segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Amigo, não espere convite

Este post é especialmente dedicado aos amigos. Velhos, novos, novíssimos e os que virão.

Visita inesperada e prazerosa aqui em casa neste domingo, com longo papo regado a vinho tinto e pipoca: Silvio Ligeirinho e sua mulher Ana, paraibana gente finíssima que, como este pernambucano, veio parar em terras sulinas e está aqui há anos. Inevitável a conversa sobre semelhanças e diferenças culturais entre Nordeste e Sul. Falamos da hospitalidade e minha identificação com ela foi instantânea. Tanto Ana como eu lembramos que, nas nossas famílias, é hábito receber as pessoas sem essa formalidade de agendar visita com antecedência. Os chegados simplesmente vão chegando, improvisa-se a comida, busca-se mais bebida se preciso. Lembro que em minha infância e adolescência a família abrigou diversos agregados, às vezes por meses ou anos. Em ocasiões especiais já tivemos 15 ou 20 hóspedes simultâneos, sempre motivo de festa e risadas. Aos meus olhos de criança essa coisa de acolher e ser acolhido pelos amigos, e amigos dos amigos, sempre foi natural. Cresci vivenciando isso.

Quando vim morar no Sul, esse foi um dos maiores choques culturais que tive. Aqui as pessoas, mesmo quando se conhecem há anos, esperam convite pra se visitarem. É raro ligar pra dizer "posso ir aí?" ou "estou indo na sua casa daqui a pouco, tudo bem?". Mais raro ainda aparecer sem aviso. Aliás isso chega a ser considerado uma indelicadeza. Não comento isso pra julgar o que é certo e o que é errado, é só uma constatação: no Nordeste somos muito mais abertos ao contato com a diversidade, com as experiências inesperadas de conviver. Com todos os riscos inerentes a essa maneira de ser. Se a gente pensar bem, a vida é um risco em si mesma. Estar aberto ao contato com outros mundos humanos oferece um potencial riquíssimo de crescimento. Até entendo o hábito de telefonar antes: pode poupar uma viagem em vão se a pessoa tiver saído. Mas esperar convite ainda me parece um tanto estranho. É uma das coisas que mais sinto falta em meus 22 anos no Sul. Tenho amigos maravilhosos aqui, e alguns talvez estejam esperando até hoje que eu os convide - enquanto eu estou esperando que apareçam de improviso, trazendo risadas, vinho e música pros nossos sábados e domingos, e por que não, segundas-feiras.

E se você telefonar e eu estiver ocupado ou sem pique pra ver ninguém, vou lhe pedir pra gente se ver outro dia, na boa. Simples assim. ;)