segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Carta pra Augusto

Caro sogro,

Escrevo hoje pra sua leitura futura. Soubemos que você não precisa mais usar a ventilação mecânica e já pode respirar sem ajuda a maior parte do tempo.

Ontem à noite levei a Laura a Pimenta Bueno, onde pegou o ônibus pra Cáceres. Ela vai ficar com a Cristina e substituir o Carlos, que chega hoje a Rolim de Moura. Por enquanto são só duas visitas diárias de meia hora, mas a gente espera pra breve uma transferência da UTI pra uma enfermaria, aí dá pra manter um acompanhante o tempo inteiro.

O Fanto passou uns dias na veterinária pra curar de vez aquele ferimento na bunda [foi atacado por dois cachorros no fim de 2007] e já retornou pra casa. Está sendo muito bem tratado. Um senhor aqui de Rolim nos procurou pra pagar uma prestação da moto. Ele entregou o dinheiro a dona Nilza. Edilson telefonou de Floripa dizendo que andaram lhe procurando pra encomendar umas placas de cimento. Olha só, nem dormindo os negócios param.

Os netinhos estão todos bem. Um ou outro vão alternando uma dorzinha de ouvido ou de garganta, nada sério. Todos já vacinados contra a febre amarela, a grande preocupação deste princípio de ano na saúde pública. Ontem passamos a tarde divertindo a meninada com um campeonato de sinuca e um de pingue-pongue. Na sinuca, a final foi da dupla Irmãs Cajazeiras (Laura e Sônia) contra a dupla Tico e Teco (eu e Pedro). Ganharam as Cajazeiras, sorte de principiante. Todos - pelo menos os que já sabem escrever - lhe mandaram mensagens numa folha de papel que a Laura levou na bagagem. Quando a Ana foi aí há algumas semanas, levou também uma gravação em que a criançada cantou junta uma das suas músicas favoritas. Ela tocou várias vezes ao seu lado, acho que você vai lembrar disso quando acordar. No meio da gravação aparece a voz do Bruno dizendo "quero o vô", ele queria ver sua imagem no celular. A percussão é do Estéfano, que não quis cantar e preferiu tocar bateria numa caixa.

Outra novidade são os tsurus. O pessoal em casa tá todo mobilizado pra dobrar mil, conforme a tradição japonesa, e fazer um pedido. A mesa da cozinha parece uma fábrica da Toyota, é produção em série de origami. Joãozinho perguntou o que acontece se a gente fizer dois mil - "dá pra fazer dois pedidos?". Carlos disse que a gente tá distorcendo a tradição, são mil por pessoa. E deu uma idéia: fazer tsurus bem grandes, assim cada um vale por cem e fica mais fácil atingir a meta. Esse seu filho nunca perde a piada... Depois conto mais e mostro umas fotos.

Suas plantas estão bem cuidadas por dona Ana. Tem chovido na Ilha, não faltou água pra elas. A casa de vocês serviu de hospedagem por uma semana à família do doutor Jefferson, um psicólogo que vem nos dando grande apoio desde o acidente. É incrível como surgem essas afinidades instantâneas, parece até que as duas famílias são amigas há anos. São pessoas excelentes. A casa deles em Cáceres tem servido de base pra todos os nossos que estão lhe acompanhando no hospital. Foi ótima essa oportunidade de retribuir a hospitalidade nas férias deles pelo Sul. Doutor Jefferson lhe visitou muitas vezes na UTI e lhe falou sobre um dia vocês pescarem juntos no Pantanal. Uma vez por ano, pelo menos, ele faz uma longa pescaria de barco. Mais um bom motivo pra acordar logo, né?

Hoje cedo recebi uma ligação do seu irmão Paulo. Ele tem telefonado várias vezes pra dona Nilza ou pra nós pra saber das novidades. Disse que contem com ele pro que precisar. Seus outros irmãos também ligam sempre. Nem imagina como os nossos telefones tocaram essas quatro semanas. Muita gente atrás de notícias. Este blog também tem servido pra informar as pessoas e guardar as mensagens da família e amigos. Como eu não tenho novidades pra contar todo dia, vou tocando adiante com umas histórias suas, recordações de bons momentos, fotos...

Vamos em frente. O despertar está próximo. Grande abraço!