sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A beleza da irmandade

Sabe lá /
o que é não ter e ter que ter pra dar /
Sabe lá...

Esquinas, Djavan

Um amigo, professor em Natal, me contou que vai depositar na conta da Defesa Civil de Santa Catarina a remuneração de um dia de aula de tai-chi pra ajudar as vítimas da enchente. Fico comovido com o gesto porque sei o quanto ele rala pra ganhar a vida. Da mesma forma, tanta gente desprovida de recursos tem contribuído dos mais diversos pontos do Brasil e de outros países.

Neste momento de desgraça coletiva, a força da irmandade é de uma beleza indescritível. Claro, também desabrocha o lado feio do engenhoso bicho humano, capaz de premeditar golpes pra arrecadar donativos pela internet, usar barcos pra saquear casas abandonadas, administrar a reconstrução com a cupidez de quem prioriza os cifrões do turismo.

Mas quero lembrar agora é de um tipo muito especial de gente boa. Os que contribuem com desprendimento e sacrifício pra pessoas que nem mesmo conhecem. É fácil ser generoso com o chapéu dos outros. De certa forma, também chega a ser cômodo doar o que não faz falta - desocupa a tranqueira dos armários e alivia culpas. Difícil mesmo é dividir o pão, se privar de algo valioso pra ajudar desconhecidos.

Quem faz isso, dizem alguns mestres de sabedoria, tem lugar garantido no céu. Disso pouco entendo. O que sei é que essas pessoas têm minha admiração profunda.

p.s.: Pra quem deseja ajudar com as próprias mãos a resgatar as vítimas: eu ia escrever sobre a importância de equilibrar solidariedade com racionalidade, mas o Cesar Valente já disse tudo neste post do seu blog De olho na capital.