Recuperei de meus arquivos o resumo de uma entrevista que fiz em outubro de 2004 com o líder sindical Élio Neves, representante dos trabalhadores assalariados rurais do estado de São Paulo. Ontem ele sofreu um atentado em sua chácara. Nenhuma insinuação aqui sobre possível motivo ou autoria - cabe à polícia investigar isso. Mas sem dúvida sua atuação política incomoda muita gente.
O presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados no Estado de São Paulo), Élio Neves, é crítico do “mito do agronegócio” da cana-de-açúcar. Para ele, a opressão e a injustiça são as grandes alavancas da produção, que deixa os benefícios para os usineiros e os custos para a sociedade. A entidade representa 70 sindicatos e 150 mil trabalhadores no estado.
“O Brasil se apresenta ao mundo como grande produtor de alimentos, álcool e açúcar, mas se isso nos traz muito orgulho, também nos deixa estarrecidos com as condições de trabalho”, diz. Neves critica a falta de sustentabilidade ambiental e social do “mar de cana”. “O álcool como combustível limpo é uma grande mentira”, afirma. “Não se produz álcool sem gastar petróleo em toda a linha de produção: tratores, transporte, maquinaria etc.”. Ele classifica de “desastre” o custo social da atividade econômica: “A quantidade de trabalhadores explorados e mutilados é muito grande”.
A saída, acredita, é a mobilização dos trabalhadores e a sensibilização da sociedade para a necessidade de mudança do modelo agroindustrial. Ele salienta que tentar restringir essa discussão ao corporativismo sindical é diminuir seu grau de importância, que interessa a toda a sociedade: “Na cadeia produtiva sucroalcooleira há metalúrgicos, químicos, motoristas e outras categorias que precisariam estar mobilizadas na mesma direção”.
Na avaliação do dirigente sindical, as históricas greves de 1984 e 1985 trouxeram melhorias para os trabalhadores da cana. Mas ele ressalva que da década de 1990 até os dias de hoje houve perdas, pois com a reestruturação produtiva, a estratégia patronal passou a ser extremamente agressiva contra os trabalhadores. “A modernização do setor, acelerada a partir do final dos anos 80, não foi acompanhada sequer por compensações sociais”, assegura.
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