"E agora que acabara de vestir-me, não tinha mais ocupação. Fui invadido por uma profunda aflição. Já se observou que a rotina da vida quotidiana, esse sistema arbitrário de ninharias, constitui um grande apoio moral. Mas acabara de vestir-me, não me restava fazer mais nada dessas coisas consagradas pelo uso e que não ofecerem alternativa. O exercício de qualquer espécie de vontade por um homem cuja consciência se acha reduzida à sensação de que está sendo morto por 'aquilo' não pode deixar de ser insignificante em relação à morte, uma atitude sem sinceridade para consigo mesmo. Não me sentia capaz disso. Foi então que adquiri a convicção de que ser morto por 'aquilo', quero dizer, a absoluta convicção, não era, por assim dizer, nada em si. O horrível era esperar."
Joseph Conrad em A flecha de ouro (L&PM Pocket).
O livro é uma aventura autobiográfica do autor, que em 1876, aos 19 anos, se envolveu no contrabando de armas para as montanhas espanholas por causa da paixão por Doña Rita, uma das lideranças do movimento legitimista. Ele só escreveu o livro quarenta anos depois.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Anotação de leitura: "aquilo" de Conrad
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