sexta-feira, 22 de setembro de 2006

De PT, lulismo e movimentos sociais

Fernando Evangelista me escreve de Malta pra comentar o que escrevi aqui sobre a sangria do PT.

Caro Dauro,

Gostei da tua análise sobre o PT. Discordo de duas, tres coisas: a eleição para presidente do partido no ano passado, na minha opinião, não era uma possibilidade de virada de mesa. O tempo da virada já passara há tempos. O lulismo, essa coisa sem projeto, sem ética, sem nenhum compromisso histórico ou moral, parece mais disseminado do que se imagina. Pensar que a eleição para presidente do partido poderia mudar os rumos é uma maneira de dizer que o que acontece na cúpula do governo, na cúpula do partido, é só uma “degeneração localizada”. Não acho. E não acho porque não vejo um movimento, nisso que chamam de base, dizendo “chega, fomos longe demais”. Os idealistas já se foram, antes mesmo da Heloísa Helena ser expulsa. Depois, quando já não tinha mais jeito, o resto se mandou. Uns vão porque têm ética e vergonha na cara, outros vão de maneira oportunista, como é o caso do Plínio de Arruda Sampaio que perde a eleição e muda de partido e ninguém questiona o absurdo do gesto. Num dia, ele pede votos para mudar o PT, porque o partido isso e aquilo, nosso PT e blá blá blá, no dia seguinte vai para o PSOL. Era nele que se depositava a esperança de uma virada? Tá tudo errado.

No final da tua mensagem, falas que o povão vota no Lula independente do partido. O povo – também há muito tempo - vota em qualquer um, independente do partido. Aliás, o povo vota no Lula independente do Lula. O Lula é protegido por teflon, não pega nada: nem críticas, nem idéias, nada. Só a sede de poder. Frei Betto, que também foi enganado pelo lulismo, diz que as pessoas não mudam quando chegam ao poder. Elas se revelam.

No final da mensagem (outra vez), falas que esse novo escândalo vai ter impacto “grande” na política brasileira e nos rumos do próximo governo. Acho isso uma bobagem. Se estivéssemos no primeiro grande escândalo, aquele do Waldomiro, poderia até concordar contigo. Mas mudou alguma coisa o escândalo do Waldomiro? Mudou alguma coisa a história do mensalão? Mudou. O governo Lula subiu na aprovação dos eleitores. E ainda no final escreves - porque a esperança não morre – sobre a possibilidade que, dessa podridão toda, apareça uma “nova esquerda”. Minha esperança é que as pessoas comecem a perceber que essa democracia que vivemos é uma farsa, que os partidos não representam coisa nenhuma e que é hora de tirar a bunda da cadeira. Eu acredito nos movimentos sociais.

Acho que só os movimentos sociais podem começar uma virada de mesa. O problema é que os movimentos estão em crise de identidade, não sabem o que fazer, como se posicionar diante do governo Lula. É compreensível, mas o tempo, por bem ou por mal, vai mostrar que o lulismo, construído também por eles, foi um grande erro. Então, espero que os movimentos se fortaleçam e radicalizem seus métodos de luta. Radicalizar como? Através da desobediência civil não-letal. Pra mim, esse é o caminho.

Já roubaram a memória do povo, a história, a cultura, a identidade e a educação. Tudo isso levado ao extremo pelo regime militar. Aí veio o FHC ... e agora o lulismo que tá roubando o que resta da ética e da dignidade. Os movimentos sociais podem exigir todas essas coisas de volta, na marra.

Ufa! Ficou grande, né?
Abração, fernando