O terremoto na China, que, pelas estimativas oficiais até o momento, soterrou 18 mil pessoas e pode ter matado 12 mil, é mais um daqueles fenômenos gratuitos quase incompreensíveis à razão. Ainda mais quando não há ninguém em quem jogar a culpa - aquecimento global, corporações, pecados humanos... Como imaginar tanta dor, tanto sofrimento de crianças? A tragédia é menos significativa por ter acontecido do outro lado do mundo? Mereceria tanto espaço na mídia quanto as mil mortes da menina Isabela?
Reparo em mim mesmo e tenho mais perguntas que respostas. Eu soube da notícia via twitter e devo ter ficado menos de 15 segundos horrorizado, até que outros afazeres me chamaram. A resistência do chuveiro estava quebrada, difícil ficar sem banho quente neste outono quase inverno. Saí pra comprar uma nova e, no caminho, o carro deu problema no motor. Dirigi devagar até a oficina do Cebola, que constatou defeito em duas bobinas. Voltei pra casa caminhando, pensando em coisas mil, não mais nos chineses.
Troquei a resistência lembrando do meu sogro querido. Há poucos meses estávamos nós dois ali no box do banheiro, ele em pé numa cadeira, instalando o novo chuveiro Thermosystem - com haste pra regular a temperatura - e eu ajudando com as ferramentas. Conversamos de eletricidade e de um monte de outras coisas que não lembro mais. Ontem eu estava sozinho na tarefa, mas a presença da ausência dele era tão forte que me encheu os olhos d'água.
Depois da digressão, volto ao twitter, uma discussão acessória diante do horror dos soterrados, mas válida pra quem se interessa por comunicação. O terremoto na província de Wenchuan foi divulgado em tempo real (três minutos antes da divulgação pelo US Geological Survey) pelos usuários dessa ferramenta de comunicação interativa, graças à flexibilidade com que pode ser usado em aparelhos móveis - celulares, notebooks e outros.
O fato agrega mais vitamina ao debate sobre a revolução provocada por essas novas tecnologias na maneira como as pessoas se informam e informam umas às outras. Entre as análises, há quem preveja a tendência de que o Twitter se torne o primeiro meio pelo qual as pessoas vão se informar quando buscarem notícias factuais imediatas sobre manchetes de impacto. Rex Hammock comenta em seu blog:
“The folks “playing around” with Twitter are creating something that is not just about “play.” It may remain an “edge” medium — a global police scanner for the news obsessed — but I stand by my predictions that Twitter will become the source people will turn to in the early, confusing moments of breaking news stories.”Com todos esses avanços e o potencial de transformações sociais que trazem, vida e morte continuam sendo um grande mistério. Bem, vou lá tomar meu banho quente.
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