terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Lendo: Hemingway e Kaiser

Tou alternando: de manhã leio Do outro lado do rio entre as árvores, uma das obras mais intimistas de Hemingway. De noite e madrugada, ataco o dionisíaco Tempos Heróicos, de Jakzam Kaiser.

O curioso é a diferença radical de ritmos entre os dois romances. No primeiro só aconteceu basicamente isso até a metade do livro: o protagonista, coronel americano cinqüentão com doença terminal, chegou de carro em Veneza - pelo caminho veio apreciando a paisagem e recordando os tempos de guerra -, se instalou no hotel, foi a um bar, tomou martínis secos com a amada italiana de 19 anos, filosofaram sobre o amor e a vida, saíram caminhando de volta ao hotel, olharam jóias numa vitrina, ela lhe deu um brinco de esmeralda de presente, subiram pro quarto dele, se beijaram diante da janela e ela retocou a maquiagem. Agora se preparam pra jantar.

No segundo livro, também já pela metade, o protagonista, jovem estudante de Porto Alegre, já comeu várias gatas, se envolveu em brigas de rua, saiu de casa e foi morar sozinho, fez as pazes com o pai, pegou caronas, entrou de penetra em festas, acampou no litoral catarinense, fumou um monte de baseados, comeu cogumelos, virou a noite em bares, leu Bukowski e Henry Miller, participou do congresso da UNE em Salvador, apanhou da brigada militar em passeatas, pichou muros, foi preso, fez panfletagem em porta de fábrica, se apaixonou, passou no vestibular em duas faculdades, abandonou engenharia e escolheu jornalismo...

Fecho as páginas de um e retorno ao outro. Sopra um vento frio em Veneza. O jantar vai ter como entrada lagosta fria com maionese.