domingo, 21 de dezembro de 2008
Lagoinha do Leste, a missão
Companheirada de Floripa, que tal abrir 2009 fazendo uma trilha pra "praia mais bonita do Brasil que tá na vizinhança"? Um dia bom pode ser sábado, 3 de janeiro. Dá tempo suficiente pra curar a ressaca do reveillon e ainda sobra o domingo pra vadiar antes de começar a ralação do ano novo.
p.s.: o Caio disse que eu tou "organizando" a parada. Eu mal consigo me organizar :) Só joguei a mensagem na garrafa blogovirtual pra botar uma pilha na galera do bem, sem senha nem convite. Pela experiência de outras trilhas, quando a gente organiza demais, ninguém vai :)
sábado, 20 de dezembro de 2008
Paraísos
Da @belcolucci no tuíter:
Menina no metrô: mãe, se está estação é o paraíso, vamos parar pra ver o vovô?A continuação imaginada pela Carol Grilo:
- Não vai dar, querida. Vovô está no inferno.Minha continuação:
- Não vai dar, querida. Vovô está fazendo compras na 25 de março.
Monsieur Rubinhô
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Gargalhadas na noite
Caio Cambalhota e André Gassen, movidos a Original, na inauguração do Dom do Espetinho, bar do Leo na Lagoa da Conceição.
Lagoinha do Leste, vamos nessa
A idéia de uma expedição à Lagoinha do Leste em janeiro tá tomando corpo nos comentários. Pois bem, tudo combinado, nada decidido. Num belo dia de sol, faço a chamada geral e a gente se encontra no dia seguinte (também de sol, oras; chega de chuva) na Armação antes das 9h pra encarar a trilha do costão. Quer aparecer vai. Quem dormir no ponto vê as fotos depois.
Tempo de reconstrução
O Valor Econômico publicou ontem minha reportagem sobre a reconstrução em Blumenau e em Ilhota depois da enxurrada. O segundo texto, sobre a visita ao Morro do Baú, foi bastante condensado. Coloquei aqui a versão na íntegra, com diversas fotos de Juliana Kroeger que também não saíram no jornal.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Lagoinha do Leste entre as 10+
Li agora no blog do Maurício que a praia da Lagoinha do Leste, em Floripa, foi incluída pelo Guia Quatro Rodas na lista das 10 melhores praias do Brasil. Com toda a desconfiança que tenho quanto a listas desse tipo, reconheço a coincidência de opiniões: a Lagoinha é uma das "10 melhores praias do universo conhecido por mim" (e olha que ainda nem fiz essa lista). O acesso a ela pelo costão da praia do Matadeiro, numa caminhada de duas horas com visual fantástico do marzão, é também a trilha mais linda da Ilha de Santa Catarina.
p.s.: Faltou a matéria lembrar que, como o acesso à Lagoinha é relativamente difícil - só a pé de de barco -, os visitantes devem trazer de volta todo o lixo que produzirem.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Aventuras da Família Brasil
O menino: - Vô, papai noel existe?
O avô, lendo o jornal: - Este ano não.
Luis Fernando Verissimo, sempre atual.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
De enxurrada, guerra, jornalismo e odores
No domingo concluí uma reportagem pro Valor Econômico sobre a pós-tragédia no Vale do Itajaí. Eu já tinha enviado o texto pro jornal e precisei atualizar o número de mortos - agora são 128, acharam o corpo de um homem em Ilhota. As cenas e o cheiro de destruição no Morro do Baú continuam voltando à memória sem pedir licença. Efeito colateral da atividade do repórter que vai a campo: o envolvimento emocional é inevitável porque a gente cria vínculos, mesmo que superficiais. De perto, o olhar e a respiração das pessoas deixam marcas.
A enxurrada em Santa Catarina tem sido comparada com freqüência a uma guerra. Minhas referências bélicas são só de livros, reportagens (lidas/vistas), filmes e relatos de colegas, mas imagino que não seja de todo descabido o paralelo. No estado de suspensão momentânea ou duradoura da vida normal, as pessoas passam a depender muito mais dos instintos. Surgem os atos de bravura e os abjetos casos de ruindade. Tudo demasiadamente humano, sem verniz. No meio disso tudo, os repórteres colocam sua subjetividade a serviço do desafio narrativo. De certa forma pode ser excitante, mas qualquer glamour que se enxergue nesse tipo de trabalho é pura ilusão.
Amigos repórteres que cobriram conflitos armados (Marcelo Spina, Fernando Evangelista) comentaram comigo sobre como é difícil conciliar a emoção com a obrigação de apurar e contar. Os profissionais reagem de diferentes maneiras às situações-limite. Existem os que se abrigam na proteção do humor ou do cinismo. Outros se fecham. Alguns se tornam viciados em perigo e desenvolvem a sensação de ter o corpo fechado, como contou uma vez o José Arbex, que nos 80 era correspondente da Folha de São Paulo na União Soviética e cobriu a guerra do Afeganistão.
Medo: quem tem, tem. Quem não tem, é porque falta um parafuso. Marques Casara me contou que sentiu o cheiro fedido do medo no próprio suor enquanto entrevistava, usando um microfone escondido, um chefe de esquadrão da morte no sertão nordestino. No Afeganistão, Yan Boechat se empolgou ao ver um tanque russo abandonado na margem da estrada. Foi até lá e percebeu, pelos gritos dos nativos, que tinha caminhado por um campo minado. Voltou pisando nos próprios passos e sabe-se lá que cheiro sentiu. Em Ramallah, na Palestina, Fernando Evangelista viu uma senhora ser abatida por um franco-atirador a poucos metros dele, e nada pôde fazer pra ajudá-la. Na Somália, a câmera filmadora de Marcelo Spina foi atingida na lente por um tiro de fuzil. Depois, a janela de seu quarto no hotel foi metralhada e ele, em choque, decidiu sair do país.
Jornalista, bombeiro, policial ou médico na emergência de hospital público, o profissional que lida com situações de tensão e risco precisa ter estabilidade emocional pra realizar o trabalho - e estômago pra suportar cheiros bem desagradáveis -, senão termina atrapalhando mais que ajudando. Cada um emprega os artifícios mentais de sua preferência pra manter a sanidade e seguir em frente. A correta avaliação do tamanho do próprio ego é uma garantia a mais de avançar sem muitos arranhões - embora, na vida, qualquer garantia deva ser vista com ceticismo. Coloco tudo na balança e acho que encarar o tédio dos trabalhos sem sentido é um desafio bem mais penoso.
Mais chuva em Santa Catarina
São Pedro voltou a abrir as torneiras. Entre ontem e hoje, choveu na região da Grande Florianópolis o equivalente à quantidade de chuva de todo o mês de dezembro. Em Palhoça, no continente, 120 pessoas tiveram que deixar seus apartamentos por causa de um deslizamento de terra. Houve quedas de barreiras em várias estradas do litoral. O sul da Ilha, onde moro, mais uma vez foi bastante atingido. Pela manhã a SC-405 teve o trânsito interrompido por causa da lâmina dágua que cobria o asfalto. Algumas famílias estão desalojadas no Campeche e várias ruas, praticamente intransitáveis - a minha, por exemplo.
Meu quintal alagou de novo. Amanhã, se a água tiver baixado, o pedreiro começa as obras de contenção do muro dos fundos, que ficou abalado com a pressão das águas de novembro. Também precisamos adotar uma solução efetiva pra evitar novos alagamentos - é isso ou assumir de vez a vocação pra dono de pesque-pague. Um engenheiro conhecido nosso fez uma vistoria e recomendou alternativas, entre elas a drenagem do quintal e a construção de uma cisterna com uma bomba dágua automática. Galerias pluviais nas ruas, uma obrigação da prefeitura, ainda são uma miragem.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Troféu Olívio Lamas
Amanhã a partir das 20h, na Assembléia Legislativa, tem entrega do II Troféu Olívio Lamas de Fotojornalismo. O Lamas foi um cara muito legal, talentoso e íntegro. Sua memória é guardada com carinho pelos colegas. A promoção é do Sindicato dos Jornalistas de SC e da Associação Catarinense de Imprensa.
Relatos sobre trauma e superação
A jornalista Raquel Wandelli, professora da Unisul, foi uma das companheiras de viagem ao Vale do Itajaí na semana passada. Ela escreveu dois relatos sobre os atingidos pela enxurrada: um sobre a visita ao Morro do Baú, em Ilhota, e o outro sobre o trauma da tragédia que atinge adultos e crianças. Fotos de Juliana Kroeger.
Voluntários da safadeza e soldados da rapinagem
Reportagem de Edson Silva e Francis Silvy pra RBS-TV em Blumenau, com microcâmera escondida, mostra militares do Exército e falsos voluntários desviando donativos que iriam pros atingidos pelas chuvas.
Livro sobre a origem das radionovelas
Ricardo Medeiros vai lançar nesta quarta 17, em Floripa, um livro sobre a origem das radionovelas até a sua chegada no meio radiofônico. O que é Radioteatro sai com o selo da Editora Insular e o apoio da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão, Acaert. O lançamento é às 19h no Espaço Cultural Jerônimo Coelho, na Assembléia Legislativa. Segue o minicurrículo formal do jornalista e o da minha memória afetiva:
Ricardo é doutor em Rádio pelo Departamento de História da Université du Maine (Le Mans – França). Já publicou Dramas no Rádio - a radionovela em Florianópolis nas décadas de 50 e 60, História do Rádio em Santa Catarina, Caros Ouvintes-os 60 anos do rádio em Florianópolis e CBN Diário: uma luz no apagão. É professor do curso de Jornalismo da Faculdade Estácio de Sá e assessor de imprensa da Secretaria Municipal de Educação.
Ricardo foi a primeira pessoa que conheci no curso de Jornalismo da UFSC quando cheguei a Floripa em 1986, e meu primeiro guia de boêmia catarina. Desde estudante ele já tinha paixão pela expressão oral - tanto que os colegas o chamavam de "coordenador do telefone". :) Junto com Cacau Lino e Maneca Mendes, fazia um esquete humorístico que animou muitas festanças, a Rádio Fofinha. Como se vê, continuou a carreira fazendo o que gosta. Hoje ele é meu vizinho de bairro.
O quê: lançamento do livro O Que é Radioteatro
Quando: Quarta-feira, dia 17
Horário: 19h
Local: Assembléia Legislativa de Santa Catarina, espaço Jerônimo Coelho
Preço do livro: R$ 25,00
Número de páginas: 112
sábado, 13 de dezembro de 2008
Especialistas falam sobre causas dos deslizamentos
Em reportagem para o portal informativo swissinfo, Geraldo Hoffmann entrevista especialistas que concluem: a causa dos acidentes ocorridos com a enxurrada em Santa Catarina não é só da mudança climática. Trecho da entrevista com a professora de Engenharia Ambiental da Universidade de Blumenau (Furb), Beate Frank:
...A íntegra da reportagem
Beate Frank têm dados que confirmam a avaliação do especialista suíço. "As montanhas do Baixo Itajaí são muito frágeis. Elas têm entre 600 milhões de 2,4 bilhões de anos. Por causa dessa fragilidade, em grande parte, não deveriam ser ocupadas. Mas, após as enchentes de 1983 e 1984, a urbanização dos morros se acelerou. Devido à falta de planejamento e fiscalização, muitos desses locais se tornaram zonas de risco, que, em parte estão mapeadas, mas não são interditadas pelas administrações municipais."
A pesquisadora menciona ainda dois outros problemas. Desde 1983, foram feitos mapas de risco de dez cidades ao longo do Rio Itajaí-Açu. "Até agora, apenas Blumenau, Gaspar e Rio do Sul respeitam esses mapas no zoneamento urbano."
E mais: apenas dois dos 52 municípios do Vale do Itajaí respeitam o Código Florestal, segundo o qual, ao longo de rios com até 10 m de largura, deve ser mantida uma faixa de proteção de 30 m; às margens de rios mais largos, 100 m. As imagens aéreas da catástrofe comprovam que o código é simplesmente ignorado.
"Nem as estradas federais e estaduais respeitam essa lei e, por isso, em parte, foram arrancadas pelos rios. Nossas cidades – estradas, casas etc. – estão construídas diretamente nas margens dos rios. A maioria se satisfaz com uma faixa de proteção de 5 m. Por isso, as enxurradas dos rios adjacentes causaram tantos estragos", explica Frank.
...
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Uma visita à área vermelha no Morro do Baú
Cheguei ontem de uma viagem de trabalho a Ilhota e Blumenau, onde fui levantar informações pra uma reportagem sobre a reconstrução depois da enxurrada. Foram dois dias impactantes, não só pelas cenas de destruição que pude presenciar, como pelo trauma emocional das pessoas com quem tive contato. Ouvi histórias de perdas terríveis que ainda estão sendo assimiladas com dificuldade (atenção psicólogos, Santa Catarina precisa de voluntários!). Também pude observar belos exemplos de força de caráter, solidariedade e coragem diante das adversidades.
Fui acompanhado da repórter fotográfica Juliana Kroeger, da professora de jornalismo Raquel Wandelli (Unisul) e do estudante de jornalismo Vicente Figueiredo (faculdade Estácio de Sá). Depois de passarmos por duas barreiras policiais, entramos na "área vermelha" da região do Morro do Baú, no município de Ilhota, onde o acesso ainda está parcialmente interditado pela Defesa Civil por causa do risco de novos deslizamentos de terra. Eu já esperava encontrar uma situação feia, mas a realidade conseguiu se mostrar pior que as cenas mostradas na tevê. Três semanas depois da enxurrada, o quadro ainda é de devastação.
Braço do Baú é uma comunidade agrícola de 1.300 habitantes onde morreram 13 pessoas soterradas na tragédia. Entramos na "área vermelha" acompanhados de Nelson Richarts, dono de um posto de gasolina e de uma pequena facção de toalhas que se ofereceu para nos guiar. Richarts perdeu oito parentes e dois funcionários. Toda a área permanece sem energia elétrica e com acesso precário. Seguimos até o mercadinho Richarts, de um primo dele, o último ponto onde dá pra ir de carro - a partir dali as estradas foram varridas do mapa, isolando as comunidades do Alto do Baú e do Baú Seco.
Marrom é a cor predominante. A estrada barrenta margeia um riacho turvo que teve o curso desviado. Pelo caminho, árvores e postes tombados, detritos de todo tipo. Cheiro de matéria orgânica em decomposição. Residências, pequenos negócios e galpões destruídos. Muitas casas abandonadas com portas e janelas abertas, indicando que seus moradores deixaram tudo pra trás às pressas. No jardim de uma delas, estátuas de Branca de Neve, do Príncipe, dos Sete Anões e da Bruxa estavam cobertas de lama até a cintura. Reproduções de estátuas greco-romanas jaziam como que abatidas por um pelotão de fuzilamento. Na sala e nos quartos, fotos dos familiares na estante, um crucifixo, poltronas, papéis, roupa de cama. E muita lama.
Gentil Pedro Reichert, dono da Marcenaria São Pedro, mostrou como as máquinas de sua empresa foram soterradas pela lama vinda do morro. Estava revoltado com alguns jornalistas, que atribuíram o desastre ao desmatamento para extração de madeira ("aqui nós sempre trabalhamos com madeira de reflorestamento vinda do Paraná") e para plantações de banana - os deslizamentos, pelo que pudemos observar, ocorreram em lugares de mata fechada. Havia também uma tensão visível dos locais em relação aos policiais militares - que restringem o acesso - e aos especialistas, que vão e vêm e não lhes dão retorno sobre as avaliações técnicas.
Uns poucos moradores estão visitando pela primeira vez a área interditada e ensaiam um tímido início de limpeza dos estragos nas casas liberadas pela Defesa Civil (as marcadas com a letra C permanecem com acesso proibido). Vi uma tristeza imensa nos olhos dessas pessoas, não só pela perda do que conseguiram juntar com anos e anos de trabalho, mas também pela maneira súbita como tantos parentes, amigos e vizinhos desapareceram. Lembrei de um conto de Guimarães Rosa em Sagarana sobre uma vila mineira atacada pela malária. Minha impressão é que aquele lugar tende a definhar. Muitos já foram embora, ou por não terem mais onde morar, ou porque querem esquecer o que viveram ali. Na volta, paramos no posto de Nelson Richarts para deixá-lo e ele nos fez uma gentileza que mostra a hospitalidade da gente local: pegou nossas galochas enlameadas e as lavou ele mesmo, uma por uma, com jatos de água sob pressão.
O Braço do Baú ficou pra trás e seguimos pela estradinha entre arrozais soterrados e uma linda paisagem de morros verdes até Baú Baixo. Lá, próximo à BR-470, em torno de 70 pessoas estão morando em um ginásio de esportes e 150 fazem as refeições. Um surto de diarréia entre os desabrigados havia sido recentemente debelado pela Vigilância Sanitária e os técnicos faziam uma palestra sobre como cuidar da água.
Aos poucos vou contando mais e publicando algumas fotos.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
DVeras Awards 2008: serviços na web
Menções honrosas:
- Blip.fm. Pra muita gente que ama descobrir, (re)ouvir e comentar de música, foi o achado do ano. Rendeu até algumas experiências sinestésicas, aleatórias e coletivas bacanas. Usei muito por um tempo (um grande barato dele é a integração ao twitter), depois enjoei, mas de vez em quando volto. Agora, por exemplo, tou ouvindo Buddy Guy, (You Give Me) Fever.
- Gengibre. Esse "twitter de voz" pra compartilhar na web as mensagens enviadas por celular é uma idéia matadora. Ainda não testei porque, assim como o Inagaki (que testou), acho estranho ouvir minha voz gravada. Mas só de pensar nas possibilidades pro jornalismo e educação, entre outras, já viajo. Qualquer hora dessas crio coragem e vou "aliviar a garganta" (grande slogan).
- Gmail. O webmail do Google continua imbatível e é o que melhor atende minhas necessidades. Uso o serviço há uns dois anos e ele sempre me surpreende com novidades, algumas úteis, outras irrelevantes, que posso optar por incluir ou não. Tou testando agora o novo módulo experimental Tasks, pra inclusão de listas de tarefas.
Twitter. Tudo era apenas uma brincadeira, e foi crescendo, crescendo e, pra minha sorte, continuou brincadeira :) Comecei a usar o twitter a convite do Nando, a princípio com a intenção de ver qual era a onda e sartar fora. Mas essa coisa de microblogar em 140 caracteres vicia. Como isso converge com minha busca da síntese no texto, passei a publicar uns microcontos e poemitos - às vezes do ônibus, via celular. Conheci gente legal e terminei incorporando a ferramenta na coluna à direita deste blog (seção Rapidinha). O recente uso pra divulgação instantânea de avisos de utilidade pública na enchente de SC reforçou o que eu já observava: o twitter e similares ainda vão dar muito o que falar. Não vão substituir nada, e sim se somar aos meios que já existem pra dar uma experiência mais significativa de expressão social.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Buldogue versus lagarto: empate
Perdi a cena, mas deve ter sido "o bicho": hoje na hora do almoço o Fanto, buldogue da família, encontrou um lagarto enorme com o rabo cortado. Brigaram, o réptil lhe deu umas dentadas nos beiços e fugiu pros fundos do quintal. Imagino que essas duas presinhas de drácula também devem ter feito algum estrago. A natureza é linda.
DVeras Awards 2008: software
Menções honrosas:
- Twhirl. Serve pra publicar e ler no Twitter e outras redes sociais de microblogs. Funciona com a plataforma Adobe Air, que ainda não entendi direito o que é. Bem melhor que o Twitterfox que eu usava antes.
- Media Player Classic. É free, estável e roda diversos padrões de vídeo. Tem outro muito bom, também free, o coreano KMPlayer.
- µTorrent. Cliente de bitTorrent pra Windows. Não é novidade pros geeks, mas passei a conhecer e usar este ano pra baixar (e subir, no espírito do compartilhamento) música e vídeo.
Torproject. Permite navegar com privacidade e anonimato na internet, burlando monitoramentos e bloqueios. É bastante usado por ativistas e jornalistas em países onde há censura à rede. Deixa a navegação mais lenta, mas é bastante eficaz, embora não 100%, como eles mesmo advertem. O projeto é tocado por voluntários de diversos países.
Como viver sem perguntar?
Nesta quarta, dia 10, o amigo Fábio Brüggemann comemora os 15 anos da Editora Letras Contemporâneas lançando mais um livro dele: Como viver sem perguntar? Não posso ir ao lançamento, mas desde já tenho várias perguntas: Fabinho, seu livro é sobre o que mesmo? Aborda o sentido da vida? Custa quanto? Dá pra comprar pela internet? O que motiva você a escrever? ...
domingo, 7 de dezembro de 2008
Patápio Silva
Raridade: no blog Bossa Brasileira, escrito em Floripa por Thiago Mello, esbarrei nesta compilação de melodias de Patápio Silva, considerado um dos maiores músicos brasileiros, morto em 1907 durante uma turnê em Floripa, aos 27 anos. A vida e obra do flautista foram objeto de dissertação de mestrado do amigo Maurício Oliveira (Vida de Frila) no Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina. Uma combinação feliz de jornalismo aplicado à história, ou vice-versa.
Exposição de artesanato no Campeche
Recebi da Jadna Pizzolotto, via Katia Klock:
Amigos e Conhecidos:
Na Avenida Campeche 2811 (quase em frente ao Condomínio Novo Campeche, ao lado da Physical Pilates [Florianópolis]), em meu atelier de artes, que chamo de Espaço Lagoa Pequena, por estar tão próximo deste local, convidei vários artistas em exposição de seus trabalhos para um Bazar de Natal.
Já está lá Cristina Casagrande com suas tramas tecidas em arames, algodão, feltro, vidro e miçangas. São mantas, cangas, fruteiras, marcadores de livros, candelabros, e abajur, colares, e brincos, umas verdadeiras jóias de magia!
Stela Barboza trouxe uns pingentes feitos com a arte primitiva da tecelagem chamada Olhos de Deus, usou sobre eles pinturas em relevo dando um sofisticado toque natalino.
Marisis e companhia exibem "Fuxico Mane", arrasam em cores, volumes em colares quentes como o verão a fim de envolver de alegria a nossa alma.
Indian com a marca "Transformarte", propõe com suas gavetas de tecido aproveitamento de espaço, despojamento e conforto. E com a linha de velas em cera de abelha traz luz e acolhimento.
Cida deixou um de seus moveis provocantes feitos com madeira reciclada.
Patrícia Lobato buscando inspiração em nossos antepassados africanos pesquisa a arte das Abayomi que são bonecas feitas de tecido e nozinhos, em pregadores colares e chaveiros, presentes para andar juntinho.
Juce prometeu fazer uma bela arvore de Natal com flores de tecido das quais ela revende, além de deixar com a gente um mostruário de enfeites de Natal importados ( tem coisas bem legais).
E eu Jadna Pizzolotto com minhas pinturas, velas, e um abraço.
Outros artistas foram convidados e disseram que estão chegando, aguardem!
Horário de atendimento: terças e quartas-feiras 14 às 19h; quintas e sextas-feiras 18 às 22h; sábados e domingos 15 às 20h
Tel.: (48) 4141 1152 e (48) 9946 9160
sábado, 6 de dezembro de 2008
A enchente e a publicidade oportunista
Um leitor do blog chama a atenção pro podcast que acompanha esta matéria da Folha de S. Paulo ("Homem que perdeu tudo ajuda a resgatar vítimas da enchente em Santa Catarina"). A primeira coisa que a gente ouve é a dica sobre uma incorporadora de imóveis de onde o desempregado Elson Ferreira da Conceição, com a água até o pescoço e pensando nas crianças e nos idosos ameaçados pelas águas, pode encontrar uma nova casa. "Cirela. Basta um clique". Comenta o leitor: "Isso é que é jornalismo-cidadão! Põe sensibilidade nisso. ;-)"
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Jornalismo, mangaba e direitos humanos
Dia de comemoração! Acabo de saber que a reportagem Tradição Dizimada, escrita por Paola Bello e fotografada por Tatiana Cardeal, ganhou o Prêmio Especial de Direitos Humanos da OAB/RS e do Movimento Justiça e Direitos Humanos. O texto, sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres catadoras de mangaba de Sergipe, foi publicado em novembro na edição 14 de Observatório Social Em Revista [pdf, 4,3 MB], que tive a honra de editar.
Começa assim a matéria:
Quando as primeiras flores da mangabeira começam a desabrochar na restinga sergipana, não é somente uma nova estação que se aproxima. A cada safra, a incerteza e a angústia de três mil famílias se multiplicam. Liderada por mulheres de pele negra e causas nobres, a catação ou colheita da mangaba é a razão pela qual toda uma comunidade tradicional nordestina está com a existência ameaçada.Fico contente que o Observatório Social tenha acreditado no talento da Paola, minha substituta quando encerrei o vínculo formal com a organização em outubro de 2007. Graduada em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ela é daquelas profissionais em início de carreira que considero uma jóia rara, pelo talento em farejar boas histórias e contá-las com sensibilidade. Paola tem outros atributos preciosos: humildade, generosidade e coragem. Seu trabalho de conclusão de curso, realizado no ano passado aos 23 anos de idade, foi uma grande reportagem independente sobre refugiados de guerra em Uganda e no Sudão - países pra onde viajou sozinha. Aliás, A lei do mais fraco, publicada na revista Galileu em fevereiro, também ganhou prêmio neste concurso gaúcho (terceiro lugar na categoria Reportagem).
A árvore símbolo de Sergipe já foi eliminada em 90% dos territórios nativos no Estado. Nos 10% que restam, a coleta da mangaba é um cabo de guerra onde estão, de um lado, o poder público e grandes investidores, e do outro, comunidades de baixa escolaridade, sem terras ou reservas econômicas, cuja maior riqueza é a tradição que carregam há gerações.
Há anos, os governos estadual e federal constroem discursos sobre os investimentos feitos na região. São milhões aplicados na construção de pontes e rodovias, na monocultura e no incentivo à vinda de grupos estrangeiros de turismo e criação de camarão. Ao mesmo tempo, a modernidade ameaça de extinção atividades que ajudaram a construir a identidade brasileira. (...)
Tou duplamente feliz. Minha amiga Tatiana Cardeal é uma fotógrafa independente com um trabalho admirável na área de direitos humanos, em especial retratando comunidades indígenas, quilombolas e sem-teto. A química entre Tati e Paola, pelo que vejo, funcionou muito bem, e espero que renda mais histórias bonitas no futuro.
Observatório Social Em Revista é um caso singular entre as publicações jornalísticas de organizações do terceiro setor. Em apenas 14 edições, conquistou um Prêmio Esso de Jornalismo Ambiental, dois Prêmios Herzog de Anistia e Direitos Humanos e agora mais este. Tudo isso com recursos limitados e equipe enxuta, mas afiada. E com respaldo (= coragem, um dos atributos a que eu me referi acima) do IOS para mexer em temas polêmicos que envolvem interesses de empresas multinacionais, como foi o caso das reportagens-denúncia sobre trabalho escravo, trabalho infantil, contaminação ambiental e tantas outras. Fui um privilegiado por ter participado desse projeto por cinco anos, e agora, mesmo que a distância, por ter a chance de continuar editando a publicação. Valeu, Paola e Tati, vocês merecem!
Por Dauro Veras às 18:28 |
Tags: amigos, brasil, comunicação, direitos, ecologia, jornalismo, lugares, reportagem, sociedade, trabalho
O sistema suíço de proteção contra enchentes
Meu amigo Geraldo Hoffmann, jornalista catarinense que vive na Suíça, publicou hoje no saite de notícias swissinfo a primeira parte de uma reportagem sobre o sistema de proteção contra as enchentes naquele país. Os investimentos não tornam os suíços imunes ao problema, mas minimizam bastante os prejuízos humanos e materiais.
Nas últimas três décadas, as enchentes causaram prejuízos de mais de 10 bilhões de dólares na Suíça. Para reduzir os danos, o país adota uma "estratégia integral de prevenção às cheias".
Ela combina obras de construção civil com medidas de organização e planejamento, controle rígido da ocupação do solo e proteção ao meio ambiente. Um seguro obrigatório cobre os prejuízos em caso de catástrofe. (...)
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Alles Blau: a gênese de um blog coletivo
Reportagem de Manoel Fernandes Neto na revista digital NovaE relata como nasceu o blog coletivo Alles Blau, que durante a tragédia da semana passada, se transformou num ágil meio de comunicação e utilidade pública para quem buscava (e busca) de informações sobre Blumenau. O Alles Blau ("tudo azul" em alemão) nasceu da necessidade, conta a sua criadora, Juliana Maria da Silva:
(...) Não fizemos nenhuma reunião de pauta. Para falar a verdade, alguns dos colaboradores eu ainda não conheci pessoalmente. A melhor equipe colaborativa, juntada ao acaso, unida pelo único ideal de distribuir as informações. Não há pauta. Os assuntos postados no blog são de interesse coletivo e isso é o suficiente para que os colaboradores separem o que é relevante e adequado. Trocamos alguns e-mails no começo, ajustando nossa conduta. Tive que editar alguns post, mas foi só no início. Hoje todos os 11 são editores de seus próprios conteúdos. Eu acompanho como leitora e aparo arestas apenas quando há necessidade. Nesta semana quase todos retomaram suas vidas normais, o blog está sendo alimentado entre uma tarefa e outra. (...)
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Hora de recomeçar
O texto abaixo é assinado por Cláudio, de Balneário Camboriú, vizinha a Itajaí, SC. Recebi por e-mail.
Meus amigos,
Hoje 27 de novembro de 2008 o sol saiu e conseguimos voltar a trabalhar. A despeito de brincadeiras e comentários espirituosos normais sobre esta "folga forçada" a verdade é que nunca me senti tão feliz de voltar ao trabalho. Não somente pelo trabalho, pela instituição e pela própria tranqüilidade de ter aonde ganhar o pão, mas também por ser um sinal de que a vida está voltando ao normal aqui na nossa Itajaí.
As fotos que circulam na internet e os telejornais já nos dão as imagens claras de tudo que aconteceu então não vou me estender narrando e descrevendo as cenas vistas nestes dias. Todos vocês já sabem de cor. Eu quero mesmo é falar sobre lições aprendidas.
Por mais que teorias e leituras mil nos falem sobre isso ainda é surpreendente presenciar como uma tragédia desse porte pode fazer aflorar no ser humano os sentimentos mais nobres e os seus instintos mais primitivos. As cenas e situações vividas neste final de semana prolongado em Itajaí nos fizeram chorar de alegria, raiva, tristeza e impotência. Fizeram-nos perder a fé no ser humano num segundo, para recuperar-la no seguinte. Fez-nos ver que sempre alguém se aproveitará da desgraça alheia, mas que também é mais fácil começar de novo quando todos se dão as mãos.
Que aquela entidade superior que cada um acredita (Deus, Alá, Buda, GADU etc.) e da forma que cada um a concebe tenha piedade daqueles:
- Que se aproveitaram a situação para fazer saques em Supermercados, levando principalmente bebidas e cigarros
- Que saquearam uma farmácia levando medicamentos controlados, equipamentos e cofres e destruindo os produtos de primeira necessidade que ficaram assim como a estrutura física da mesma.
- Que pediam 5 reais por um litro de água mineral.
- Que chegaram a pedir 150 reais por um botijão de gás.
- Que foram pedir donativos de água e alimentos nas áreas secas pra vender nas áreas alagadas.
- Que foram comer e pegar roupas nos centros de triagem mesmo não tendo suas casas atingidas.
- Que esperaram as pessoas saírem das suas casas para roubarem o que restava.
- Que fizeram pessoas dormir em telhados e lajes com frio e fome para não ter suas casas saqueadas.
- Que não sentiram preocupação por ninguém, algo está errado em seu coração.
- Que simplesmente fizeram de conta que nada acontecia, por estarem em áreas secas.
Da mesma forma, que essa mesma entidade superior abençoe:
- Aqueles que atenderam ao chamado das rádios e se apresentaram no domingo no quartel dos bombeiros para ajudar de qualquer forma.
- Os bombeiros que tiveram paciência com a gente no quartel para nos instruir e nos orientar nas atividades que devíamos desenvolver.
- A turma das lanchas, os donos das lanchinhas de pescarias de fim de semana que rapidamente trouxeram seus barquinhos nas suas carretas e fizeram tanta diferença.
- À equipe da lancha, gente sensacional que parecia que nos conhecíamos de toda uma vida.
- Aos soldados do exército do Paraná e do Rio Grande do Sul.
- Aos bravos gaúchos, tantas vezes vitimas de nossas brincadeiras que trouxeram caminhões e caminhões de mantimentos.
- Aos cadetes da Academia da Polícia Militar que ainda em formação se portaram com veteranos.
- Aos Bombeiros e Policias locais que resgataram, cuidaram , orientaram e auxiliaram de todas as formas, muitas vezes com as suas próprias casas embaixo das águas.
- Aos Médicos Voluntários.
- Às enfermeiras Voluntárias.
- Aos bombeiros do Paraná que trabalharam ombro a ombro com os nossos.
- Aos Helicópteros da Aeronáutica e Exercito que fizeram os resgates nos locais de difícil acesso.
- Aos incansáveis do SAMU e das ambulâncias em geral, que não tiveram tempo nem pra respirar.
- Ao pessoal do Helicóptero da Polícia Militar de São Paulo, que mostrou que longo é o braço da solidariedade.
- Ao pessoal das rádios que manteve a população informada e manteve a esperança de quem estava isolado em casa.
- Aos estudantes que emprestaram seus físicos para carregar e descarregar caminhões nos centros de triagem.
- Às pessoas que cozinharam para milhares de estranhos.
- Ao empresário que não se identificou e entregou mais de mil marmitex no centro de triagem.
- A todos que doaram nem que seja uma peça de roupa.
- A todos que serviram nem que seja um copo de água a quem precisou.
- A todos que oraram por todos.
- Ao Brasil todo, que chorou nossos mortos e nossas perdas.
- Aos novos amigos que fiz no centro de triagem, na segunda-feira.
- A todos aqueles que me ligaram preocupados com a gente.
- A todos aqueles que ainda se preocupam por alguém.
- A todos aqueles que fizeram algo, mas eu não soube ou esqueci.
Há alguns anos, numa grande enchente na Argentina um anônimo escreveu isto:
COMEÇAR DE NOVO
Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento
Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome
Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração
Eu não tinha boa memória
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus
Vamos começar de novo.
Anônimo.
É hora de recomeçar, e talvez seja hora de recomeçar não só materialmente. Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se reinventar e de crescer como ser humano.
Pelo menos é a minha hora, acredito.
Que Deus abençoe a todos.
Claudio
Balneário Camboriú-SC
"Hoje aqui amanha não se sabe... Vivo agora antes que o dia acabe..."
A menina na faixa de pedestres
Agora há pouco vi uma menina de nove anos, impaciente, tentar atravessar a faixa de segurança de uma rua no centro, enquanto do outro lado a mãe, aflita, pedia pra ela ter calma. Passaram cinco carros sem parar nem reduzir a velocidade. Finalmente uma boa alma seguiu a lei e deu preferência à pequena. E olha que em Floripa a faixa é razoavelmente respeitada. Mas ainda estamos longe da situação de Brasília, onde, depois de muitas campanhas educativas e ações repressivas, o pedestre conquistou mesmo a prioridade. Existem cidades onde é pior - passam 50 (ou 5 mil) carros dirigidos por quadrúpedes antes que um dê a vez ao bípede.
Em julho, quando estive em Natal, comentei sobre isso com um amigo. Ele disse que, durante um tempo, houve forte campanha na cidade e os motoristas passaram a respeitar a faixa de pedestres. Foi só a campanha acabar e o desrespeito voltou, embora, na percepção dele, tenha havido um pequeno avanço. Achei a observação bastante afiada. Campanhas educativas como essa precisam ser permanentes. É como no caso das enchentes, em que os governos deixam de investir na prevenção silenciosa e gastam sete vezes mais na resposta ruidosa aos desastres. Lombadas pós-atropelamento rendem mais votos que campanhas feitas com regularidade.
Orientação para o combate à leptospirose
Um informe importante pra quem entrou em contato com água e lama contaminada:
A Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Diretoria de Vigilância Epidemiológica está repassando uma Nota Técnica sobre conduta e tratamento da leptospirose.
As orientações da Nota Técnica são direcionadas apenas aos municípios atingidos pelas inundações e deslizamentos de terra. A vigilância sobre a suspeita de casos da doença deve ser rigorosa e permanecer até 40 dias após a baixada das águas.
Pessoas que entraram em contato com água e lama contaminada, principalmente pela urina de roedores urbanos (ratazanas, ratos de telhado e camundongos), devem ficar atentos aos sintomas como: dor de cabeça, dores musculares e febre, no caso de identificação destes sinais é indicado procurar a unidade de saúde mais próxima.
As demais cidades devem continuar seguindo as orientações anteriores para procedimentos de investigação de leptospirose.
Mais informações: www.dive.sc.gov.br
Google cria página para apoiar Santa Catarina
Li no Coluna Extra, conferi, gostei e passo adiante. Os funcionários do Google no Brasil, com apoio da Prefeitura de Blumenau, Defesa Civil e outras entidades, criaram uma página especial com informações relevantes sobre as enchentes em Santa Catarina. A ferramenta Google Maps identifica no mapa do estado os pontos onde há hospitais, helipontos, unidades do corpo de bombeiros, pontos de doações, postos da polícia rodoviária, abrigos, cemitérios etc. Há também links para notícias e vídeos.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Em memória de Dario e Giacomina
dentre as muitas histórias trágicas que tenho ouvido uma das que mais me entristeceu foi saber da morte de uma familia inteira de Rodeio (cidadezinha que fica perto de Blumenau): o casal Dario Eccel e Giacomina Cosi Eccel, ambos de 44 anos e os dois filhos Kelly (7) e Kendy (15), que foram soterrados junto com sua casa. conheci o casal uns oito ou dez anos atrás, la na propriedade deles. Tinham uma fábrica de deliciosos queijos. Ele era natural dali e foi pra Italia aprender as técnicas de queijaria e conhecer Giacomina, com quem casou. Falei recentemente com eles por telefone por conta de um trabalho sobre as bebidas e as comidas dos imigrantes. Lembro vagamente do lugar - acho até que a casa ficava bem longe do morro - mas lembro bem de um quadro que tinha na parede da casa e que na época me chamou atenção. era um retrato da terra natal dela que ficava num vale ao pe de um gigantesco e impressionante morro de pedras e terra desnuda (nos alpes, nao lembro o nome agora). que fiquem em paz!
materia sobre a eles no A Noticia.... http://www1.an.com.br/2000/jan/16/0ecc.htm
" Jornalismo é mais que 140 caracteres"
Reproduzo artigo de Luiz Weis que a Daniela Bertocchi colocou na lista Intermezzo. Rende boas provocações pra debate, mas por enquanto vou limitar meu comentário a 95 caracteres: cada meio tem função e características próprias; quando se complementam, tendem a ganhar força.
Jornalismo é mais que 140 caracteres
Postado por Luiz Weis em 1/12/2008 às 5:48:02 PM
Em tempos de catástrofe – Santa Catarina, Mumbai – a utilização maciça da internet para alertar, informar e mobilizar, influindo no curso dos acontecimentos a ponto de salvar vidas, dá a impressão de que, comparada com os novos recursos da comunicação instantânea, sucinta, de livre acesso e infinitas mãos de direção, a chamada imprensa
convencional é uma anciã entrevada.
O problema é que essa comparação peca pela base. Em papel ou na tela, o jornalismo de fato não dá para a saída em matéria dos atributos que fizeram do Twitter, por exemplo, a mais recente sensação das redes sociais virtuais, explorando a plataforma que já passou à frente do computador: o celular.
Nos atentados em Mumbai, mensagens via Twitter – de até 140 caracteres cada – seguiam à razão de uma por segundo [segundo uma reportagem do New York Times, que no entanto não esclarece como se chegou a esse número].
Mas o jornalismo não pode ser avaliado por sua capacidade de enviar mensagens urgentes de 140 caracteres. Se, nessas horas, diz ou não diz a que vem, será por ter estado, ou não, à altura do que dele é justo esperar.
Quando se fala em jornalismo, aqui, fala-se ainda, em primeiro lugar, do jornalismo escrito, alcance ele o público pelo meio que for.
Isso porque, embora a TV possa mostrar as coisas "como as coisas são", enquanto ocorrem – com todo o seu inseparável componente de espetáculo, quando não de espetáculo pelo espetáculo –, a imprensa escrita continua imbatível como sistema de produção e transmissão de informações articuladas, a partir das quais o leitor pode ter uma noção, caso a caso, de como funciona o mundo.
Não em 140 caracteres, naturalmente.
Dito de outro modo, trata-se de dois serviços distintos de utilidade pública. Um, prestado por legiões de pessoas agindo por iniciativa própria ou reagindo espontaneamente a iniciativas alheias. Outro, prestado por organizações criadas para vender notícias – e, infelizmente, cada vez mais, para vender essa lavagem chamada entretenimento de massa.
O Twitter, ou coisa do gênero, é uma forma escandalosamente superior de fazer circular aos quatro ventos, entre outras coisas, fatos que os emissores e receptores (cujos papéis são intercambiáveis) consideram essenciais em dada circunstância.
Por exemplo, no caso dos atentados terroristas em Mumbai, os endereços de hospitais para doação de sangue. É o que faz o bom e velho rádio, mas deixando o registro por escrito em alguns centímetros quadrados na palma da mão das pessoas.
Quanto mais esse tipo de recurso se propagar, levando a patamares inimagináveis há poucos anos o fluxo e a amplitude da informação tópica, pontual – de varejo, em suma, por importante que seja para os interessados – mais a imprensa terá de oferecer o que está além do alcance dos Twitters deste mundo: a informação no atacado.
Com isso se quer repetir, com sintonia ainda mais fina, o que se passou a cobrar do jornalismo impresso quando a televisão se instalou como o meio por excelência de difusão de notícias em escala global: perspectiva, ou, com perdão da má palavra, contextualização.
E com isso se quer dizer informações não apenas certificadas – o calcanhares de Aquiles do reportariado amador, também conhecido como jornalista-cidadão – mas articuladas entre si e, eventualmente, com as que digam respeito a situações, processos e protagonistas, presentes e passados, de esferas diferentes daquelas que são o objeto direto de cada cobertura.
Certa vez, Cláudio Abramo, um dos maiores jornalistas de sua geração, mesmo pelos padrões internacionais mais exigentes, dizia, brincando, que o jornal de seus sonhos seria aquele que traria uma única notícia. Ou seja, o produto de um jornalismo capaz de integrar todas as matérias de que se ocupasse a cada dia.
Quanto menos distante dessa fantasia ficar um jornal ou uma revista – aliás, os semanários nasceram com uma preocupação aparentada a essa: além de resumir a semana, articular os eventos que se prestassem a isso de forma a "separar aquilo que é notícia daquilo que só é barulho", como dizia um anúncio da Time [em inglês soa melhor: "what
makes news from what just makes noise"].
Vai sem dizer que isso não pode se dar às custas ou à desconsideração de tudo mais que o periódico deve entregar ao leitor em troca do seu dinheiro: clareza, leveza (não confundir, pelo amor do que se queira, com ligeireza), brevidade, diversidade de focos e pontos de vista, atratividade – e "humanidade".
É secundário, a rigor, se a mídia convencional ficou ou não a reboque de uma legião de não-jornalistas com seus celulares, informando o mundo do que se passava ali onde os repórteres profissionais não conseguiam chegar, ou não chegaram a tempo, em Mumbai ou em Blumenau.
A pergunta é: as organizações jornalísticas foram ou não capazes, lá e cá, de dar uma visão dos fatos (ou mais de uma) que fizesse sentido, porque escorada em apurações exaustivas e não restrita ao imediatismo das situações?
Escreveu-se no parágrafo anterior "organizações" de propósito. Pois é esse sistema – o modo de produção da notícia, a partir de redações estruturadas e de procedimentos padronizados – que dá a um jornal ou revista as condições necessárias, ainda que não suficientes, para que faça o que se propõe.
E é o que os diferencia de tantas quantas redes informais de coletores de informação surjam quando algo motiva os seus membros – com os quais, diga-se desde logo, os jornalistas terão de interagir cada vez mais e sem preconceitos.
Quando o jornalismo organizado não funciona, a culpa não é de ser organizado, mas da mutilação das redações – que representam a encarnação desse conceito – perpetrado pelos mãos-de-tesoura das empresas jornalísticas.
E aí se cai no pior dos mundos possíveis – em que a imprensa perde em agilidade para os twitteiros e blogueiros, e ao mesmo tempo, por falta de estrutura, recursos e qualidade de suas equipes, perde em aptidão para fazer o que não está ao alcance daqueles: montar o quebra-cabeça dos acontecimentos do dia-a-dia.
Carta ao governador
Esta crônica de Felipe Lenhart, publicada ontem no Diário Catarinense, reflete a decepção de muita gente com a falta de estatura do governador do estado diante da tragédia humanitária ainda em curso. Passo adiante.
Senhor governador,
Vou me apresentar: sou um turista endinheirado que mora longe da Santa e Bela Catarina. Mas visito o Estado todos os anos. Passo uma semana em Balneário Camboriú, percorro o roteiro de compras de Blumenau e Brusque, vou sempre a uma praia belíssima em Itajaí, durmo na casa de um parente distante em Bombinhas e invisto (este é o termo certo) o resto de minhas férias gastando nas boates da moda, nos restaurantes caros, nas lojas de grife e nos hotéis luxuosos de Florianópolis. Já estava tudo certo para a minha viagem de fim de ano: passagens compradas, reservas confirmadas, o convite para a festa de Réveillon aceito. Mas aí veio o cataclismo e tudo que aconteceu semana passada. E é com tristeza que lhe confesso, senhor governador: eu não irei mais a Santa Catarina esse ano, nem nos primeiros meses de 2009. Acredite: me custa muito tomar esta decisão.
Ora, o senhor deve ter lido a edição de ontem do Diário Catarinense. Eu li, e li tudo, na internet. Descobri que, neste momento, soldados, bombeiros e voluntários estão nas ruas de Santa Catarina, empunhando pás e picaretas, manejando escadas e maquinário, guiando tratores e caminhões, lutando contra a terra, o lodo e os destroços para desenterrar cadáveres, localizar desaparecidos, salvar o que restou daquele fim de semana tempestuoso. Milhares assistiram ao lar ser destruído e estão desabrigados; outros milhares abandonaram suas residências e estão desalojados. A maioria não tem o que comer e vestir. Alguns perderam familiares e amigos. Quantos mais estão sepultados sob as ruínas? Vou lhe confessar: chorei com os relatos espantosos, emocionados, desesperados. A sua gente está triste, senhor governador, abalada, pobre e enlutada.
É também por isso que lhe escrevo. Para pedir que me esqueça por um ano, senhor governador. Minha visita só atrapalharia. Verão e Réveillon tem todo ano, mas o que aconteceu em Santa Catarina não deveria sequer ter acontecido, e certamente não poderá se repetir. Portanto, senhor governador, não arrume Santa Catarina para me receber para as festas. Em vez de arrumar, conserte, resolva, dê jeito definitivo no seu Estado, para o seu povo abatido que tanto merece. Você tem muito a fazer pelos seus. Desejo-lhe fibra e sorte.
Com o forte abraço e as condolências do seu cliente mais importante.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
FEBASCA - Festival de Besteiras que Assola SC
Li, incrédulo, no blog do Cesar Valente, que leu, mais espantado ainda, no blog do Moacir Pereira:
O governador Luiz Henrique da Silveira instituiu este ano o Premio Beto Carrero de Excelência em Turismo. A escolha é feita pelo Conselho Estadual de Turismo, cujos membros são nomeados pelo governador Luiz Henrique. O resultado oficial foi anunciado esta tarde. Escolhido na categoria Personalidade? O governador Luiz Henrique.p.s.: Ainda duvida? O release da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte está aqui.
Tragédias anunciadas há mais de 150 anos
Um leitor do Fábio Brüggemann, Eloy Casagrande Jr. escreveu um longo e pertinente comentário sobre a história das enchentes no Vale do Itajaí, "para incentivar o debate e não deixar que mais uma vez se repita a tragédia". Casagrande - professor na área de sustentabilidade e inovação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná -, mostra como essas são tragédias anunciadas há mais de 150 anos. De 1850 a 1992 foram 66 enchentes, das quais 11 até 1900, 20 nos 50 anos subseqüentes e 35 nos últimos 43 anos. Certamente, não foram os “caprichos da natureza” culpados pela catástrofe, diz o professor, relacionando diversos projetos preventivos que não saíram do papel por falta de vontade política. Esse texto devia fazer parte das leituras de cabeceira de nossos governantes.
S.O,S. Rock-SC
Reverberando o Clube da Luta:
S.O.S Rock-SC!CLUBE DA LUTA + PROJETO ROCK
Unindo forças pra fazer o bem!
Todos sabem o poder que a música tem de unir classes, crenças e idéias em uma só sintonia. É pensando nisso que dois dos maiores projetos musicais de Florianópolis uniram suas forças em prol da melhoria do estado de calamidade pública de algumas cidades catarinenses.
O S.O.S Rock-SC vai juntar numa só noite o público do Clube da Luta e do Projeto Rock no John Bull, a maior casa de rock da cidade. Um evento com a finalidade de arrecadar donativos para os desabrigados das últimas chuvas de Santa Catarina. E de quebra botar a galera para se divertir em clima de união e harmonia entre todos os estilos.
Participe! Faça a sua parte contribuindo com alimentos para bebês, carboidratos e amidos, água potável, roupas e cobertas. Os alimentos sugeridos são: leite em pó, biscoitos, papinha de bebê, sucos prontos, água potável, vassouras, escovas de dente, etc (produtos de pronto-consumo). A meta é arrecadar 1 (uma) tonelada de donativos!
A animação inicial fica por conta de: Andrey e a Baba do Dragão de Komodo (com a participação de Rodrigo Poeta – Tijuquera) e Luciano Bilu & Banda. Depois, o Projeto Rock faz a integração de diversos músicos das bandas participantes: Banda .X. – Black Jackie – Banho de Lua – Funkzilla – Banda Old – Panela Rock – Coda – Fred Lee – Electric Circus – Sallamantra – Long Players – Fijes – Arena – Brasil Papaya – Black Rock – Beterrables;
Venha, apóie, chame seus amigos! Todos unidos pela música em prol do bem da população de Santa Catarina!
Local: John Bull Pub – Lagoa da Conceição
Data: 03/12/2008, quarta-feira
Ingressos: Dois donativos por pessoa ou R$ 15, 00 feminino e R$ 20,00 masculino – integralmente revertidos em donativos.
Ringo volta pra casa
Contei aqui sobre um caso ocorrido em Balneário Camboriú, em que a dona de um cachorro o viu ser levado pela água que invadiu sua casa. A boa notícia é que a Manu reencontrou o Ringo. Ele estava num abrigo da ong Viva Bicho!
O desafio ambiental em Santa Catarina
Cesar Valente chama a atenção em seu blog para o artigo O desafio ambiental, publicado sábado por um grupo de especialistas que integram o Comitê do Itajaí. É uma reflexão importante para os parlamentares que vão votar o novo Código Ambiental de Santa Catarina. Este trecho do artigo é uma boa síntese:
... Precisamos evoluir muito na forma de gestão urbana e rural e encontrar mecanismos e instrumentos que permitam a convivência entre cidade, rios e encostas. ... Não adianta reconstruir o que foi destruído, sem considerar o equívoco do paradigma que está por trás desse modelo de ocupação. É necessário pensar soluções sustentáveis. O desafio é reduzir a vulnerabilidade.Sobre o polêmico projeto de lei e as questões ambientais e políticas, sugiro ainda a leitura do Eco Flora. E do texto Governos adoram tragédias, no Blogue do Brüggemann:
... Se não é possível fazer parar de chover, é bem mais possível ensinar as pessoas a conviverem com o risco, para que estejam capacitadas a enfrentar desastres, sejam os provocados pela natureza, sejam os provocados pelo próprio ser humano. ...
Fotos da tragédia em Blumenau
Jorge Scarpin, que conheço da lista de e-mail Hostelling, publicou no orkut algumas fotos da tragédia em Blumenau, onde ele mora.
Hipótese de trajetória para um vestido de noiva
A Adri Canan foi voluntária neste domingo no Corpo de Bombeiros da Trindade, em Floripa. Entre os donativos recebidos, um vestido de noiva e uma mala vermelha renderam este roteiro para um curta metragem de ficção.
Chuvas e internet
O Bom Dia Brasil, da Globo, fala do uso da internet pelas pessoas que estão informando e se informando sobre a enchente em Santa Catarina. Na reportagem o amigo chargista Zé Dassilva, criciumense que mora no Rio.
Dor e superação
Balanço oficial, 30/11 às 20h27: 78.707 desalojados e desabrigados, 114 mortos e 19 desaparecidos confirmados.A vida segue, a gente tenta deixar de lado essa contagem deprimente e pensar em outras coisas - o que é compreensível e até um mecanismo psicológico de defesa -, mas termina retornando ao tema da hora. Impossível não se emocionar com a leitura do Diário Catarinense deste domingo, que trouxe a cronologia da tragédia a partir das histórias de diversas vítimas e sobreviventes. Relatos de perdas dolorosas e de altivez pra enfrentá-las. Um bombeiro e sua mulher cuja casa foi soterrada e mesmo assim continuaram trabalhando pelos afetados. A mãe que viu, impotente, o filho morrer esmagado por um deslizamento. O homem que perdeu mulher, filhos e netos e agora fala em reconstruir a vida. Um outro que viu a mãe cair no rio, surgir três vezes e se afogar. A mulher grávida que escapou viva, mas perdeu o bebê.
Ainda estamos longe da normalidade e é provável que se passem vários anos até que Santa Catarina se recupere por completo. A comparação deste desastre com uma guerra pode soar um tanto sensacionalista pra quem acompanha de longe, mas faz sentido. Muitos desabrigados continuam aguardando resgate em locais inacessíveis pelos bombeiros ou militares. Pra evitar a propagação de doenças, a Defesa Civil autorizou as pessoas que estão nessa situação a enterrar seus mortos no quintal de casa. Vários ainda não sabem se seus amados estão sob os escombros ou em algum abrigo. Certas perdas, mesmo que não humanas, também são terríveis. Li um relato no blog da Ana Tuyama sobre o drama vivido em Balneário Camboriú pela amiga dela, Manu Demonti, e sua familia. Trecho:
O que eu perdi de mais valioso e importante para mim foi meu cachorro Ringo...Nao consegui salvar ele! Ele estava em cima da mesa da cozinha...Quando a agua chegou na altura da mesa ele saiu nadando e a correnteza o levou embora pela janela...e eu sem poder ajuda-lo! Perdi ele na escuridao...Meus outros 4 caes consegui salvar! Sem palavras para o quanto isso esta me doendo ainda...Veja aqui como você pode ajudar
Defesa Civil pede doações em dinheiro
A Defesa Civil de Santa Catarina pede que as doações aos atingidos pelas chuvas sejam de preferência em dinheiro porque as más condições das estradas catarinenses estão dificultando o acesso dos caminhões com alimentos e roupas aos municípios atingidos. A intenção é comprar esses itens nas próprias comunidades, para injetar recursos nas economias locais, informa o Diário Catarinense.
Cinemão: Doutor Fantástico
Em tempos de catástrofe catarinense, uma ficcional pra mudar um pouco de assunto. Vi ontem Doutor Fantástico (Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb), um filmão do genial Stanley Kubrick com o não menos Peter Sellers. Lançado em 1964, em plena guerra fria, é sobre um general maluco que decide lançar um ataque nuclear contra a União Soviética, enquanto o presidente dos Estados Unidos e seu Estado Maior tentam trazer os aviões de volta e evitar a hecatombe planetária. Doutor Fantástico está em vigésimo-quinto na lista dos 250 filmes mais votados no IMDb (Internet Movie Database), com a nota 8,6.
Anotação de leitura: Sagan e o amor
Se tanto o bebê como a criança, o adolescente e o adulto encontram personalidades compatíveis no ser amado, há uma possibilidade real de que todas essas subpersonas fiquem felizes. O amor põe fim à longa solidão de cada uma delas. Talvez a profundidade do amor possa ser mensurada pelo número de diferentes egos envolvidos ativamente num determinado relacionamento.
Carl Sagan, Contato (Companhia de Bolso, 2008)
domingo, 30 de novembro de 2008
BB online facilita doações à Defesa Civil
Nando deu o toque nos comentários e destaco aqui:
Quem tem conta no Banco do Brasil pode acessá-la online que o BB preparou uma mensagem especial para doações: com um clique simples você cai numa tela de transferência entre CC pronta para a Defesa Civil de SC, bastando preencher o valor da sua doação (e sua senha, obviamente).
sábado, 29 de novembro de 2008
Defesa Civil de SC cria novo site sobre o desastre
A Defesa Civil criou novo endereço na web para agregar as informações sobre as enchentes em Santa Catarina. A partir das 17h41 de hoje, este passou a ser o site oficial sobre o desastre: http://www.desastre.sc.gov.br
Precisa-se de roupas para crianças grandes
Laura e eu chegamos agora há pouco do Sesc da Prainha, onde uma equipe de voluntários embala as doações que não param de chegar aos desabrigados. Um dos pedidos prioritários do momento é de roupas e calçados para crianças entre 7 e 14 anos.
Mais ajuda alemã para as vítimas das cheias
Geraldo Hoffmann, de Berna, Suíça
A Adveniat, uma organização ligada à Igreja Católica da Alemanha e que apóia projetos de ajuda ao desenvolvimento na América Latina, liberou 30 mil euros de auxílio de emergência para as vítimas das cheias em Santa Catarina. "Os recursos destinam-se a anemizar as necessidades mais urgentes nas localidades situadas nos três bispados mais atingidos (Florianópolis, Blumenau e Joinville)", informa a Adveniat em seu site.
Ajuda aos animais atingidos em SC
A ong Viva Bicho pede doações aos grupos que estão tentando salvar os animais atingidos pela enchente. Muitos cães e gatos morreram, outros estão vagando famintos pelas ruas das cidades atingidas, principalmente em Itajaí.
Contato: Bianca - Ong Viva Bicho
(47) 8425-1459 / 9903-5441
Banco do Brasil
Ag. 1489-3 cc 20793-4
Associação Viva Bicho
CNPJ 06 156 776 / 0001 - 81
Foto: ong Viva Bicho
Aos visitantes que chegam pela primeira vez
Obrigado por sua visita a este blog. Se você chegou até aqui buscando no Google a expressão "fotos da enchente em Santa Catarina", título de um dos posts que publiquei, lamento não ter muitas imagens pra lhe mostrar. Estou em Florianópolis, onde os estragos foram bem menores que no Vale do Itajaí. Lá a situação continua dramática. Tem gente isolada, passando sede e fome, precisando de cuidados médicos.
Que tal fazer uma visita ao saite da Defesa Civil de Santa Catarina? Você vai encontrar o balanço oficial com os números mais recentes sobre a tragédia da chuva. Às 9h46 a situação era esta: 78.707 desalojados e desabrigados, 109 mortos, 19 desaparecidos confirmados e mais 1, 5 milhão de pessoas afetadas. Também estão disponíveis informações sobre contas bancárias onde você pode depositar sua doação de qualquer valor. Os catarinenses agradecem.
Chuvas em SC: Alemanha dá ajuda humanitária
Geraldo Hoffmann recebeu e me enviou a seguinte nota da Embaixada da Alemanha em Brasília:
Ajuda humanitária para vítimas das enchentes em Santa Catarina
"Brasília,28/11/2008 - O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha disponibilizou 200 mil euros para ajudar as vítimas das enchentes no sul do Brasil. A verba do Fundo de Ajuda Humanitária será aplicada na compra de alimentos,medicamentos, colchões,cobertores e água potável. Organizações de ajuda humanitária alemãs ativas na região serão responsáveis pela logística. As enchentes na região Sul do Brasil foram consideradas as piores dos últimos 50 anos pelo Governo brasileiro. O Ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Dr.Frank-Walter Steinmeier, ofereceu a ajuda alemã ao seu colega brasileiro Celso Amorim."
Sindicato dos Jornalistas pisa na bola outra vez
Fico até constrangido de citar o fato, mas ele já está circulando na internet e causa espanto. Em pleno movimento geral de solidariedade aos atingidos pela chuva, o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina resolve fazer caixa e manda cartinhas cobrando dos sócios as contribuições em atraso, invocando o estatuto da entidade. Tive acesso a uma delas (ainda não chegou a minha), recebida pelo Rogério Christofoletti, um dos atingidos em Itajaí. Sequer uma linha de referência sobre apoio aos colegas desabrigados e desalojados. Lamentável, mais uma pisada na bola da nova diretoria. O que será que estão tentando fazer? Fortalecer o Sindicato ou provocar desfiliação em massa?
Chuvas em SC: como ajudar
Os catarinenses agradecem a onda de solidariedade que vem de todo o país. As águas estão baixando, mas a situação continua dramática em diversos municípios. Há muita gente sem água potável e sem alimentos, isolada em lugares onde só se chega de barco ou helicóptero.
O balanço oficial mais recente da Defesa Civil, às 8h do dia 29/11, é este: 78.707 desalojados e desabrigados, sendo 27.410 desabrigados e 51.297 desalojados. São 105 óbitos e 19 desaparecidos confirmados e mais 1.500.000 afetados.
Doações em dinheiro podem ser feitas nas contas bancárias da Defesa Civil de Santa Catarina. Fiquem atentos, há pessoas aplicando golpes na internet. Doações de alimentos e roupas podem ser feitas à Defesa Civil ou à Cruz Vermelha em seu município.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Mulheres no ar
Ontem à noite um amigo pegou avião de Brasília pra Floripa. Certa hora, ouviu "A" comandante fulana se apresentar pelo interfone e informar que ao lado dela estava "A" co-piloto sicrana. Depois de uma pausa, a comandante acrescentou, causando risada geral:
- Agora não dá mais pra descer, já estamos no ar.
Depois informou as condições do tempo em Floripa e disse esperar que faça sol no fim de semana, pois ela é daqui e vai estar de folga.
Precisa-se de voluntários em Floripa
Repasso três recados que recebi da Lícia Brancher.
- O Corpo de Bombeiros da Trindade/Fpolis precisa de VOLUNTÁRIOS para separar donativos, tel: 48/ 3239 7100. Eles pedem qualquer horário ou tempo disponível.
- O Mesa Brasil do SESC/SC-Florianópolis está precisando de voluntários para embalar kits e cestas básicas. São toneladas de produtos para atender aos desabrigados atingidos pelas enchentes. Contato com Luciana Nascimento: 48/ 9946-4428
- A Carrera Locadora, em Florianópolis, vai "até o local para arrecadar as doações (roupas, alimentos, cobertas, enfim, qualquer ajuda é válida num momento como este), é só nos informar através do fone 0800-473333 opção 5."
Repercussão da enchente de SC na Suíça
O amigo Geraldo Hoffmann, jornalista catarinense que vive em Berna, escreveu em seu blog sobre a repercussão da enchente de Santa Catarina na mídia suíça. Ele expressa algumas opiniões contundentes. Trecho:
(...)
Eu não tocaria nesse assunto, se não viesse de Santa Catarina e não tivesse morado em Blumenau. Ouvindo o governador Luiz Henrique da Silveira e o presidente Lula culpando a mudança climática pelas enchentes, só posso imaginar o seguinte: ou eles são ignorantes ou pensam que a população é idiota. Quem conhece a história das enchentes no Vale do Itajaí (ou em outras regiões do Brasil) sabe muito bem que grande parte dessas catástrofes decorre do descaso da administração pública, que permite desmatamentos e loteamentos ilegais nas encostas, não faz nada contra o assoreamento dos rios, não realiza as obras necessárias de proteção a inundações e não tem um esquema de evacuação das regiões de risco. Isso já era assim na grande enchente que de 1983, quando Blumenau foi quase completamente destruída pelas águas, continua assim hoje e será assim daqui a cem anos, com ou sem mudança climática.
Lamentavelmente, quando ocorrem catástrofes como essas, os políticos brasileiros só têm desculpas baratas e promessas a oferecer - até a próxima catástrofe. Luiz Henrique da Silveira, que gosta de viajar à Europa, especialmente à Alemanha, a essas alturas deve conhecer muito bem o sistema de proteção contra enchentes que os alemães desenvolveram para enfrentar as inundações ao longo do Reno e do Danúbio, dois rios bem maiores do que o rio Itajaí. No alto Reno, um trecho de 350 km entre Bingen (Alemanha) e Basiléia (Suíça), há uma proteção especial para áreas ribeirinhas em que, estatisticamente, pode ocorrer uma enchente em cem anos. Também as autoridades de Blumenau conhecem esse sistema. Por que não fazem nada?
Jornalistas falam sobre a enchente em Blumenau
Os jornalistas do Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, gravaram este vídeo em que contam como foi sua experiência de cobrir a enchente e ao mesmo tempo sofrer os efeitos dela.
A beleza da irmandade
Sabe lá /
o que é não ter e ter que ter pra dar /
Sabe lá...
Esquinas, Djavan
Um amigo, professor em Natal, me contou que vai depositar na conta da Defesa Civil de Santa Catarina a remuneração de um dia de aula de tai-chi pra ajudar as vítimas da enchente. Fico comovido com o gesto porque sei o quanto ele rala pra ganhar a vida. Da mesma forma, tanta gente desprovida de recursos tem contribuído dos mais diversos pontos do Brasil e de outros países.
Neste momento de desgraça coletiva, a força da irmandade é de uma beleza indescritível. Claro, também desabrocha o lado feio do engenhoso bicho humano, capaz de premeditar golpes pra arrecadar donativos pela internet, usar barcos pra saquear casas abandonadas, administrar a reconstrução com a cupidez de quem prioriza os cifrões do turismo.
Mas quero lembrar agora é de um tipo muito especial de gente boa. Os que contribuem com desprendimento e sacrifício pra pessoas que nem mesmo conhecem. É fácil ser generoso com o chapéu dos outros. De certa forma, também chega a ser cômodo doar o que não faz falta - desocupa a tranqueira dos armários e alivia culpas. Difícil mesmo é dividir o pão, se privar de algo valioso pra ajudar desconhecidos.
Quem faz isso, dizem alguns mestres de sabedoria, tem lugar garantido no céu. Disso pouco entendo. O que sei é que essas pessoas têm minha admiração profunda.
p.s.: Pra quem deseja ajudar com as próprias mãos a resgatar as vítimas: eu ia escrever sobre a importância de equilibrar solidariedade com racionalidade, mas o Cesar Valente já disse tudo neste post do seu blog De olho na capital.