quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sobre a vida e o 'timing'

Tenho pensado muito na questão de timing desde o acidente na estrada com meus sogros no dia 18 de dezembro. Mas não tinha me animado a escrever sobre isso. Até que li este texto do Inagaki e resolvi botar pra fora. "E se ele tivesse decidido cruzar a rodovia 15 segundos antes ou depois? E se eu tivesse sugerido, como pensei na hora do almoço em Cuiabá, que desviássemos o caminho pra visitar a Chapada dos Guimarães? E se tivessem viajado de avião? E se..." Era em coisas assim que eu pensava nos primeiros dias, tudo isso misturado às recordações do instante da batida que presenciei e à desoladora sensação de não conseguir voltar o relógio do tempo até o momento em que eu poderia ter intuido o perigo e "feito alguma coisa pra evitar".

A tempestade interior não ajudava em nada e deixei tudo isso de lado pra mentalizar boas energias na recuperação deles - felizmente estamos tendo progressos, lentos mas consistentes. Passado quase um mês, volto a refletir sobre essas questões filosóficas com o espírito mais sereno, embora não menos inquieto - paradoxo difícil de explicar. Resposta não tenho, mas palpites. Não acho que o destino de ninguém esteja traçado e seja imutável. Mas minha conclusão é que, na prática, o nosso poder de guiar a vida é limitado demais. As mudanças acontecem à nossa revelia. O que podemos é, de quando em quando, fazer pequenas correções de curso. Jogar o barquinho de papel de nossos planos em um redemoinho ou num curso de águas que pareçam mais seguras. Mas é impossível influir sobre as chuvas que caem na cabeceira do rio, ou adivinhar corredeiras, remansos e surpresas até a foz.

Aceitar essa idéia é difícil pra quem se acha dono do próprio rumo. Muitos de nós somos assim às vezes - ou quase sempre: voluntariosos ao ponto de esquecer que temos pouquíssimo controle sobre coisas "banais", como o funcionamento do cérebro e, em certas circunstâncias, dos esfíncteres. Esses dramas ajudam a colocar um pouco mais de humildade na existência. Inútil sofrer com as incertezas do futuro e com o que poderia ter sido no passado. Não quero parecer fatalista e acomodado, mas há um limite além do qual a gente não pode fazer nada. Quando se descobre onde está essa fronteira, resta se abandonar à habilidade do piloto do universo - pros que, como eu, acreditam na existência da "Força" - ou aos caprichos das casualidades históricas, se você preferir.