A notícia me pegou ontem tão de surpresa que fiquei sem saber o que dizer além de eebaa!!!!!! Uma reportagem que publiquei em outubro de 2006 na revista do Observatório Social ganhou menção honrosa no Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais importantes do jornalismo brasileiro. É o terceiro reconhecimento público de destaque que nossa revista ganha em apenas 12 edições de existência: em 2003 levamos um Esso na categoria meio ambiente e em 2006, coincidentemente, também menção honrosa no Herzog.
A reportagem é sobre mutilações de trabalhadores na indústria moveleira de Santa Catarina. Fico feliz com a premiação porque ela dá visibilidade ao descaso de muitas empresas com as condições de saúde e segurança dos empregados. Se a repercussão desse prêmio ajudar a salvar dedos em fábricas Brasil afora, missão cumprida.
Procurei enfatizar que a responsabilidade pelos acidentes não é só das empresas, embora elas tenham, sim, culpa no cartório - omissão também mutila e mata. Uma mudança real nessa tragédia brasileira passa pela educação. Pelo amor ao próprio corpo e à mente. Quem trabalha não pode deixar sua saúde e segurança nas mãos dos outros. Isso vale pras atividades consideradas "perigosas" e também pras que parecem até inofensivas - há quanto tempo não limpam o ar-condicionado de sua sala e ninguém reclama?
Esse princípio da Não-Delegação foi sintetizado nos anos 60 pelo movimento sindical italiano e incorporado pelo movimento sindical cutista: o convencimento de que os trabalhadores não podem mais entregar a ninguém o controle sobre as suas condições de trabalho. Outro princípio herdado dos italianos é o da Validação Consensual: o julgamento sobre o nível de bem-estar ou de intolerabilidade de determinada situação de trabalho deve ser expresso pelos trabalhadores. Sei que estamos a anos-luz de uma epifania desse nível no Brasil, mas existem avanços.
Com o perdão pelo clichê - verdade pura -, jornalismo é trabalho de equipe. Compartilho essa menção honrosa com algumas pessoas em especial:
minha família, pela paciência em enfrentar o transtorno que as viagens de trabalho provocam no cotidiano de casa; Maria José H. Coelho, "mãe" da revista; Sandra Werle, a "madrinha", que a diagramou por tantos anos; Zé Álvaro Cardoso, do Dieese/SC, que fez a ponte com o sindicato; Marques Casara, parceirão, um dos melhores repórteres que conheço; Sérgio Vignes, repórter fotográfico que me acompanha há tempo em aventuras e roubadas; Frank Maia, autor da arte e infografias desta e outras reportagens; Jeanine Will, suporte logístico nota dez; Kjeld Jakobsen, apoio fundamental ao jornalismo investigativo na organização; todos os demais colegas e ex-colegas do Observatório Social, que este mês apaga dez velinhas de aniversário; e aos trabalhadores e trabalhadoras de São Bento do Sul.
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