domingo, 12 de outubro de 2008

Uma tarde com Myltainho

Myltainho

Meu agradecimento público ao amigo Fernando Evangelista, professor do curso de jornalismo da Faculdade Estácio de Sá, por ter me convidado a participar de um atividade extra-classe especial na tarde de ontem. Fomos numa turma de vinte e tantas pessoas, a maioria estudantes da sexta fase, visitar o jornalista Mylton Severiano. Myltainho, como é mais conhecido, tem mais de quarenta anos de atividade profissional nos mais diversos meios, entre eles a revista Realidade, um marco na história da reportagem no Brasil (semana passada publiquei aqui uma historinha deliciosa que ele contou ao Luiz Maklouf Carvalho sobre os bastidores da revista).

Tarde chuvosa, tocamos em carreata pro Ribeirão da Ilha. Myltainho, 68 anos, mora em Floripa há cinco, numa simpática casinha verde e amarela no alto do morro, rodeada de mata e com uma vista espetacular pra Baía Sul. De segunda a sexta ele trabalha em São Paulo como editor-chefe da revista Caros Amigos - função em que substituiu o recém-falecido Sérgio de Souza. Nos fins de semana se refugia em seu cantinho com a mulher e três cachorros, um deles com três pernas. Num varandão em L nos aboletamos em cadeiras, sofás e no chão de madeira pra ouvir o mestre - e sabatiná-lo com perguntas, algumas incômodas. Afinal, como ele próprio enfatiza, a boa reportagem incomoda, é subversiva. Por isso há tão poucas hoje na grande mídia.

Por quatro horas ouvimos histórias saborosas sobre sua passagem pela Quatro Rodas, Realidade, Bondinho, Rede Globo, Folha, Estadão e vários outros. Os dribles que ele e seu grupo davam na censura da ditadura; as concessões que às vezes foi preciso fazer para conseguir publicar matérias; a aventura dos repórteres de Realide pelos rincões do país, fazendo história no jornalismo brasileiro sem se darem conta disso. Com voz baixa e pausada, sem qualquer sombra de empáfia "sabe-tudo", Myltainho nos capturou com relatos envolventes. De vez em quando despertava gargalhadas ao contar alguma anedota pincelada por palavrões. Os temas saltavam de um pra outro sem lógica rígida, com as digressões próprias de uma conversa entre amigos.

Quando vimos já era noite. O papo estava tão bom que, entre despedidas e fotos, levamos uma meia hora pra ir embora. E mais não preciso contar porque a entrevista completa vai ser publicada pelos estudantes da Estácio, aguardem.

p.s.: Conheci duas blogueiras com quem eu já tinha esbarrado na web: a Bel (Quiet Things That No One Ever Knows), moça irônica de texto afiado de quem eu tinha comentado há poucos dias, e a Flora (EcoFlora), que tem o nome adequadíssimo ao que gosta de fazer, fotografar a natureza.