Maurício Oliveira escreveu um excelente texto em seu blog Vila de frila, com dicas pra quem quer enfrentar os ônus e bônus do jornalismo profissional sem as amarras da carteira assinada. Destaco dois itens:
...Hoje faço frilas em período parcial, mas já passei um bom tempo vivendo profissionalmente assim como o Maurício e asseguro que suas orientações são preciosas. Entre as vantagens da vida de frila estão a deliciosa liberdade, conquistada com tempo e suor, de dizer não aos trabalhos chatos e mal pagos (com a ressalva que ele bem faz), gerir os seus próprios horários e - importante - se pautar em projetos próprios, autorais.
- A diversidade e solidez dos meus contatos atuais me dão segurança suficiente para um privilégio: se alguém com o qual nunca trabalhei me procura, só aceito o frila se for divertido ou bem remunerado - ou, melhor ainda, as duas coisas ao mesmo tempo. Trabalho chato e mal pago só topo fazer, e ainda assim muito de vez em quando, para os camaradas de longa data.
- O que escrevi acima tem a ver com a necessidade que sinto hoje de selecionar os frilas, por limitação de tempo, mas aprendi na prática que o trabalho chato ou mal remunerado de hoje pode propiciar o trabalho legal e bem pago de amanhã. Já tive provas disso inúmeras vezes.
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O outro lado da moeda é o que Maurício destaca no título do post: a insegurança. Sim, às vezes a vida de profissional liberal pode ser uma montanha-russa que alterna meses de altos rendimentos com outros de vacas magras. Reflexão zen: vida de frila é pra quem tem estômago forte pra aceitar o fato de que a estabilidade é uma ilusão (quem lhe garante que, num emprego fixo, amanhã o seu chefe não acorde de mau humor e lhe dê um pé na bunda?)
Se, mesmo sabendo da "instável" vida de frila, você quer entrar nessa, posso acrescentar alguns pitacos, sem a menor pretensão de achar que estou ensinando regras pétreas. São constatações sobre coisas que valem pra mim (ou deveriam, pois nem sempre consigo abraçar todas como gostaria) e talvez possam servir pra você:
- Faça uma poupança com uma parte da renda, o seu "Fundo de Garantia". Assim dá pra atravessar as entressafras sem muito estresse.
- Inclua na sua remuneração um valor que cubra o que você teria de rendimento com férias, décimo-terceiro, participação nos resultados etc.
- Separe o dinheiro dos impostos. Gastá-lo como se fosse seu pode ser doloroso depois.
- Os três itens anteriores (fáceis de falar, difíceis de pôr em prática) levam a este: aprenda a cobrar o valor justo. Nem demais que afaste clientes, nem aviltante com o seu trabalho.
- Regue a network. Uma boa rede de contatos, alimentada pelo interesse genuíno nas pessoas e não por intenções imediatistas, é meio caminho andado.
- Desconcordando em parte com o Maurício: reconheço que ser generalista pode ser vantajoso, pois abre o leque de opções. Mas ter uma ou mais especialidades pode ser útil pra atingir certos nichos.
- Amplie o horizonte. O teletrabalho chegou pra ficar. Talvez a oportunidade que não aparece na sua cidade ou estado esteja logo ali, e você nem precise se mudar pra São Paulo pra chegar lá.
- Desenvolva a disciplina. Este é um dos mais valiosos atributos do bom frila. Não só pra levar a bom termo os trabalhos espinhosos, que exigem dedicação em madrugadas, domingos e feriados, como pra administrar com sabedoria o tempo e os rendimentos.
- Continuação do anterior: cumpra os prazos e compromissos. Claro que, com os imprevistos, os deadlines podem ser repactuados com o cliente, mas essa relação precisa ser clara e transparente desde o princípio: o que fazer, como, por quanto, data da entrega e data de pagamento.
- Juntou grana suficiente pras férias? Agende-se e tire férias!
- Crie um "dia desplugado". Ainda preciso me esforçar nesse ponto, mas tenho tentado dedicar o sábado exclusivamente a assuntos não-profissionais. A ideia básica é que, se você não consegue parar nem um único dia da semana, está faltado algum planejamento.
Fico aqui por enquanto, mas adoraria continuar esse papo com outros profissionais frilas, que certamente têm boas ideias pra compartilhar. Quais são as suas dicas?
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