Até conhecer o Leminski eu tinha ciúmes dos livros, não os emprestava com medo de não serem devolvidos. Ele, ao contrário, dizia que os livros eram para ser lidos e não guardados em prateleiras como objetos decorativos. Escrevia poemas em papel higiênico, nas revistas, nos meus livros, em qualquer superfície... Eu aprendi com ele que o importante não é o papel, mas o que está impresso nele.
José Louzeiro, em "Paulo Leminski: o bandido que sabia latim", de Toninho Vaz. Louzeiro abrigou Leminski, a mulher e uns amigos por dois meses na sua casa no Rio de Janeiro, em épocas de dureza.
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Sou um tiquinho reverencioso com os livros - não a ponto de me apegar a eles como objetos de decoração, pois adoro vê-los circular, conversar sobre eles com os amigos e ler o que anotaram. Mas tenho certo bloqueio quanto a eu mesmo canetear o que penso enquanto vou lendo. Talvez porque boa parte do que li até hoje foi em livros que não me pertenciam. É mais pelo respeito aos donos das obras que propriamente por algum senso de "idolatria às sagradas páginas". Admiro pessoas como o meu pai, que cagam pra isso - e aos 80 anos, mais ainda. Ele trava animados diálogos com a obra, às vezes espirituosos e engraçados, outras vezes irados ou simples comentários de revisão ortográfica. Ler um livro depois dele é um grande prazer. E, ao me deparar com o depoimento de José Louzeiro, me dou conta com satisfação desse ponto em comum entre dois seres que admiro muito, irreverentes no mundo da leitura.
Você anota nas páginas dos livros? Tem essa vontade reprimida? O que sente quando anotam nos seus livros?
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