quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Filosofia e felicidade

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ÉPOCA - O senhor associa a felicidade à sabedoria. Os ingênuos e os ignorantes seriam então condenados a ser infelizes? Há quem diga que saber demais pode nos levar à angústia ou a um sentimento de impotência.

Comte-Sponville - Existem imbecis felizes e gênios infelizes. Mas a sabedoria é algo distinto da genialidade. Tampouco tem a ver com desatino ou tolice. A sabedoria é, sim, um certo tipo de felicidade. Mas nada tem a ver com a felicidade ilusória, conseguida por drogas ou pela ignorância. A sabedoria é a felicidade dentro da verdade. É o máximo de felicidade associado ao máximo de lucidez. Essa é a meta da filosofia. Nesse caminho, há muitas ilusões a perder e algumas verdades desagradáveis a confrontar. É por isso que a filosofia passa inevitavelmente pela angústia, pela dúvida, pela desilusão. Continua sendo apenas um caminho. Porque o destino
é uma felicidade autêntica. É isso que chamamos de sabedoria.
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ÉPOCA - Devemos deixar de lado o desejo para viver melhor o presente?
Comte-Sponville - Não, de jeito nenhum! Recusar o desejo é morrer. Deve-se, isso sim, desejar o presente com todas as forças. Quando você faz amor, o que deseja: o orgasmo que está por vir, ou o ato de fazer amor, aqui e agora? Se é orgasmo o que você deseja, a masturbação é o meio mais rápido. Mas, quando se faz amor, o bom é fazer, aqui e agora, e não desejar nada além do tempo presente que nos absorve por completo.
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ÉPOCA - O senhor tem algo a dizer a quem quer desesperadamente ser feliz em 2007?
Comte-Sponville - Preocupe-se menos com a própria felicidade e um pouco mais com a dos outros. Espere um pouco menos. Ame e aja um pouco mais.


Revista Época, 1/1/2007. A íntegra está aqui