quinta-feira, 29 de junho de 2006

De um amigo em Malta

Recebo e-mail do Fernando Evangelista, que no momento está em Malta, trabalhando como carregador de malas do Intercontinental enquanto estuda inglês. Pra mim é uma honra que, em meio aos problemas "logísticos" que enfrenta, Fernando ainda tenha tempo de enviar uma contribuição pra este blog. Aí vai:

(...) envolvido com um problemão, sério e urgente. Não tive tempo pra mais nada. Aconteceu que, sem avisar, meu ventilador quebrou. Pode parecer bobagem, mas em Malta faz um calor senegalês e o ventilador é o objeto mais importante da casa. Ficar sem ventilador, num calor de 44 graus, significa uma noite toda acordado encharcado de suor. O dia seguinte é de cansaço, olheiras e mau-humor. Pra completar: ontem foi feriado. Tudo fechado. Nas ruas só um bafo quente vindo do Saara. Outra noite de angústia. Mas essa madrugada, além do calor, também veio com outra surpresa: baratas. Parece que no calor extremo as baratas se inspiram, tomam coragem e avançam pela casa, como um exército destemido. Vieram baratas de todas as espécies: “grandes”, “enormes” e “gigantes”. Então, além do calor, do suor, da insônia....as baratas. Mas são baratas valentes porque mesmo com litros de venenos e com uma seqüência de golpes de sapato elas continuam vivas. Incrível.
A sorte é que tenho os livros. E tem Galeano: Bocas do Tempo. Fiquei lendo e matando barata a noite toda. Uma das histórias do livro parece ter sido escrita por ti. Acho que vale a pena reproduzir no blog. Mando:

Gente Curiosa
Eduardo Galeano
Soledad, de cinco anos, filha de Juanita Fernández:
- Por que os cachorros não comem sobremesa?
Vera, de seis anos, filha de Elsa Villagra:
- Aonde a noite dorme? Dorme aqui, debaixo da cama?
Luis, de sete anos, filha de Francisca Bermúdez:
- Deus vai ficar irritado se eu não acreditar nele? Nem sei como contar isso para ele.
Marcos, de nove anos, filho de Silvia Awad:
- Se Deus se fez sozinho, como é que conseguiu fazer as costas?
Carlitos, de quarenta anos, filho de Maria Scaglione:
- Mamãe, com quantos anos você me desmamou? Minha terapeuta quer saber.

Grande abraço e até...
Fernando