quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Os livros de auto-ajuda e a filosofia grega

Em comentário ao meu texto sobre o timing, Lígia Fascioni, comparsa no coletivo +D1, lembra que também escreveu sobre o assunto. Seu artigo O segredo do status é mais que uma crítica contundente aos livros de auto-ajuda. É uma contribuição importante pra gente refletir sobre os nossos limites. Lígia recupera alguns conceitos da filosofia grega pra alertar: desconfie quando tentam lhe convencer que a chave do sucesso só depende da sua força de vontade. Na opinião dela - concordo 100% - a auto-ajuda pode até realmente ajudar algumas pessoas (principalmente seus autores), mas contribui mesmo é pra detonar a auto-estima dos incautos. A busca por sucesso e status é angustiante porque a referência passa a ser o que os outros consideram ideal, não você.

(...) Escondida lá no fundo da livraria , a Marilena Chaui, no excelente "Convite à filosofia", explica que um dos legados mais importantes da filosofia grega para o pensamento ocidental é a formalização da diferença entre o que é necessário (o que não pode ser senão como é) e o contingente (que pode ou não ser). Além disso, os gregos nos ensinaram que o contingente pode ser dividido entre o acaso e o possível.

Olha só: o necessário é aquilo que a gente não pode escolher, pois acontece e vai acontecer sempre, independente da nossa vontade. Assim, sempre haverá dias e noites; o tempo vai passar; todas as coisas serão atraídas pela gravidade; você vai morrer algum dia.

Já o contingente é aquilo que pode ou não acontecer na natureza ou entre os homens. Quando o contigente é do tipo acaso, também não está em nosso poder escolher. Exemplos de acaso: não posso determinar se um motorista bêbado vai ou não abalroar meu carro e provocar um acidente; não posso optar por ser ou não assaltado; também não posso arbitrar que meu pai seja ou não um jogador compulsivo nascido na Croácia.

Que coisa, heim? Então posso escolher nada? Bem, pode. É justamente por isso que existe o segundo tipo de contingente: o possível. O possível é tudo aquilo que está em meu poder mudar ou não. Posso optar por fumar ou não; posso ficar até mais tarde estudando ou vendo televisão; posso ouvir uma fofoca calada ou contar para todo mundo; posso ler o texto até o fim ou parar por aqui.

Sacou como os gregos eram espertos? Essa estrutura lógica de pensamento nos permite concluir duas coisas importantíssimas: nem somos guiados cegamente pelo destino, daquele tipo "o avião caiu porque Deus quis", nem tampouco podemos tudo, mover céus, montanhas e mares ao sabor dos nossos desejos. Algumas coisas a gente pode mudar, outras, não! (...)
O artigo inteiro está aqui.

p.s.: Lígia cita o livro Desejo de status, de Alain de Botton, professor de filosofia da London University. Desde já, entra pra minha lista dos "a ler". Dele li e resenhei pra editora Rocco o ótimo As consolações da filosofia.