terça-feira, 14 de outubro de 2008

A destruição da Amazônia: nome aos bois

Vou lhe passar o link pra um estudo que dificilmente terá o espaço que merece na grande mídia, por um motivo simples: suas conclusões são incômodas, contrariam interesses comerciais milionários. As 43 páginas de Quem se beneficia com a destruição da Amazônia (pdf, 9,35 MB), divulgadas hoje à tarde em São Paulo no seminário Conexões Sustentáveis, trazem informações estarrecedoras sobre a voracidade predatória das corporações. Também nos fazem refletir sobre nossa responsabilidade como consumidores. Várias dessas empresas que lucram fortunas às custas do desmatamento ilegal fabricam produtos que provavelmente usamos no cotidiano.

O estudo é iniciativa do Fórum Amazônia Sustentável e do Movimento Nossa São Paulo. Foi realizado pela ong Repórter Brasil, coordenada pelo jornalista e cientista social Leonardo Sakamoto, e pela Papel Social Comunicação, do amigo jornalista Marques Casara. Eles e uma equipe de colaboradores fizeram uma minuciosa investigação de meses para desvendar alguns elos de diversas cadeias produtivas, que na ponta amazônica têm atividades ilegais em Mato Grosso e no Pará. Esse processo de ocupação predatória, que desrespeita a legislação trabalhista e ambiental e em muitos casos viola direitos humanos, também tem sido financiado pelo Estado brasileiro - por exemplo, através de empréstimos do BNDES.

Segue um brevíssimo resumo com alguns nomes que pincei do texto (a íntegra dos estudos de caso traz preciosas informações de contexto e também as versões das empresas que quiseram se manifestar):

Quatro Marcos. Com sede em MT, é um dos maiores frigoríficos do Brasil. Um terço de sua receita vem das exportações.
O problema: Unidades de abate apresentaram graves problemas ambientais e trabalhistas. A empresa comprou gado de empregador que figura na “lista suja” do trabalho escravo. Por fim, o nono maior desmatador da Amazônia, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, pertence à família que controla o frigorífico.

Friboi. Com sede em São Paulo, é o maior frigorífico do mundo. Tem cerca de 40 mil empregados e faturou R$ 4,7 bilhões no ano passado.
O problema: A unidade do Friboi de Barra do Garças (MT) adquiriu gado de um pecuarista que teve área de sua fazenda embargada pelo Ibama por desmatamento ilegal.

Tramontina. Nascida no RS, fabrica utilidades domésticas. Tem dez fábricas no Brasil e centros de distribuição em cinco países.
O problema: A Tramontina manteve relações comerciais com empresas multadas diversas vezes por beneficiamento e transporte de madeira ilegal.

Sincol. Com matriz em Santa Catarina e filiais em São Paulo, Paraná, Miami (EUA) e Porto Rico, está entre as maiores empresas do setor madeireiro no país.
O problema: A empresa controla a madeireira Sulmap Sul Amazônia Madeiras e Agropecuária, com sede em Várzea Grande (MT), autuada por crimes ambientais e acusada de envolvimento em “grilagem” de terras.

Mahle. Multinacional de origem alemã com sede em Mogi-Guaçu (SP), desenvolve e fabrica peças para a indústria automotiva.
O problema: Um de seus fornecedores utiliza matéria-prima oriunda de garimpos localizados em Altamira (PA) que funcionam sem licença ambiental e não respeitam a legislação trabalhista.

Bunge. Multinacional holandesa, atua no Brasil na produção de insumos e na fabricação de produtos para consumo final na indústria alimentícia. Também fabrica fertilizantes.
O problema: A Bunge adquiriu soja de fazenda com área embargada pelo Ibama.

ADM do Brasil. Terceira maior trading de soja em atuação no Brasil, a Archer Daniels Midland Company exporta grãos e farelo de soja, fabrica biodiesel e produtos alimentícios.
O problema: A empresa manteve relações comerciais com produtor autuado por crimes ambientais na Floresta Amazônica.

Caramuru. Maior empresa no setor graneleiro no país com capital 100% brasileiro.
O problema: Foi identificada adquirindo girassol de produtor autuado por desmatamento em diferentes propriedades.

Esse estudo terá continuidade e trará surpresas nos próximos meses.