segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Gato por lebre e a lógica do detergente

Continuando o assunto, o comentário de dois amigos jornalistas.

Anacris Oliveira:

A CBN está divulgando um comercial inacreditável: um "repórter" entrando ao vivo falando que a ponte está parada e que só é possível passar de moto. Anúncio da Amauri, com cara de reportagem.

Marques Casara:
Esse exemplo cai como uma luva para exemplificar a lógica do detergente, citada por Leandro Marshall em “O jornalismo da Era da Publicidade” (Summus, 2003). Confira alguns trechos:

“A publicidade não aceita mais apenas fazer vizinhança com o jornalismo. Portadora dos interesses do capital, a publicidade pressiona o jornalismo e opera na mesma lógica. A publicidade acossa o jornalismo, submete-o às mesmas regras e valores do capital, obrigando-o a relativizar seu compromisso com a verdade e com o interesse público”.

“A nova estética universaliza e radicaliza a práxis de mercado e atinge a essência da imprensa, das notícias, do noticiário, da informação e dos próprios jornalistas. .... passam a relativizar o conceito de verdade, de realidade, de conhecimento, de informação, de saber etc”

“Embora associe-se imprensa com verdade e jornal com informação, constata-se que a imprensa é consumo, publicidade e empresa privada. Os jornais contemporâneos viram mercadorias, submetidas a lógica do mercado, da audiência e do lucro, que passam a ser produzidas e vendidas dentro da mesma lógica que produz e vende detergente em pó.”