Sou grande apreciador de xadrez, "o rei dos jogos". Entre muitos motivos, porque nele não entra o fator sorte. Nada de dadinho rolando: ganha sempre o melhor, ou o menos distraído. Mas o que eu queria comentar mesmo é sobre outro belo jogo, também isento do fator sorte - um maravilhoso invento que a humanidade bolou pra diminuir nossas angústias em relação à finitude da vida. A sinuca me fascinava quando criança e via a malandragem jogando na bodega o dia inteiro. Mas terminei indo fazer outras coisas e não pude me aperfeiçoar. Talvez tenha sido pro meu bem, você pode pensar. É, talvez. Escapei de viciar em jogatina e de virar pinguço, mas o antigo fascínio pela beleza das esferas coloridas singrando no veludo verde permanece até hoje.
Nesta terça-feira, pra não dizer que passei o carnaval inteiro em casa, saí à noite com Neto, Érico e Camila em busca de um boteco pra jogar sinuca. No final da avenida das Rendeiras, na Lagoa, encontramos um "pé-sujo", com direito a baratas circulando pelo chão, coca-cola vencida e uma penumbra que aliviava as paredes encardidas. Compramos algumas fichas no balcão e pedimos pro homem de feições nada apolíneas que baixasse algumas cervejas. Logo estávamos passando giz nos tacos e botando as bolinhas pra rolar. A mesa, apesar de suja, era boa e com iluminação decente. O banheiro tava surpreendentemente limpo, no vídeo rolava um tributo a Bob Marley e as cervejas estavam geladinhas. Mentalmente alterei o rótulo do boteco para a categoria "falso pé-sujo" - mas diante da exuberância das baratas, resistimos à tentação de pedir um tira-gosto.
Fizemos umas dez partidas em duplas. No começo marquei o placar com giz na parede, depois deixei pra lá, o importante é competir. Até fiz uma ou outra jogada à la Rui Chapéu. Numa delas, antológica, a bola correu num ângulo improvável pela quina do feltro sem sair da mesa e acertou o alvo lá no outro canto (lembrou-me uma partida de futebol de campo que joguei uma vez na escola: contra todas as expectativas, fiz dois gols com bola em movimento e dei vitória ao meu time; minha fama de perna-de-pau se dissolveu por completo, mas só até a próxima partida). Em vários lances atirei no que vi e acertei o que não vi - mas não chamaria isso de sorte, e sim de inteligência cinestésica intuitiva (outros preferem chamar de cagada :) ). E, claro, cometi erros de amador, mas no geral não fiz feio. Até senti certo progresso em minhas habilidades psicomotoras. Em resumo, uma noite divertida.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Pequenos prazeres: sinuca em pé-sujo
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