Assim como Horácio, protagonista da Rayuela de Cortázar, gosto de divagar sobre detalhes inúteis da existência, no melhor sentido possível de inutilidade. Os fragmentos de imagens formam uma espécie de filme caleidoscópico e aditivado pela lembrança de todos os sentidos, que às vezes repriso pra mim mesmo.
A manga rosa chupada no tanque de lavar roupa.
A bolha inesperada de tempo lento no meio da multidão.
O barquinho de papel que dobrou a esquina.
A gota de leite no bigode do homem sério na padaria.
O gato dormindo enrodilhado numa casa no meio da selva.
A mão dele sobre a perna dela debaixo da mesa.
O copo quicando no chão enquanto o raio queima a árvore.
A folha seca há anos no livro e de repente sendo lida.
O menino se vendo invisível enquanto esconde seu tesouro.
As nuvens vistas da praça duma cidade desconhecida.
O rapaz andando de olhos fechados e falando sozinho.
A cadeira de balanço na calçada no fim de tarde.
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Sinestesia
Etimologia: gr. sunaísthésis,eós 'sensação ou percepção simultânea', prov. por infl. do fr. synesthésie (1865) psic 'num mesmo indivíduo, fenômeno de associação constante de impressões vindas de domínios sensoriais diferentes' (Houaiss).
terça-feira, 30 de maio de 2006
Miudezas sinestésicas (ou "meu cinema pessoal")
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