terça-feira, 26 de maio de 2009

O conteúdo das faculdades de jornalismo

O Christofoletti dá a dica, em seu blog, de um excelente artigo de Eugênio Bucci, As faculdades de jornalismo e seu conteúdo, publicado hoje no Observatório de Imprensa. Bucci aprofunda as sugestões que apresentou à comissão que estuda a reforma nas diretrizes curriculares pros cursos de jornalismo. Também aborda de passagem três dimensões da atual crise na profissão: a agonia dos jornais impressos, o vazio jurídico criado com a extinção da Lei de Imprensa e o debate sobre a extinção da exigência do diploma. Ele propõe a articulação do novo currículo em torno de sete eixos:

  • Linguagens.
  • Democracia e Liberdade.
  • Estudos da Comunicação.
  • Humanidades.
  • Reportagem.
  • Cultura e Crítica.
  • Gestão e Negócio.
Trechos:
... Além das diretrizes propriamente ditas, ela [a comissão] se viu instada a lidar com outra variável, sugerida pelo próprio ministro da Educação: a de abrir a possibilidade para que pessoas já graduadas por outras faculdades se formem também em jornalismo por meio de um segundo bacharelado, abreviado, mais curto. Teríamos, assim, um curso rápido (de um ou dois anos) para que engenheiros, médicos, economistas, sociólogos, advogados e outros se tornassem também jornalistas. A idéia é boa – é mesmo o caso de dizer que ela é necessária para a melhoria geral da profissão no país. O problema da comissão, um problema espinhoso, é encontrar um modo de colocá-la de pé sem melindrar seriamente o corporativismo. ...

... Adolescentes que chegam aos bancos do ensino superior movidos por seus sonhos puros e grandiosos encontram verdadeiros paredões de pessimismo e acidez. A marteladas, são forçados a se convencer de que o jornalismo não melhora o mundo, não muda a vida, não traz realização pessoal: é meramente uma ferramenta nas mãos das "elites" perversas que se dedicam sem descanso a dominar corações e mentes. O jornalismo seria a arte de tecer mentiras a favor da "classe dominante". Em pouco tempo, esses meninos são intimados a se envergonhar, a se arrepender de suas aspirações de criança e, sem perceber, passam a carregar a cruz ressentida das gerações que lhes deveriam servir de inspiração e encorajamento. Em alguns casos, as salas de aula se converteram em câmaras de triturar esperanças e utopias pessoais. Muitas vezes, ensinam a criticar (muito mal e precariamente) a imprensa, mas não estimulam (nem ensinam) a fazer imprensa. É uma pena. ...

... Infelizmente, temos visto turmas e mais turmas feridas pelas "desilusões perdidas", desilusões dos outros, em ambientes que não cultivam o orgulho próprio, que não cultivam a confiança na enorme diferença que uma história bem contada pode fazer no destino de uma pessoa, de uma comunidade, de um país. O jornalismo, muito mais do que o samba, é um privilégio. Por maiores que sejam as crises. É isso o que deveria ser ensinado nas escolas de jornalismo, nosso colégio. Mas não é. Olho em volta e, exceções à parte, não vejo altivez, não vejo convites ao talento, não vejo vibração. ...