"O convite ao acidente está feito. De uma forma quase irrecusável, e eu não estou exagerando". A frase, dita por um piloto da aviação comercial brasileira, resume o risco a que os passageiros estão expostos diariamente por causa da mal resolvida "crise aérea", agravada depois do desastre com o avião da Gol em 29 de setembro de 2006.
Para Roberto Heloani, professor da Unicamp e da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas), os controladores de tráfego aéreo estão sofrendo de assédio moral coletivo por seus superiores, ao serem responsabilizados por um problema de origens complexas, que envolve debilidades de infra-estrutura e de administração.
No artigo "Procuram-se culpados", Heloani faz uma reflexão sobre as condições e organização do trabalho dos controladores de vôo. Ele critica a abordagem superficial da mídia, que enfatiza o aspecto espetacular, sem um esforço por parte do jornalismo investigativo para sua compreensão. Depoimentos de pilotos ouvidos pelo pesquisador apresentam um quadro no mínimo preocupante:
- "Há vinte e dois anos eu falo desse buraco negro (região entre Brasília e Manaus)"
- "Nos últimos 20 anos, especialmente nos últimos 10, o embelezamento dos aeroportos tem tomado o lugar do melhoramento da infra-estrutura".
- "Em nenhum país se assiste a tamanho descaso em relação aos controladores como ocorre aqui".
- Eles [controladores] necessitam de um rádio que funcione, de um radar que mostre onde estão os aviões. A situação é crítica".
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