A tarde deste domingo foi iluminada por um vídeo belíssimo: Meu tempo é hoje, documentário de Izabel Jaguaribe sobre a vida de Paulinho da Viola, com roteiro de Zuenir Ventura. Paulinho é um compositor excepcional, isso não é novidade. Sambas como Desilusão (que Marisa Monte interpretou no CD Rosa e Carvão), Pecado Capital ("Dinheiro na mão é vendaval...", tema de novela da Globo), Foi um rio que passou em minha vida (homenagem à Portela, de 1970) e tantos outros colocam o artista no pódio dos melhores da música.
Em 1991 eu o entrevistei em Natal, durante uma turnê pelo Nordeste. Ia ser uma coletiva e cheguei mais cedo, pra minha alegria. Tivemos a oportunidade de conversar sozinhos por uma hora no hotel onde ele se hospedava na Via Costeira. Ficou em mim a impressão forte de ter conhecido uma alma iluminada ("Parece que ele vive flutuando sobre o chão", diz uma de suas filhas no documentário; "Ele é capaz de bater papo com a telefonista do 102", conta a mulher dele). Sereno, simples e simpático, filosofalou um pouco de tudo, numa conversa que eu não me importaria que durasse o dia inteiro.
"Meu tempo é hoje" é uma referência a uma frase que Paulinho costuma citar - por sua vez parafraseando o samba de um colega - quando reflete sobre este que é um dos temas recorrentes na sua obra. Ele não é adepto do saudosismo nem pensa muito no futuro, prefere viver o momento com intensidade. Diz que, quanto recorda pessoas ou músicas ou lugares, aquilo tudo está vivo dentro dele no instante atual, o que realmente importa.
O documentário também me pegou emocionalmente por outros lados: as raízes clássicas do samba - Pixinguinha, Jacó do Bandolim - e o cenário musical carioca, que tanto me lembra os dois anos que vivi na cidade maravilhosa. Velha Guarda da Portela, rodas de chorinho e samba, aquele clima de humor, informalidade e poesia transbordante que contagia quem se aventura a ir além do roteiro clássico de Rio. Bom demais.
97/100.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2005
Meu tempo é hoje
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