Coisa boa ir ao cinema, coisa linda encontrar os amigos. Quando isso acontece ao mesmo tempo, a alegria é em dobro. No sábado, saí do meu claustro campechano pro Centro Integrado de Cultura com a certeza de que o FAM traria momentos de aquecer o coração. Não me enganei. Em sua décima-segunda edição (6 a 13 de junho), o Florianópolis Audiovisual Mercosul está abrindo espaço pra muita gente talentosa apresentar suas produções em curta, média e longa metragem. Cinema de graça pra quem quiser, num evento que sacode o marasmo cultural pré-inverno da Ilha de SC. Em paralelo estão rolando debates importantes pro futuro da produção audiovisual independente no Brasil, nestes tempos de atribulada gestação da tevê pública e da tevê interativa.
Perdi a abertura na sexta, mas no sábado encarei o CIC em dose dupla. De manhã levei Miguel e Bruno à mostra de vídeos infantis. Destaque pra Leste do sol, oeste da lua, de Patrícia Monegatto Lopes, que traz como protagonista a linda Heleninha, filha do André Gassen e da Bia. Foi emocionante ver essa garota que conheço desde bebê encarar a câmera com competência. O preferido dos meninos foi O sonho de Jonas, história de um pintinho em busca do aconchego perdido do ovo. Adoraram a cena de Jonas andando de escada rolante. Na saída conheci pessoalmente o Rogério Dévio, com quem troco idéia há um tempão numa lista de e-mail.
À tarde fui conferir a mostra de vídeos. Um ou outro tedioso, mas a maioria, ótima. Gostei em especial destes: o colombiano Hoy es un día distinto, de Pablo González, sobre corrupção policial; Amanda e Monick, de André da Costa Pinto, documentário sobre travestis paraibanos e superação do preconceito (as duas histórias incríveis e tocantes compensam as falhas técnicas); Aquário, ficção de Cíntia Domit Bittar com uma narrativa fragmentada sobre relacionamento frustrado e desejo; À luz de Schwanke, de Ivaldo Brasil e Maurício Venturi, sobre o artista joinvilense e sua fixação por luz e sombra; e o argentino Después de hoy... soy, de Lucas Schiaroli, sobre o momento imponderável que define a vida.
À noite a fila pra ver o longa de Penna Filho, Doce de coco, tava impossível de encarar. Os mil lugares do teatro do CIC não foram suficientes pra todo mundo - quem não conseguiu entrar vai ter uma segunda oportunidade na sessão extra desta terça 10 às 10h. Entre a sala de cinema e uma mesa no Matisse, fui encontrando na multidão com uma penca de gente boa. Comentamos filmes, elogiamos a beleza de Julia Lemmertz, a homenageada do FAM; tomamos uma rodada de chope bancada pelo diretor que tava em nossa mesa, o Ivi Brasil, mais outras tantas por nossa conta; falamos bobagem até mais tarde, naquele ritmo dos papos sem começo, meio e fim, cheios de digressões, parênteses, gargalhadas e sacaneadas afetuosas, habituais entre amigos que se conhecem há tempo.
Depois o pessoal debandou pra continuar a festa em outro lugar. Me encostei no balcão pra trocar idéia com um amigo espanhol e com um fotógrafo uruguaio que conheci ali - depois de algumas cervejas, meu portunhol castiço ganha uma fluência que só vendo. Falamos de viagens, de fogueiras, de Guimarães Rosa - e o Rafa me recomendou com ênfase um romance de Fausto Wolff que não lembro o título agora. Por fim zarpei - gosto de sair das festas enquanto estão boas. No domingo a continuação foi na Lagoa. Também ótima, e com fotos. Depois conto.
1: Helena Gassen em Leste do sol, oeste da lua.
2: Jonas, o pintinho saudosista dos tempos de ovo.
3: Laura, personagem do curta intimista Aquário.
4: Luiz Henrique Schwanke, artista catarinense.
Fotos: Divulgação/FAM
domingo, 8 de junho de 2008
Um sábado de cinema e amigos
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