quinta-feira, 30 de abril de 2009

A gripe suína e o poder da indústria pecuária


Estátua na entrada da cidade de Xavantina (SC), que se orgulha de ter a maior concentração de suínos per capita do mundo. Foto: Chico Faganello.

Pra quem tem interesse em saber o que está por trás da origem da gripe suína, recomendo a leitura de um artigo de Mike Davis, professor no departamento de História da Universidade da Califórnia e especialista nas relações entre urbanismo e meio ambiente. O texto foi publicado dia 27 no Guardian e sua tradução em português, por Katarina Peixoto, está no Carta Maior. Davis alerta para os riscos da industrialização empresarial da pecuária:
Em 1965, havia nos EUA 53 milhões de porcos espalhados entre mais de um milhão de granjas. Hoje, 65 milhões de porcos concentram-se em 65 mil instalações. Isso significou passar das antiquadas pocilgas a gigantescos infernos fecais nos quais, entre esterco e sob um calor sufocante, prontos a intercambiar agentes patógenos à velocidade de um raio, amontoam-se dezenas de milhares de animais com sistemas imunológicos debilitados. Cientistas advertem sobre o perigo das granjas industriais: a contínua circulação de vírus nestes ambientes aumenta as oportunidades de aparição de novos vírus mais eficientes na transmissão entre humanos. (...)
Coincidentemente, esta semana o videodocumentário Espírito de Porco, que Chico Faganello e eu dirigimos (com recursos do Prêmio Cinemateca Catarinense), foi finalizado e entregue à Fundação Catarinense de Cultura. Entre as questões levantadas pelo filme está o confinamento na criação industrial, que tem reflexos no bem-estar dos suínos e, por tabela, dos humanos, na água, no solo e no ar ("é o cheiro do dinheiro", brincam alguns moradores do Oeste do estado, naqueles dias quentes em que a merda de porco é captada pelo olfato a quilômetros de distância).

Santa Catarina tem uma das maiores concentrações de suínos do mundo - o rebanho supera as 50 milhões de cabeças, ou dez porcos para cada habitante. Por motivos econômicos, governo e indústria têm se esforçado em disseminar a ideia de que o problema não tem nada a ver conosco. Mas os alertas vindos de todo o planeta indicam que seria sensato pensar grande e com visão de longo prazo, isto é, fazer uma reflexão profunda sobre a validade do atual modelo de produção de carne. Nosso documentário não tem respostas prontas, quer mesmo é estimular o debate. Em breve vamos exibi-lo ao público, primeiro no oeste de Santa Catarina e depois em Florianópolis e festivais.