da UFSC, de que só vamos perceber todo o alcance da Mostra daqui a vinte anos, quando essa platéia de crianças e adolescentes estiver adulta, produzindo e criando; Alemberg Quindins, da Fundação Casa Grande, com seu sotaque cearense que me é tão familiar, lembrando que a infância é um estado de espírito e que ele, aos 42 anos, tem um quarto de brinquedos e almoça e janta pra esperar a sobremesa; e os olhos azuis brilhantes da Heleninha Gassen, atriz do curta Leste do Sol, Oeste da Lua (de Patrícia Monegatto Lopes), ao me contar que tem vontade de trabalhar em cinema ou televisão quando crescer. Foram dias bem felizes e encantados. A Mostra encerra hoje com o anúncio do melhor filme escolhido por júri infantil e com duas apresentações do novo espetáculo do grupo Palavra Cantada, com nome bem adequado a esta celebração da diversidade cultural: Carnaval.

Fotos: Cleide de Oliveira

p.s.: O filme vencedor da Mostra foi O mistério do cachorrinho perdido, do diretor paulista Flávio Colombini.

p.s.2: Galeria de fotos do show do Palavra Cantada (por Cleide de Oliveira).

O lixo interior

Paulo Coelho não faz meu gênero de leitura, mas esbarrei hoje em um pequeno texto do blog dele, gostei muito e recomendo. Ela escreve sobre a importância de se livrar do lixo emocional, de se desapegar de sentimentos antigos que já nos ajudaram a amadurecer e hoje já não servem mais pra nada. Palavras sábias. As paixões e dores do passado tiveram sua função e devem ficar pra trás, pra que abram espaço ao que é hoje e ao que virá.

Arre égua, que Google Maps que nada

Anacris conta sua pequena aventura de se perder no trânsito de São Paulo, em que as orientações de porteiros nordestinos foram mais úteis que o Google Maps. Em nome dos nordestinos, agradeço os elogios ;)

sábado, 12 de julho de 2008

Boataria x Informação

De Olho na Capital reproduz a íntegra do editorial publicado hoje no Diarinho pela diretora de redação, Samara Toth Vieira, sobre a fracassada tentativa de apreender a edição que trazia reportagem-denúncia contra o prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni. O prefeito está sendo investigado pela Procuradoria da República por supostas irregularidades que favoreceriam aliados em concurso público para o porto do município.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Quem deve, teme

Pra entender melhor o caso Dantas, vale ler Mino Carta, na Carta Capital:

... Não causa surpresa, pelo contrário, a reação imediata do império midiático, porta-voz dos graúdos do Brasil, dos senhores, dos barões. Está claro o empenho em conter a situação dentro dos limites do passado próximo e do presente, como se a origem da investigação remontasse apenas e tão-somente ao chamado mensalão. No entanto, é do conhecimento até do mundo mineral que o fio da meada está no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, na infame marmelada das privatizações, quando o Opportunity se tornou o banco do tucanato, depois de ter prestado inestimáveis serviços ao PFL. ...

O país da piada pronta

Boataria sobre o Diarinho

César Valente, no De Olho na Capital, conta sobre o ataque da "central de boatos" contra o Diário do Litoral, de Itajaí, como reação à notícia publicada hoje sobre o prefeito Volnei Morastoni. Estão falando da apreensão do jornal e da prisão da diretora do jornal por crime eleitoral:

Boataria braba, provavelmente criada por quem não aceita que a população fique sabendo das suspeitas que o Ministério Público Federal tem a respeito do prefeito barbudinho. E nem sabe conviver com essa instituição tão incômoda, que é uma imprensa livre.

A segunda prisão

Texto cinematográfico de Bob Fernandes na Terra Magazine sobre a segunda prisão de Daniel Dantas.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Aforismo do dia: jornalismo e literatura

Qual a diferença entre jornalismo e literatura? O jornalismo é ilegível, a literatura não é lida.
Oscar Wilde, sempre atual.

Aqui tem mais

De fatos, bastidores e velhas novidades

Muito boa a matéria de Bob Fernandes na Terra Magazine sobre a guerra de espionagem interna que a PF viveu pra prender Daniel Dantas. Nessa história toda, aliás, os subterrâneos devem ser mais espetaculares que a ponta do iceberg que se vê nas notícias. A libertação do banqueiro ontem à noite por habeas corpus só surpreende quem ainda não se deu conta de que, no Brasil, cadeia não é lugar pra rico. Lembrei do velhinho humilde do interior de Mato Grosso do Sul que vi numa reportagem na tevê dia desses, preso numa cela com assaltantes e homicidas porque foi condenado por transportar vacas perto de uma estrada. De qualquer forma, não dá pra ignorar que o fato de tantos figurões da elite financeira passarem ao menos uma noite na prisão é sinal de que as coisas estão mudando. Mesmo que a passo de lesma em nossa escala cotidiana. A História é que vai dizer o real alcance desses acontecimentos. Como já lembrou Eric Hobsbawm, "historiadores são como todas as outras pessoas, são os mais perceptivos depois que as coisas acontecem".

terça-feira, 8 de julho de 2008

Pop escandinavo

Um som maneiro da Noruega: Sondre Lerche. Dica do Yan Boechat.

Pipoca e cinema, combinação perfeita

Mais frases da vez: brincadeira

"Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo".
Carlos Drummond de Andrade

"O prazer estético se baseia no livre jogo das nossas funções mentais, em face do objeto belo e na harmonia lúdica das nossas capacidades de imaginação e entendimento".
Kant
(citados neste artigo de Ilona Hertel)

Frase da vez: caminhar e viver

De uma palestra do médico Dráuzio Varella em Joinville, no blog da Aline:

"Se o seu estilo de vida não permite tirar 30 min pra andar, você está vivendo errado".

O Grande Irmão e a internet brasileira

Este texto do Marcos Donizetti (Hedonismos), explica como um projeto de lei do senador Eduardo Azeredo representa ameaça de censura à internet no Brasil e o que podemos fazer pra pressionar os senadores a barrar a proposta. Também dá link pra vários textos sobre o assunto em outros blogs.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A cor da voz

O Diário Catarinense de hoje traz entrevista da repórter Alícia Alão com meu irmão Leonardo Camillo sobre dublagem. Neste fim de semana ele fez uma oficina pra 15 crianças e pré-adolescentes durante a 7a. Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Se você já viu filmes dublados com Nicolas Cage, John Travolta, Kevin Costner, Pierce Brosnan (007), o Jesus de Zefirelli, o Ikki de Fênix da série de animação Cavaleiros do Zodíaco e o dinossauro Barney, entre tantos outros, com certeza já ouviu a voz dele. Trecho:

DC - E o mercado, como está?

Camillo
- É um mercado restrito em termos de elenco. Porque formar um elenco de dublagem não é da noite pro dia. É diferente de qualquer outro meio de interpretação, do teatro, da TV, do cinema. É uma coisa muito específica e não trabalha só com interpretação, mas também com uma parte técnica que muita gente não consegue se adaptar. Muitos entram na dublagem e não têm paciência pra crescer na área, porque no começo não compensa financeiramente. Você acaba se afastando. Fica quem realmente gosta. Transformar um dublador para fazer grandes papéis, papéis centrais, demora no mínimo uns cinco anos. O elenco acaba sendo umas 300 pessoas, mais ou menos, e só em RJ e SP. Mas trabalho tem bastante!

DC - O dublador não tem tanto reconhecimento do público quanto um ator de TV ou teatro. O que você acha disso?

Camillo
- Nunca fui um carreirista, que faz para aparecer. Meu objetivo sempre foi interpretar. Eu me sinto com sucesso. Acontece que a dublagem sempre foi muito presa ao estúdio, anônima mesmo. Eu costumo dizer que dublagem tem um divisor de águas, há uns 12 anos, antes e depois de Cavaleiros do Zodíaco. Depois do Cavaleiros, começou um movimento nacional de fãs de anime. Tem eventos de anime em todas as regiões do país, todos os anos. E eles veneram o trabalho dos dubladores. Sabem tudo o que a gente faz, respeitam, reconhecem, querem saber, pedem autógrafos. Semana que vem estarei em Fortaleza, na outra em Recife, sempre nesses eventos, dando palestras, fazendo oficinas. Depois de Cavaleiros do Zodíaco, a coisa saiu do estúdio, os fãs sabem muito mais que eu das coisas que eu faço. Então saiu do anonimato.
p.s.: Alícia é uma repórter de texto sensível e afiado, com grande senso de observação pros detalhes, como o que ela captou pra abrir a matéria e virou título. Uma das melhores coberturas da Mostra tem sido a dela. Feliz do editor que pode contar contar com alguém assim na equipe.

Os bastidores de Glosa Glosarum

O leitor Elí de Araújo, do Rio Grande do Norte, me escreve sobre um livro engraçadíssimo e admirável do poeta Celso da Siveira, que li há muitos anos: Glosa Glosarum. Caso o editor a quem ele se refere - sem citar o nome - queira apresentar sua versão da história abaixo narrada, o espaço também está aberto. Pelo bem do público que ainda não conhece o escritor potiguar, espero que o impasse editorial se resolva e seja possível lançar novas edições dessa jóia rara.

Dia 06 passado você postou no blog substantivo plural, perguntando pelo Glosa Glosarum de Celso da Silveira. Celso, meu pai, faleceu em janeiro de 2005, deixando encaminhada a edição do Glosa. O editor, entretanto, publicou o livro sem o aval dos herdeiros, estando até hoje sem prestar contas, apesar de ter sido instado amistosamente, por diversas vezes, a fazê-lo. Lamentável porém verdadeiro. O mesmo editor, depois da morte de Celso colocou uma capa de extremo mau gosto no livro, que certamente meu pai recusaria. Além disso, editou mais recentemente, coletânea de poetisas do estado, onde incluiu minha mãe - Myriam Coeli - mais uma vez sem pedir autorização e sem prestar contas. Trata-se, como pode ver, meu caro Dauro, de um facínora das letras. Atenciosamente, Elí de A.

Caio Cambalhota de volta à blogolândia

Caio Coletivo Operante Cezar está de volta ao universo blogueiro com seu Cambalhota, espaço de rodopios, arremessos e cruzcredinhagens. Ah, e também de chamirrinealidades múltiplas.

Tuitadas marqueteiras

Tem uma agroindústria avícola me seguindo no tuíter. Só porque comi não quer dizer que a gente tenha que casar...

Casamento, batizado e histórias japonesas

Fim de semana movimentado e emocionante. No sábado a cunhada e comadre Sônia casou com meu compadre Antônio Gerassi Neto, depois de uns 15 anos de união que já geraram uma filha e um filho. A cerimônia foi na capelinha do Campeche, com um pequeno grupo de familiares e amigos. Domingo Laura e eu fomos padrinhos de batizado do Eduardo, filho de 11 anos do irmão dela, Carlos, e da Cristina. No meio de preparativos, idas a aeroporto e rodoviária e comemorações, ainda trabalhei na 7a. Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Que teve no sábado um dia inteiro de homenagens ao centenário da imigração japonesa no Brasil. Também no fim de semana o mano Leonardo Camillo ministrou uma oficina de dublagem pra crianças de oito a doze anos. O resultado das atividades da criançada foi exibido ao público ontem à tarde, ficou muito legal.

Um ponto alto foi a presença das tias Maria e Cecília Tuyama, que vieram de ônibus de Santo André/SP depois de muita insistência minha. Elas são irmãs do querido Augusto, pai da Laura e meu segundo pai, que nos deixou em fevereiro. Conversar com elas era quase como revê-lo. São muito parecidas com ele, não só na fisionomia como no jeito de encarar a vida, com humor e tranquilidade. Tia Maria, a mais velhinha, sempre serena, contou várias histórias da infância dela em Nagasaki - ela veio do Japão com cinco anos de idade, num navio que o pai dela, Shungiro, ajudou a construir. Falou sobre a mãe, Ito, que teve uma premonição sobre a bomba atômica e insistiu pra emigrar. Lembrou da dificuldade dos primeiros tempos, da dureza que foi se alfabetizar em outra língua, de Augusto pequeninho que não queria dormir sozinho.

Tia Cecília, sorridente e doce, estava sempre se oferecendo pra fazer massagem em todos da família: "Deixa eu fazer um carinho em você". Sua intuição lhe dizia o que o corpo da pessoa precisava, onde estavam as dores, as articulações travadas. Minha tensão nos ombros se evaporou. Tia Cecília é herdeira dos dons especiais da mãe - consegue antever situações que ainda não ocorreram. Quando isso acontece e a previsão é trágica, reza muito e às vezes a tragédia é evitada. Ela nos contou isso com naturalidade e lembrou que todas as pessoas têm esse poder, só que algumas aprendem a desenvolvê-lo e outras não. Foi um fim de semana muito especial mesmo, cheio de risadas, amor e amizade.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A China pelo olhar de Sônia Bridi

Minha ex-colega de curso na UFSC, Sônia Bridi, hoje correspondente da TV Globo em Paris, está lançando pela editora Letras Brasileiras o livro Laowai (Estrangeiro). Numa mistura de reportagem e diário de viagem, Sônia conta das experiências que ela mais o marido, o cinegrafista Paulo Zero, e um filho de três anos viveram em 2005 e 2006 na China, onde montaram a primeira base da emissora na Ásia.

Diz o texto do convite da Letras Brasileiras: "Uma história divertida, intensa e delicada, que provoca risos e lágrimas, sem apelações ou pieguices. ... Um retrato pitoresco, emocionado e extremamente requintado da sociedade chinesa,...com olhar perspicaz de repórter e viajante experiente e uma perspectiva feminina que dá ao relato um sabor especialíssimo".

Um livro de reportagem e histórias sobre a China, por si só, já me deixaria curioso (em 93 estive em Taiwan e Hong-Kong, o que me deixou com água na boca pra conhecer melhor essa cultura fantástica). Escrito pela Sônia, então - uma das repórteres de tevê mais brilhantes que conheço -, não dá pra deixar de ler. O lançamento com presença da autora vai ser no dia 10 de julho às 19h na Livraria Cultura de São Paulo (Conjunto Nacional); 15 de julho às 19h na Livraria da Travessa em Ipanema, Rio de Janeiro; e 17 de julho às 19h na Livraria Saraiva, em Floripa. Pena que estarei viajando, mas vou reservar meu exemplar.

O som pop de Floripa nos anos 90



Finalmente está na web, pelas mãos do Ulysses (Esquerda Festiva), o vídeo Sete Mares e uma Ilha, produzido em 1999 pela doutora em Psicologia Social Kátia Maheirie e pelo jornalista André Gassen. O documentário apresenta sete bandas que embalaram o cenário musical pop de Floripa nos anos 90: Dazaranha, Tijuquera, Stonkas y Congas, Phunky Buddha, Iriê, Primavera nos Dentes e Rococó ( que se tornaria John Bala Jones). São músicas bem evocativas. Quem curtiu a noite ilhoa nessa época certamente já ouviu alguma ou várias dessas bandas. Boa parte desses músicos continua na ativa.

p.s.: Dedico este post ao Philo Ranks, meu amigo de Trinidad e Tobago com quem dividi casa por um tempo e que foi vocalista dos Stonkas.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Mostra itinerante em Palhoça

Nesta quarta-feira às 14h30, 220 crianças se acomodaram nas cadeiras do Clube 7 de Setembro, em Palhoça, pra mais uma sessão itinerante da 7a. Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Muitas delas, vindas de bairros carentes, tiveram que caminhar meia hora pra chegar ao local da exibição. O esforço compensou. Quando as luzes se apagaram, a tela iluminada se refletiu em olhos brilhantes de encantamento. Em um município onde as opções culturais pro público infanto-juvenil são quase inexistentes, 1.200 crianças foram beneficiadas nos últimos dias. Estive lá com os colegas Cleide e Vinicius pra fazer uma matéria e o making-of da Mostra. Adorei ver aquilo de perto. As coisas mais bonitas da vida são assim, de uma simplicidade quente como a luz projetando histórias e o cheiro de pipoca.

Foto: Cleide de Oliveira

Pintura que liberta

Uma tela gigante com o tema Eu no mundo está sendo produzida no Centro Integrado de Cultura (CIC) por 15 crianças do Projeto Esperança, vindas da comunidade Chico Mendes, na parte continental da capital. Elas participam da oficina Palavra Pintada, que integra a 7ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Ministrada pela artista Sofia Camargo e pelo percussionista e massagista Marcelo Melão, a oficina motiva as crianças a expressar o que pensam de si mesmas e do mundo, por meio da dança, do canto e do conhecimento do próprio corpo. O resultado do trabalho vai ser apresentado ao público na abertura do show do Grupo Palavra Cantada, que encerra a Mostra no dia 13 de julho. Ontem acompanhei um pouco da oficina e depois entrevistei a Sofia. Fiquei emocionado com o alcance desse trabalho. Quem dera houvesse mais Sofias e Marcelos por esse Brasilzão pra levantar a auto-estima da meninada desamparada.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Cinema infantil de qualidade - dez mandamentos

Os dez mandamentos para uma programação audiovisual de qualidade voltada ao público infantil, segundo segundo pais e mães - a fonte é a MídiaQ, do Midiativa - Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes:

1. Confirmar valores (transmitir conceitos como família, respeito ao próximo, solidariedade);
2. Incentivar a auto-estima (não reforçar preconceitos nem estereótipos);
3. Preparar para a vida (propor temas importantes para a futura vida profissional e social);
4. Gerar curiosidade (despertar o gosto pelo saber);
5. Não ser apelativo (não banalizar a sexualidade e a violência; não induzir ao consumismo);
6. Ser atraente (ter música, competições, ação, humor; falar a linguagem do público infanto-juvenil);
7. Despertar o senso crítico (fazer a criança e o jovem refletirem, mostrar a diversidade);
8. Mostrar a realidade (apresentar limites e conseqüências, sem agressividade);
9. Gerar identificação (mostrar dúvidas e situações próprias da infância e da adolescência);
10. Ter fantasia (estimular a brincadeira, a fantasia e fazer sonhar).

terça-feira, 1 de julho de 2008

Balanço semestral de leitura e blogagem

Começou o segundo semestre. Antes de tudo, parabéns ao Ulysses, do Esquerda Festiva, que faz aniversário hoje, e à Nega Balbys, que fez ontem. Tenham um grande dia! Meia volta do planeta em torno do sol. Tempo inventado, metade do ano. Sensação de que 2008 tá "passando rápido e não fiz quase nada", misturada com a de que vivi, nesses seis meses, experiências que valem por uma vida inteira. Ambas as impressões são verdadeiras, é a tal história do copo metade cheio e metade vazio, ou da zebra branca de listras pretas que também é preta de listras brancas. Tempo de recalibragem de rota. No meio do caminho, a busca do caminho do meio. Efeméride efêmera, que ao menos rende frases zen e assunto pra blogar.

Começo o balanço pelo índice de investimento em literatura. Nos seis primeiros meses de 2008 li 13 livros (lista na coluna da direita), o que dá uma média de 2,2 livros por mês. Posso dizer a meu favor que foram todos livros bons, alguns excelentes. Mas 2,2 é pouco. Tive que aplicar tempo considerável lendo profissionalmente vários calhamaços técnicos e pedagógicos. Outros cinco livros estão em andamento simultâneo e em releitura, alguns quase no fim. Se fossem considerados, elevariam a marca do semestre pra 18 e a média mensal pra 3. Por isso sou pé atrás com estatísticas, tudo depende do critério adotado. Bem, vou tentar ler 50 até o fim do ano, o que vai exigir muito sacrifício em indolentes tardes na rede do quintal.

Vamos ao índice de assiduidade no blog. Foram 320 posts de janeiro a junho, uma média de 53,3 por mês e 1,8 por dia, entre textos, fotos e charges. Março foi o mês de mais blogagem, com 69 posts, e fevereiro o mais rarefeito, com 33 - quem acompanha o blog sabe por quê. Se confirmada a projeção, vou fechar 2008 com 640 posts, superando o recorde de 639 obtido no ano passado. Aí talvez me dê um prêmio - e um descanso aos leitores - de um mês inteiro sem publicar aqui... Mas deixemos isso pro verão. De janeiro a junho foram 418 comentários, média de 70/mês, 2,3/dia. Alguns comentários foram meus mesmo, respondendo aos outros e involuntariamente inflando esta estatística. E chega de balanços por ora. Vamos ao segundo semestre.