Está quase pronto o Espírito de Porco, minha primeira experiência autoral atrás das câmeras. É um videodocumentário de 52 minutos sobre os impactos da suinocultura industrial em Santa Catarina, do ponto de vista "suinocêntrico" - a história é narrada por um porco que já morreu. Divido a direção com Chico Faganello e o roteiro com ele e a irmã, Eliane Faganello de Som. Lícia Brancher fez a produção executiva e musical e Cíntia Bittar, a edição. O projeto ganhou o prêmio Cinemateca Catarinense de 2005 e foi filmado entre 2006 e 2008, com 60 mil reais. Estamos finalizando os letreiros e a mixagem do som. Hoje o Diário Catarinense publicou uma reportagem da jornalista Alícia Alão sobre o filme.
Mergulhar no universuíno e no fazer cinematográfico documental foi uma experiência marcante. Construímos um roteiro aberto - redigido à medida que filmávamos -, a partir de algumas premissas básicas: a de que o porco é um injustiçado por atribuírem a ele responsabilidade sobre a poluição provocada pelos humanos; e que é preciso repensar essa atividade, considerando o bem-estar animal, o respeito ao meio ambiente e as técnicas adequadas de manejo, desde a alimentação e o espaço adequado até a destinação dos dejetos. Na verdade, essa transformação já está em curso, com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público e os produtores, mas ainda há muito o que fazer para que o porco possa voltar a ser feliz.
Nosso filme não tem a pretensão de ser um panfleto, nem de discutir com profundidade todos os complexos aspectos da suinocultura. A intenção é jogar uma luz sobre uma atividade que pouca gente conhece e mostar que o porco está presente na vida de boa parte das pessoas - do presunto ao aglutinador de cabeças de palitos de fósforo, da insulina à feijoada, da gelatina às válvulas cardíacas, o animal é utilizado para fabricar mais de cem produtos. É uma reflexão filosófica, com pitadas de humor, sobre a vida e a morte. E sobre a "coisificação" de gentes e bichos. Pelo caminho, abordamos de passagem a relação entre a grande indústria e os pequenos produtores, a mudança nos hábitos alimentares, o forte vínculo cultural dos catarinenses do Oeste com a suinocultura. A estréia vai ser ainda este semestre.
Arte: Frank Maia, da série de ilustrações para a coluna Fala Mané, de Aldírio Simões.
terça-feira, 17 de março de 2009
Espírito de Porco
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