À medida que passam os dias, as histórias de horror sobre a chuva em Santa Catarina se acumulam. Ontem vi com o coração apertado, no Jornal Nacional, o choro da mulher que perdeu a filha de seis anos. Meu filho de seis anos também viu e começou a se dar conta da dimensão da tragédia. As imagens que um cinegrafista amador fez de um desabamento que soterrou várias casas são arrepiantes. E ainda há tanto a desenterrar. O jornalista René Müller ouviu esta do colega Régis Mallmann:
"Uma rua em Blumenau, no bairro Garcia, simplesmente sumiu. As casas desapareceram. A Defesa Civil e os bombeiros não conseguem chegar lá".O colega Galeno Lima chama a atenção pra um detalhe na cobertura das tevês. Pelo noticiário, a impressão que se tem é que a tragédia aconteceu por causa das chuvas deste fim de semana. É certo que caiu muita água nos últimos dias, mas vem chovendo quase todo dia há mais de três meses. A terra está encharcada faz tempo, as pessoas sabiam - ou deviam saber - do risco que corriam. Muitas fatalidades podiam ter sido evitadas se o poder público e os moradores das encostas tivessem agido de maneira preventiva.
Talvez você pense: "O que adianta falar disso agora? É hora de salvar os vivos e enterrar os mortos". De fato, o momento é de emergência, e nesse exato momento tem gente trabalhando com heroismo pra salvar os atingidos. Mas isso não exclui a capacidade de pensar adiante. Não é a primeira calamidade provocada pela chuva em Santa Catarina. Nem vai ser a última, porque o estado não vai deixar de ter relevo acidentado, nem as pessoas vão de repente abandonar suas casas nos morros. Aceitar a ocorrência de desastres assim como destino imutável seria fatalismo em excesso. Fica a esperança de que a dor nos ensine alguma coisa.
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