A cena acaba de acontecer: um carro branco pára no meio da rua, bem em frente à nossa casa, e as duas portas se abrem. Gritaria. A mulher, no volante, desce chorando. O homem, vinte e poucos anos, de boné, sem camisa, bêbado e com uma latinha de cerveja na mão, a ameaça. Ela se recusa a entrar no carro: "Você vai me bater!" Acendo a luz da varanda, vou até o portão e peço pra fazerem silêncio. Ele aponta o dedo pra mim e diz: "Não te mete! Vem aqui pra fora, vem!"
Acho graça do convite e numa fração de segundo pondero as opções. Não dá pra deixar a mulher apanhar. Conversa amistosa ou chá com torradas estão fora de questão. Ele é mais forte, mas é do meu tamanho e tá mamado, não é difícil de botar no chão. Também podia soltar a cachorra, que tá doida pra avançar no imbecil, mas aí a coisa pode sair do controle. Talvez o cara esteja armado. Ele sabe onde eu moro, eu não sei onde ele mora. Sou da paz, tenho fi pra criar e uma preguiiça danada de me incomodar com bobalhão... Como demora uma fração de segundo.
Faço meia volta e entro em casa, contente de não ter cedido a meu lado Hulk. Mas nem chego a discar pra polícia. Ela entra no carro e dá a partida. Ele, talvez percebendo a merda que fez, também entra e seguem o caminho. Posso só especular o antes e o depois. Imagino o início da noite deles: convite pra jantar fora, comemoram o dia internacional da mulher, rosa vermelha, cena de ciúme. Se a moça for esperta e corajosa, vai lhe dar um pé na bunda rapidinho. Se não, vai apanhar - talvez mais de uma vez - e deixar por isso mesmo, o que seria triste. Êta mundo doido...
O silêncio volta a reinar no bairro das corujas.
domingo, 9 de março de 2008
Plantão da madrugada
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