Rogério Christofoletti faz um comentário lúcido sobre a decisão do governo de proibir o consumo de bebidas alcoólicas nas rodovias federais brasileiras.
Tenho visto e ouvido muita besteira nos últimos dias sobre a medida do governo que proíbe o comércio de bebidas em estradas federais. Tem chiadeira dos comerciantes, lei da mordaça entre os patrulheiros e algumas manifestações de motoristas. ...Concordo 100%. Não se trata aqui de uma lei que restrinja o direito individual de colocar a própria vida em risco, como pular de body-jumping ou tomar uma garrafa de uísque todas as noites na varanda de casa. É uma questão de saúde pública em que os infratores colocam em risco direto a vida de outras pessoas.
O governo está certo? Está. E a medida demorou. Deveria ter sido implementada antes, bem antes. O governo tardou em atuar. E agora, faz apenas o necessário, nada mais que isso. ...
A proibição da venda de bebidas em estradas federais não é populista, nem moralista. As mortes no trânsito são questões de saúde pública. As estatísticas são suficientemente claras e trágicas. ...
Não é preciso ser especialista em trânsito - basta ser brasileiro de estatura mediana - pra perceber um detalhe fundamental: só a lei, sem uma campanha forte de educação, periga não pegar. Uma campanha assim precisa ser sistemática (de longo prazo), de abrangência nacional (não só nas estradas federais, como bem coloca o Rogério) e com linguagens diferenciadas pra diversos públicos - motoristas, comerciantes, crianças e adolescentes.
As abordagens também precisam ser diferenciadas e complementares. Meu palpite é que informação sobre os riscos e sobre as punições aos infratores - ou mesmo a estratégia do choque, como outdoors mostrando carros esmagados - tem efeito limitado se não vier acompanhada de mensagens que incentivem comportamentos positivos. Por exemplo, o orgulho de contribuir para a fama do brasileiro como bom motorista (tou delirando?).
Tudo isso só caminha com a vontade política de todas as esferas de governo, o apoio maciço da mídia e o comprometimento coletivo. Mas o tamanho do desafio não deve desanimar. Um passo de cada vez. Espero que as estatísticas pós-carnaval possam indicar um avanço.
p.s.: Botelho, no comentário, toca num ponto fundamental: pra que a lei pegue, é preciso ter como fiscalizá-la. O efetivo da Polícia Rodoviária Federal no país é ridículo.
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