segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Vicky Cristina Barcelona, humor e charme

Primeiro cinema do ano: semana passada vi Vicky Cristina Barcelona (na sala de cinema do CIC, que já teve seus dias de glória e agora tá mofada e com o ar-condicionado quebrado). A partir de um argumento aparentemente banal, Woody Allen constroi um filme leve, sensual e engraçado sem ser hilário. Duas turistas americanas vão passar o verão em Barcelona e ficam caídas por um pintor catalão, recém-separado de uma artista passional. As aventuras e desventuras desse "quadrilátero amoroso" são contadas por um narrador em off - recurso que muitas vezes empobrece a dramaturgia, mas nesse caso, achei que deu um ar folhetinesco interessante.

Javier Bardem, no papel de "artista latino sexy-casual", está perfeito. Os sentimentos contraditórios que ele provoca nas três mulheres - e a maneira como elas lidam com isso - são o motor da história (a versão brasileira podia se chamar "elas pintam como eu pinto"; ia fazer sucesso nas das locadoras de vídeo). As atrizes estão muito bem. Rebecca Hall faz Vicky, pra quem as emoções de Barcelona fazem questionar os planos de noivado e vida tranquila. Scarlett Johansson, a nova musa de Woody Allen, interpreta com competência, embora sem muito brilho, a mulher volúvel em busca do autoconhecimento como artista. Penélope Cruz está fantástica como Elena, a instável ex-mulher do pintor Juan Antonio. Ela acrescenta o toque de humor na pitada certa.

Retratada com a magia intensa das suas cores, sons e formas, Barcelona é uma personagem essencial à trama (não dá pra imaginar, por exemplo, Vicky e Cristina curtindo adoidado em Bruxelas). O governo da Catalunha fez um investimento rentável ao financiar o projeto. Saí do cinema louco de vontade de pegar um avião e conhecer a cidade tomando vinho tinto, coisa que os protagonistas fazem no filme inteiro (sou tão influenciável que cheguei em casa e entornei uma taça de Merlot). Enfim, Vicky Cristina Barcelona possivelmente não é o melhor de Woody Allen, mas está longe de ser dos piores e sem dúvida fica acima da média. O filme me conquistou pelo seu charme despretensioso.

p.s.: O jornalista Cláudio Versiani escreveu para Congresso em Foco suas impressões sobre Barcelona. Vale conferir.