quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Amazônia, nome aos bois: vídeo

Este vídeo traz a íntegra da apresentação sobre as empresas envolvidas no desmatamento da Amazônia, ocorrida ontem no seminário "Conexões Sustentáveis: São Paulo – Amazônia". É uma aula de Brasil real, que devia ser vista nas escolas, parlamentos e outros fóruns de debate. Os jornalistas Leonardo Sakamoto e Marques Casara relatam alguns estudos de caso que realizaram na região do Xingu sobre as conexões de cadeias produtivas da ilegalidade com a cidade de São Paulo - e, por extensão, com o restante do Brasil e com outros países. Essa relação é bastante próxima e consistente. No caso da carne, por exemplo, os principais supermercados e restaurantes do país compram de frigoríficos que adquirem gado criado sem licença ambiental.

O caso da madeira é semelhante. Madeireiras sistematicamente multadas por fazer derrubada ilegal de árvores vendem madeira "esquentada" para grandes empresas como a Tramontina e lojas de alto padrão como Louis Vuitton e Empório Armani. O produto chega ao consumidor final, no Brasil e em outros países, como "madeira certificada". A Sincol, com sede em Caçador, Santa Catarina, é a maior exportadora de portas e janelas da América Latina. Embora afirme em seu site que vende madeira certificada, ela é dona de uma madeireira no MT que está sendo processada por invasão de terra indígena, grilagem de terras, derrubada e armazenamento ilegal de árvores. Procurada pelos repórteres, a empresa preferiu não se manifestar. Uma informação que causou surpresa no público: a Pampa Exportações, uma das grandes compradoras de madeira ilegal no Pará, é presidida por um membro do Conselho de Sustentabilidade do Banco Real.

Chamam a atenção na palestra as desculpas para justificar a participação nessas cadeias predatórias. Algumas empresas alegaram que não tinham conhecimento sobre a conduta de seus fornecedores, embora as informações sobre autuações do Ibama e a "lista suja" do trabalho escravo estejam disponíveis ao acesso público. Houve caso em que os repórteres constataram informação falsa no balanço social. Casara exortou o governo a assumir seu papel fiscalizador e as empresas citadas a romper relações com os fornecedores de produtos ilegais. Sakamoto chamou a atenção para a responsabilidade dos consumidores: "Comprar algo é um ato político". Depois da palestra deles, o gerente do Ibama em Altamira (PA), Roberto Scarpari, explicou como funcionam os processos de esquentamento de madeira.