Ontem - suprema ironia, dia Internacional dos Direitos Humanos - morreu Augusto Pinochet. Infelizmente, sem ser julgado por seus crimes monstruosos. Festa e pancadaria nas ruas de Santiago. Lembro de um dia no verão de 1989, quando comprei um jornal em Cuzco e a manchete anunciava a queda de Stroessner: "Não há mal que nunca acabe".
A sombra do general tinhoso continuava de certa forma aterrorizando o Chile, anos depois de sua aposentadoria do poder. Espero que agora o povo chileno possa se reencontrar mirando pra frente. Acho que essas feridas não vão sarar nunca, mas o tempo vai torná-las mais suportáveis.
Vale ecoar o comentário da Anistia Internacional: a morte do ex-ditador deve ser encarada como um "chamado" aos governos pra necessidade de uma justiça rápida, de forma a evitar que os culpados por violações de direitos humanos escapem da punição.
Em 1989, algumas semanas depois de ler a manchete sobre Stroessner, eu entrava no Chile pela fronteira peruana. Bestamente me identifiquei como "estudante de periodismo" e fui detido pra interrogatório. Foi uma experiência assustadora e ríspida, mas sem violência física e durou só meia hora. A ditadura já estava agonizante - no ano seguinte Pinochet entregaria o poder a um presidente civil eleito.
Nem ouso comparar minha prosaica experiência com os traumas que tantos milhares sofreram. Em mim o resultado foi só um frio na barriga misturado com a sensação de humilhação e raiva impotente. Dezoito anos depois, somo meu desabafo ao da gente decente desse país encantador:
- Pinochet, filho da puta, já vai tarde!
E viva o Chile.
Arte: Frank
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