Laura e eu morávamos no Rio. Os filhos ainda eram um sonho, a bolha da internet tinha estourado e nos deixado numa roubada. Eu ganhava a vida com frilas - entre eles o de resenhista de livros pra Editora Rocco, um trampo mal pago, mas delicioso de fazer. Tínhamos como hóspedes em nosso apê de Botafogo um simpático casal de cientistas franceses, Jéròme e Véronique. Tomávamos café da manhã quando o Marques Casara me ligou de São Paulo: " - Liga a tevê!". Ligamos e vimos o horror. Como tantos outros no mundo inteiro, acompanhamos ao vivo um avião se espatifar contra a segunda torre, imaginando que era uma reprise do primeiro. A campainha tocou. Era David, um amigo taxista nascido no Colorado, morador do Texas e apaixonado por música brasileira. Chegou transtornado. Todos ficamos suspensos num sentimento de quase irrealidade diante das novas notícias - o avião no Pentágono, o avião derrubado, os boatos. Não me lembro muito bem, mas acho que tomamos uma bebida forte. E tentamos continuar o dia na maior normalidade possível, mas com a plena consciência de que nada mais seria igual. Peguei um táxi pra Gávea e fui resolver uma burocracia de segunda via do certificado de dispensa militar, pra conseguir renovar o passaporte. Com o taxista troquei palavras de perplexidade. Lembrei de comprar os jornais no dia seguinte e guardar como documento histórico. Um mês depois nos mudamos de volta a Floripa.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
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